Vídeo – Deputado Jalser Renier é preso suspeito de ser mandante de sequestro de jornalista em RR

O deputado Jalser Renier Padilha na tarde de sexta-feira(1º), no seu escritório no bairro Canarinho, em Boa Vista(RR). A prisão está sendo acompanhada pela Polícia Militar e pelo Gaeco do Ministério Público Estadual. A prisão foi determinada pela juíza convocada Graciete Sotto Mayor Ribeiro.

A prisão é em decorrência da acusação de envolvimento do parlamentar no sequestro do jornalista Romano dos Anjos. Outras sete pessoas que teriam ligação com o deputado, enquanto este era presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, já foram presos por suspeita de envolvimento no caso.

A decisão da juíza foi baseada, entre outros artigos, no artigo 150 do Código Penal, que criminaliza o ato de “entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”.

A prisão é preventiva, ou seja, não tem prazo para terminar. O rito agora será o encaminhamento comunicado prisão para a Assembleia Legislativa. Os deputados deverão autorizar ou não a transferência do parlamentar para o sistema prisional.

No momento do recebimento do mandado de prisão, onde estavam presentes o delegado que preside o inquérito que investiga o sequestro de Romano dos Anjos, João Evangelista, e o promotor que comanda a investigação no Gaeco, Isaías Montanari, Jalser afirmou, mais uma vez, que trata-se de uma denúncia caluniosa e que não estariam tratando com nenhum bandido.

Saiba mais

O ex-presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (Ale-RR), deputado Jalser Renier (Solidariedade), foi apontado como suspeito de ser o mandante do sequestro e tortura do jornalista Romano dos Anjos, é o que cita trecho do inquérito assinado pelo delegado João Luiz Evangelista, responsável pela força-tarefa que investiga o caso.

O delegado enviou à Justiça uma representação criminal com trechos do inquérito e indícios das participações dos envolvidos. No documento de 44 páginas que o g1 e a Rede Amazônica tiveram acesso, João Evangelista afirma que “como mandante, a apuração identificou indícios do envolvimento do deputado estadual JALSER RENIER, Presidente da ALE/RR à época dos fatos”.

Foi na representação que o delegado identificou e pediu a prisão de policiais militares por suspeita de envolvimento no sequestro. Os PMs tinham ligação com o deputado Jalser Renier.

No documento à Justiça, João Evangelista cita que as apurações preliminares sobre o sequestro e tortura do jornalista apontaram para provável crime “motivado por vingança ou represália ao modo de atuação jornalística, tendo em vista que a vítima realizou diversos ataques e críticas ao trabalho do então presidente da Assembleia Legislativa, Jalser Renier.”

“Conforme levantamentos realizados em redes sociais, arquivos da imprensa e registros da mídia em geral, Romano dos Anjos tornou-se uma ‘pedra no sapato’ do parlamentar estadual Jalser Renier e as críticas do jornalista se acentuaram no período de setembro e outubro de 2020, em programas de rádio e tv”, diz trecho do inquérito.

O jornalista Romano dos Anjos foi sequestrado em outubro de 2020 — Foto: Reprodução

O jornalista Romano dos Anjos foi sequestrado em outubro de 2020 — Foto: Reprodução

No inquérito, o delegado afirma que Jalser Renier também liderava uma organização criminosa dentro da Assembleia Legislativa, com participação, em grande parte, de policiais militares conhecedores de técnicas policiais e de inteligência policiais. Eles eram lotados na Casa.

O nome de Jalser Renier aparece 22 vezes na representação. No trecho em que cita os indícios dos crimes de peculato, sequestro e tortura do jornalista, João Evangelista afirma:

“A apuração revelou fortes indícios de que o atentado ao jornalista ROMANO DOS ANJOS foi executado diretamente por policiais militares ligados à Assessoria Militar da ALE/RR e sob ordens do presidente da Casa à época do crime (outubro de 2020), deputado estadual JALSER RENIER.”

