Poços artesianos: comuns no município, má localização pode esconder riscos à saúde e ao meio ambiente
Por Thays Cunha
Nas regiões amazônicas como Santarém, por exemplo, é tão comum a perfuração e utilização de poços artesianos que nem mesmo paramos para pensar em questões como legalidade, segurança e qualidade da água. No entanto, embora acreditemos que toda a água que é retirada debaixo da terra seja 100% limpa, infelizmente essa não é uma informação correta, pois pode acontecer de o lençol freático acessado receber contaminações e a ingestão dessa água sem os devidos cuidados então gerar sérios riscos para a saúde.
São muitas as vantagens de ter a sua própria rede de água, uma vez que a rede pública é ineficaz e sujeita a frequentes interrupções. Cavar o próprio poço significa autonomia, controle e redução de custos. Porém, uma perfuração feita de forma irresponsável pode comprometer a água, pois mesmo que o líquido se encontre límpido e sem odores ele pode estar contaminado com partículas e substâncias prejudiciais, além de comprometer os aquíferos com escassez de água.
CONTAMINAÇÕES
Pode ocorrer de a água de um poço artesiano entrar em contato com fezes de animais ou de seres humanos por conta da proximidade com criadouros e fossas. Com isso pode haver a contaminação e proliferação de parasitas, vírus e bactérias causadores de diversas doenças, algumas até mesmo graves. Entre essas principais doenças estão a cólera, amebíase, diarreia, hepatite e verminoses como a ascaridíase. Há até mesmo o risco de contaminações químicas, quando pela proximidade de postos de gasolina, esgotos, depósitos de resíduos sólidos, etc., e até mesmo por características naturais do local de extração.
Desse modo, mesmo quando se apresentar limpa e cristalina, a recomendação é a de que a água dos poços artesianos não seja usada para fins potáveis sem o devido tratamento, ou seja, não ser ingerida antes de ser purificada. Para garantir a saúde, deve-se filtrar a água, ferver ou utilizar aditivos purificadores.
MEIO AMBIENTE
Outro fator pouco conhecido em relação aos poços artesianos é a questão da sobreexplotação, que é quando se utiliza a água acima da sua capacidade de reposição no lençol freático. Caso isso aconteça pode ocorrer afundamento de terrenos, salinização, e até secagem total do aquífero.
De acordo com o Art. 96 do Código de Água Decreto Nº 24.643, de 10 de julho de 1934, “O dono de qualquer terreno poderá apropriar-se por meio de poços, galerias, etc., das águas que existam debaixo da superfície de seu prédio contanto que não prejudique aproveitamentos existentes nem derive ou desvie de seu curso natural águas públicas dominicais, públicas de uso comum ou particulares. Parágrafo único. Se o aproveitamento das águas subterrâneas de que trata este artigo prejudicar ou diminuir as águas públicas dominicais ou públicas de uso comum ou particulares, a administração competente poderá suspender as ditas obras e aproveitamentos”.
Perfurar um poço não é um trabalho demorado, podendo levar de 05 a até 20 dias, dependendo da geologia do local, tipo de subsolo, profundidade, etc. O prazo de “validade”, ou seja, o período de duração, costuma estar em torno de 40 anos.
CUIDADOS
Para evitar problemas com poços artesianos o ideal é primeiro saber se a região onde será instalado é adequada, ou seja, se não possui ou está perto de fontes de contaminação. É preciso saber também se é possível a exploração da água sem grande impacto ao lençol freático para que não haja danos ambientais e riscos de acidentes.
Por exemplo, aqui em Santarém um grande número de residências possue ao mesmo tempo fossas e poços. No entanto, deve-se tomar muito cuidado na instalação desses dois sistemas, foi a fossa pode comprometer a saúde da água do poço. Desse modo é importante que haja uma distância entre os dois sistemas, sendo a recomendação mínima a de 15 metros.
Além disso, é importante o uso consciente, pois muitos acreditam que podem utilizar a água dos poços artesianos sem nenhuma preocupação. No entanto, assim como todos os recursos naturais encontrados em nosso planeta, a água subterrânea não é inesgotável, podendo vir a faltar futuramente caso seja gasta sem parcimônia.
RG 15 / O Impacto