Caos na Transamazônica: Após rio invadir BR, caminhoneiros superam atoleiros
Por Diene Moura
O estado do Pará está sendo castigado com grande volume de água neste período de inverno amazônico. As principais estradas que dão acesso à região, as quais servem para escoamento de produtos agrícolas e interligam diversos municípios, se transformaram em um verdadeiro caos.
A rodovia transamazônica (BR-230) no município de Uruará, trecho entre Placas e Medicilândia, foi invadida pelo rio Uruará que transbordou e prejudicou a mobilidade no perímetro. A população que precisou se deslocar entre os dias 30 e 31 de março teve que se arriscar atravessando a pé, ficando vulnerável a ataque de animais peçonhentos ou ser levada pela força da água. Assim os moradores e/ou trabalhadores acharam mais seguro utilizarem pequenas embarcações.
Em outro trecho da região, distante alguns quilômetros, o KM 95 norte em Medicilândia também sofreu as consequências do temporal. A ponte da vicinal foi destruída parcialmente pela correnteza do afluente do rio Amazonas e trabalhadores foram obrigados a realizar outro trajeto para chegar ao seu destino.
“Ao chegar nesse travessão agora estamos retornando para trás, entrando pelo Km 100. Após este 100 km estamos fazendo o retorno. Pegamos 5 km à mais para chegar na Transamazônica. E neste Km 100 só passa moto, não passa carro, pois muitas pontes estão danificadas com a chuva”, contou um morador de Medicilância.
As intensas chuvas são apenas mais um agravante dos problemas vivenciados por trabalhadores que passam pela rodovia que corta no sentido leste-oeste a maior floresta do Brasil. Buracos e lama se formam em meio ao solo arenoso ou também conhecido como argiloso, sendo caracterizado por 70% de areia e uma menor parte de argila. Muito presente em estradas do norte e nordeste, composição principal para a formação dos ‘atoleiros’, termo popular utilizado por motoristas que enfrentam mais esse desafio após a trégua do clima chuvoso.
Trechos, principalmente aqueles que antecedem a entrada para o município de Altamira, requerem muita habilidade e paciência. Durante este período é comum testemunhar deslizamentos de veículos, carretas atolarem, caminhões e ônibus com passageiros atrasarem suas viagens, pois ficam no aguardo da sua vez de passar ou de serem resgatados por quem vive as proximidades.
Para passar dessa fase do ”rally” em terras paraenses, o uso de tratores e veículos de grande porte, bem como caminhonetes, é essencial para ajudar no fluxo do ‘trânsito’. No intuito de mostrar a realidade da região, um grupo de pessoas criou uma página nas redes sociais chamada de ”Inverno Amazônico”, canal de comunicação que leva dicas, informações e oferece serviços de resgate a quem tem data marcada para trafegar na tão temida Transamazônica.
Rodovia Transamazônica
Construída com a participação de mais de 4 mil homens, a obra denominada como ‘faraônica’ foi iniciada no Governo Médici entre os anos 60 e 70 e inaugurada em agosto de 1972. No entanto, a intenção de abrir estradas e interligar a região norte com o restante do país para alavancar a economia acabou ficando pela metade. Sua pavimentação não foi concluída, se tornando este ‘caos’ nos meses entre outubro e março, onde as chuvas são intensas.
A região povoada por tantas comunidades e municípios sentem no bolso o valor de produtos cobrados em pequenos comércios e supermercados. Os preços exorbitantes são avaliados devido os caminhões com mercadorias ficarem dias nas estradas de difícil acesso, gastos com equipamentos e prejuízos em decorrência das dificuldades oferecidas pela Transamazônica.
O Impacto