‘Logística e estrutura institucionalizada’

O grupo investigado ligado a Jalser Renier, segundo o delegado, atuava “revestido por uma logística e estrutura institucionalizada”

“Vislumbramos hoje, fortes indícios apontando para a existência de um grupo criminoso formado por civis e policiais militares que atuou no período de 2015 a 2021, no exercício de cargos comissionados, dentro da ALE/RR, com “objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza”, pontua outro trecho.

“Restou evidenciado que a rede criminosa instalada no seio da Casa Parlamentar Estadual possui estrutura dividida em setores distintos de atuação – inteligência/espionagem, contrainteligência, logística e segurança privada.”

Além disso, a investigação aponta que os militares investigados são suspeitos de acessarem indevidamente sistemas de informações e banco de dados da administração pública.

Procurado, o presidente da Comissão de Ética Parlamentar da Ale-RR, deputado Coronel Chagas (PRTB), informou que o inquérito que investiga o caso corre em segredo de justiça e não tem acesso ao conteúdo. disse ainda que no há nenhum documento protocolado na comissão sobre o assunto.

Chagas também afirmou que “caso ocorra alguma representação, com certeza a Comissão de Ética adotará as providências no âmbito de sua competência regimental”.

Já a Corregedoria Parlamentar da Casa, representada pelo deputado Nilson da Sindpol (Patri), informou que “tudo o que foi mostrado na imprensa não é de conhecimento oficial da Ale-RR, pelo processo correr em segredo de Justiça.”

Operação Pulitzer

No dia 16 de setembro, seis policiais militares, entre eles um coronel, e um ex-servidor da Ale-RR foram presos na operação Pulitzer por suspeita de envolvimento no sequestro do jornalista Romano dos Anjos. A ação foi executada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Roraima e a Secretaria de Segurança Pública (Sesp).

No sábado (25/09), o g1 noticiou que o delegado-geral da Polícia Civil de Roraima, Herbert Amorim Cardoso, tentou interferir nas investigações sobre o sequestro do jornalista Romano dos Anjos. A informação foi citada em trecho da representação do delegado João Luiz Evangelista.

No dia 23 de setembro, durante sessão plenária, o presidente da Ale-RR, Soldado Sampaio (PCdoB), afirmou que Jalser ameaçou o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), para que barrasse as investigações sobre o sequestro. A ameaça foi posteriormente confirmada ao g1 pelo governador. Sampaio prestou depoimento formal ao Ministério Público sobre a declaração.

Caso Romano dos Anjos

O sequestro do jornalista Romano dos Anjos, de 40 anos, ocorreu na noite do dia 26 de outubro de 2020. Ele foi levado de casa no próprio carro. O veículo foi encontrado pela polícia queimado cerca de uma hora depois.

Ele teve as mãos e pés amarrados com fita e foi encapuzado pelos suspeitos. Romano passou a noite em uma área de pasto e dormiu próximo a uma árvore na região do Bom Intento, zona Rural de Boa Vista. Na manhã do dia 27, ele começou a andar e foi encontrado por um funcionário da Roraima Energia.

O delegado Herbert Amorim, que conversou com o jornalista no trajeto do local onde foi encontrado até o Hospital Geral de Roraima (HGR), disse que depois de ter sido abandonado pelos bandidos, Romano conseguiu tirar a venda dos olhos com o braço e soltar os pés.

No HGR, ele relatou aos médicos ter sido bastante agredido com pedaços de pau.

No dia, a Polícia Civil afirmou, em coletiva à imprensa, que ele poderia ter sido vítima de integrantes de facção. No entanto, a polícia não descartou outras linhas de investigação, como motivação política ou por Romano trabalhar como jornalista de um programa policial.

Quatro dias após o sequestro, o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), foi até a Polícia Federal pedir que a instituição investigasse o crime, afirmando que o jornalista havia citado ele e um senador no depoimento à Polícia Civil.

No dia 28 de janeiro, a Polícia Federal em Roraima divulgou nota à imprensa. O pedido para instauração de inquérito “foi indeferido, não se verificando elementos que subsidiassem eventual atribuição da Polícia Federal no caso.”

Fonte: Folha BV e G1 RR

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