Artigo – O desaparecimento das livrarias no Brasil

Por Thays Cunha

Hoje em dia não conseguimos mais imaginar um mundo sem tecnologia digital. TV, celular e outros aparelhos fazem parte das nossas vidas tanto quanto os alimentos diários e se, por apenas um breve momento, ficamos desconectados enfrentamos logo a sensação de que iremos perder algo grandioso que está prestes a acontecer.

O advento da tecnologia também trouxe muitas vantagens para todos. Podemos pagar contas, solicitar um transporte e, claro, nos comunicarmos apenas utilizando os “apps” (aplicativos). São inúmeras funções novas e interessantes, no entanto alguns velhos hábitos também foram realocados para os aparelhos e telas. Por exemplo, antes disponíveis de modo fixo, nas rádios, fitas e CD’s, agora podemos ouvir nossas músicas favoritas a hora que quisermos. Podemos também assistir aos detalhes de um filme, série ou qualquer coisa repetidamente e no momento que desejarmos, sem nos preocupar com o horário, controlando o tipo, velocidade e qualidade da imagem. E do mesmo modo que essas práticas evoluíram a leitura também migrou para o meio digital, sendo possível ter uma biblioteca inteira, com milhares de exemplares, ao alcance de nossas mãos.

LIVROS SEM PAPEL

Esse novo contexto, no qual é possível acessar um livro através de qualquer dispositivo, vem se mostrando extremamente competitivo em relação à venda de livros físicos. Seja para estudo ou lazer, a disponibilidade abundante de materiais que podem ser encontrados na internet, por vezes até de graça, faz o consumidor preferir os meios digitais para a realização de suas leituras. E isso, aliado aos altos preços dos livros no país, está reduzindo o número de livrarias que podemos encontrar, causando a sensação de elas pouco a pouco estão desaparecendo.

Porém, esses não são os únicos fatores que geram queda na venda de livros. Há também o fato de o tempo disponível para atividades de leitura agora compete diretamente com o tempo gasto nas redes sociais e nos chamados “streamings”, que são plataformas que oferecem conteúdo abundante de entretenimento durante 24 horas por dia.

PÚBLICO

Assim, as livrarias precisam então disputar esse escasso público que não só é leitor com também tem condições de pagar por livros, cujos valores são alto demais para serem incluídos como itens necessários para algumas famílias. No Brasil, os índices de leitura são bastante baixos se comparados com os de outros países

 De acordo com o Centro Nacional do Livro (CNL), na França 88% da população se declara leitora e teriam lido, em média, 21 livros em um ano. Já em nosso país, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, os brasileiros leem, em média, 05 livros por ano, sendo que apenas 2,5 desses livros são lidos inteiros. O acesso aos livros é colocado como uma das causas desse déficit, pois 5% dos leitores afirmam que não leem mais por conta dos altos preços das obras.

As ofertas de livros feitas através da internet, onde são oferecidos preços mais em conta colaboram ainda mais para o fechamento das livrarias, pois editoras utilizam seus próprios sites para vender obras com desconto. Sem o custo adicional que as lojas físicas precisam para lucrar, essa opção mais barata passa a competir com as livrarias, fazendo com o que o setor sinta bastante todas essas mudanças. Com todas essas situações desfavoráveis, queda no volume de vendas e altos preços fechar as portas tem se tornado cada vez mais comum nesse meio.

Desse modo, as livrarias aos poucos estão morrendo. Pelo menos as dedicadas exclusivamente à venda de livros. Ainda é comum vermos algumas exceções, como aquelas que comercializam livros didáticos ou religiosos, porém geralmente complementam a renda com a venda de outros produtos.

SITUAÇÃO

De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),  o mercado editorial no Brasil encolheu 21% de 2006 a 2017, com perdas que somam R$ 1,4 bilhão. A situação das livrarias teria ficado pior a partir do ano de 2014, quando da crise econômica que nos afetou. Desde ano até 2018 houve redução de 27% na quantidade de livros vendidos, totalizando quase 75 milhões de exemplares a menos adquiridos. Para se ter uma ideia da curva decrescente, um dos grandes nomes do setor, a rede de livrarias Saraiva, fechou 36 das suas unidades entre março e novembro de 2020, período mais crítico da pandemia. E as grandes redes estão sentindo o tombo, imagine as pequenas, que atuam em cidades pequenas e com pouco recurso.

O livro impresso propicia lucro quando produzido em grande escala. Quanto mais unidades fabricadas, maior o lucro. Desse modo, gera-se uma bola de neve. Não é possível comprar livros porque estão caros e eles se tornam cada vez mais caros por conta da baixa oferta/procura.

Talvez esse ainda não seja o momento em que os livros serão totalmente substituídos e irão desaparecer de vez, contudo a situação é preocupante, uma vez que muito locais pelo país já não contam mais com o serviço de livrarias, e sabemos que nem todos podem ou tem acesso a compras online. Então, o livro físico ainda resistirá, só não sabemos até quando.

RG 15 / O Impacto

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