Quiosque arrombado e estrutura depredada retratam cenário de abandono na Praça do Mirante
Por Diene Moura
A Praça do Mirante é uma “arquibancada” perfeita para contemplar uma das paisagens mais deslumbrantes, o encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas. Mas embora, há alguns metros dali, a orla da cidade com uma variedade de atrativos para o lazer, cultura e entretenimento, seja a opção de milhares de santarenos e turistas, a intitulada “Fortaleza do Tapajós”, encontra-se com a infraestrutura comprometida.
Considerada um dos pontos turísticos da cidade, o local que já foi palco de shows musicais, apresentações regionais e até utilizado para a prática de danças e outras atividades físicas, atualmente os transeuntes, são um público “tímido” e “amedrontado”, que mesmo com a presença de indivíduos que ameaçam a segurança, ainda é a opção de casais de namorados; alunos que saem das escolas para apreciar o pôr do sol; adeptos de caminhadas e famílias que passeiam rapidamente pela área.
Ao subir a escada de acesso pela rua Adriano Pimentel, logo se percebe a ação de vândalos e do tempo deteriorando o espaço que possui um valor histórico e cultural para o município. O quiosque onde há alguns anos atrás era reservado para a venda de iguarias regionais, hoje, a estrutura metálica da janela onde se atendiam consumidores, apresenta uma brecha, com visíveis sinais de arrombamentos, o mesmo acontece com a grade da porta. No espaço interno do quiosque, a sujeira deixa indícios da presença de usuários de entorpecentes e as paredes todas pichadas, são determinantes para distinguir os frequentadores assíduos do ambiente.
Atualmente até as peças de artilharias, não escaparam da ação de pessoas mal intencionadas que se propuseram a realizar rabiscos feitos com as mãos desordeiramente, apenas com o intuito de prejudicar a preservação de uma história.
“O que acontece aqui é um grave problema de segurança, a quantidade de assaltos e descaso fizeram as pessoas se afastarem daqui e como não tem público, não atrai mais pessoas como antes. Se olhar na infraestrutura daqui totalmente abandonada, pichada, às vezes sem iluminação, e as pessoas acabam se afastando disso, tem medo de serem assaltadas. Quem mais vem de dia são as pessoas que estão passando um tempo rapidamente, estudante e tudo mais”, relatou um jovem que preferiu não se identificar.
O banheiro exala um odor sentido de longe, há ainda a parte estrutural com portas quebradas e o vaso sanitário, bem como a pia até então existentes, foram totalmente destruídos. No chão, vestígios de dejetos fecais espalhados até pelas paredes. Um cenário desolador, como destaca um outro frequentador que também preferiu não revelar sua identidade.
“Não tem como ficar como antigamente, lembro que tinha um quiosque aqui, que as pessoas vinham realmente para se encontrar aqui. Era um lugar bonito, mas além do abandono, tá sujo, tem consumo de drogas, não tem nenhum tipo de segurança, não tem nem policial em rondas, como antigamente, por isso acho que isso dificilmente vai mudar. Acho que isso faz 1 ano praticamente, a última vez que tinha movimento aqui que eu lembro, foi um ano atrás. Uma vista tão bonita, para um local tão esquecido, realmente”, destacou.
Praça do Mirante vs Fortaleza do Tapajós: Valor histórico
O destino turístico recebeu a última revitalização em 2018, na ocasião estava ocorrendo as comemorações de aniversário da cidade. Na época, aconteceu a oficialização do novo nome ao espaço, que por solicitação da Prefeitura Municipal através do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTap), recebeu a denominação de “Praça Fortaleza do Tapajós”. A nova titulação representa momentos históricos da cidade, como explica a Professora e Historiadora Terezinha Amorim.
“A Fortaleza do Tapajós foi uma das quatro fortalezas idealizadas pelo governo português no final do século 17, como forma de manter a segurança e fortificação da região contra as constantes invasões de estrangeiros. As 4 fortalezas do baru em Almeirim, Fortaleza de bauxis em Óbidos, a Fortaleza do Rio Negro, onde é hoje Manaus e a Fortaleza do Tapajós, simbolizava na verdade uma ação política concreta de fortificação da região. Então, desta forma elas eram idealizadas para serem construídas com o material muito resistente, principalmente pedra e para garantir a visibilidade dos povos invasores, por isso que a Fortaleza do Tapajós foi construída onde hoje nós chamamos de praça do Mirante, situada no lugar mais alto da cidade “, iniciou.
A historiadora conta os motivos para os quais, o local foi escolhido para se construir a chamada Fortaleza, onde possuía quatro casas com cozinha, capela, sacristia, quartel, calabouço e casa de pólvora. “Tinha toda uma estrutura para garantir como nós falamos , essa seguridade desta região. Porém, quando o governador Antônio Albuquerque Coelho veio para a região do alto e baixo Amazonas, percebeu que mesmo sem estar concluída a Fortaleza do Tapajós precisava ser inaugurada para começar a atender, a necessidade de proteção, de militarização da região”.
Tereza Amorim revela ainda que na época vieram mais de 20 canhões para serem colocados na fortaleza e alguns deles foram levados, inclusive para Macapá, Óbidos, dentre outros locais. “Esta fortaleza ainda em meados do século 17 e 18, começou a apresentar problemas de estrutura. Não comportava, foram feitas duas reformas, mas a necessidade não atendia e ela ficou praticamente inutilizada. Quando vieram na verdade, as tropas legais que vieram para combater os Cabanos e também contra a invasão dos índios Mundurukus que vinham constantemente para a região e a gente tem registro de duas invasões que aconteceram e Fortaleza do Tapajós, serviu para este fim, mas para combater os invasores, os povos estrangeiros realmente não conseguiu, mesmo porque não foi concluída e por que não foram colocados os canhões como peças de defesas, foram até removidos”.
A historiadora por fim lamentou a depredação da praça e ressaltou a importância de manter preservado o local.
“Com o propósito de resgatar essa página importante da história de Santarém, que eu na época, como Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTap), enviamos um projeto para Secretaria de Cultura da Prefeitura solicitando que houvesse uma reestruturação, uma revitalização do local, que pudesse resgatar o valor histórico e fortalecer na população, o sentimento de pertença. De que aquele local foi importante, servia como um propósito tanto militar, como de segurança, como fortificação e esse valor histórico precisava ser conhecido. Infelizmente, este local de um valor tão importante para a região do Baixo Amazonas, como um todo está em completo estado de abandono, e isso impede com que a história de Santarém venha ser conhecida, preservada. Eu considero um desrespeito com tudo aquilo que retrata esses capítulos importantes para a história de Santarém. A praça de Fortaleza teve e tem um valor muito grande, isto precisa ser visto com responsabilidade e com compromisso, como forma de preservar um capítulo importante da nossa história”, finalizou.
Com relação à manutenção da praça, entramos em contato com três secretarias municipais para solicitar um posicionamento à respeito. A Secretaria de Agricultura e Pesca (Semap) nos informou que sua competência é relacionada à podagem, limpeza e roçagem do local, já a Secretaria Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos (Semurb) informou que a responsabilidade é da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), contudo, até o fechamento dessa reportagem não obtivemos retorno.
O Impacto
Além dessa praça, estão abandonados também: a praça do Gigi, o parque da cidade, o bosque da Vera paz, aquele espaço da orla em frente ao mercado modelo… Me parece que o prefeito e seus orelhas, não se importam com as obras feitas em outras gestões, acontece que o dinheiro investido não é do prefeito ou prefeita, é público é do povo. Criem vergonha na cara e mandem revitalizar tudo aquilo que é público.
E aquela velha prática da qual se valem muitos prefeitos, ou seja, se não foram obras suas ou de correligionários, então que se quebrem. O atual gestor e sua equipe priorizam suas obras, e neste e em outros casos, se demonstrarem algum interesse, a solução ficará dependendo do já famoso “se der” ou se a imprensa e a população pressionarem.
É mais um equipamento público abandonado pelo governo municipal que se soma a praça do parque e antiga UBS Aparecida Caranazal.