Exclusivo – PMs são acusados de tortura e de ficarem com 16 kg de ouro roubado

Um roubo de 16 kg de ouro avaliado em mais de 4,5 milhões de reais está cercado de mistérios. Até a publicação desta reportagem, apesar de identificados suspeitos, o ouro não havia sido localizado. Acrescenta-se a trama, possíveis crimes praticados por policiais militares, denunciado por um dos suspeitos preso no estado do Amapá.

Conforme documentos sigilosos obtidos com exclusividade pelo O Impacto, 4 pessoas foram indiciadas suspeitas de participação no crime que aconteceu na manhã do dia 12 de maio, no quilometro 507 da Rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), no município de Trairão.

São eles: Pablo Henrique Mendonça Alves, 24 anos, morador de Itaituba; Rodrigo Dias Reis, 23 anos; Ramir Ramon Souza Silva, 20 anos; e Renato Garcia Dias Pinto, 20 anos. Os três disseram à autoridade policial que residem em Santarém. A pedido do delegado do caso, eles chegaram a ser presos temporariamente.

Pablo e Rodrigo foram presos no município de Itaituba. Ramir e Renato foram capturados no dia 31 de maio, pela Polícia Civil do Amapá, no município de Oiapoque.

Em seu depoimento no Amapá, Ramir Ramon acusou policiais militares de tortura e de terem ficado com o ouro oriundo do assalto. Afirmou que não teria participado do crime, apenas disponibilizado os carros em razão de ameaças e coação.

O depoimento

À autoridade policial do Amapá, Ramir Ramon disse que trabalhou no transporte de ouro, chegando a fazer cerca de 10 viagens. Na última viagem, em março, foi até São Paulo, de onde retornou de avião, desembarcando em Santarém.

Quando chegou, ligou para seu amigo Renato para ir buscá-lo. Em determinado momento, saindo de carro do aeroporto de Santarém foram parados por uma caminhonete com 4 homens dentro.

Então teria aberto o vidro do carro e perguntado o que queriam, sendo que um dos homens perguntou quem seria o Ramir. Essa pessoa, com uma arma na cintura, teria solicitado que entrasse na caminhonete.

O motorista então começou a dizer que sabia o que Ramir fazia, onde andava, que conhecia os parentes dele e perguntou se estava carregando alguma mercadoria. Ramir respondeu que não. Se sentido intimidado e pressionado sobre o que fazia, acabou dizendo que trabalhava transportando ouro.

Neste momento, o homem dirigia a caminhonete disse que pretendia roubar o ouro durante o transporte e que contava com a participação de Ramir, utilizando tom de ameaça, e que não era para contar nada, nem procurar a polícia, e que o procuraria no momento certo.

No final de abril, Ramir estava em Santarém quando foi novamente abordado pelo motorista da caminhonete, que entregou 2 celulares J5, dizendo que era para manter carregado, pois entrariam em contato. Sendo que a pessoa mandou entregar o outro celular para Renato.

Depois de algum tempo recebeu ligação do homem que disse para Ramir dar um jeito e descer com um carro para o distrito do Caracol e o deixar estacionado perto da comunidade do Aruri, pois ele queria usar o veículo.

Esta solicitação também teria sido feita para Renato. Os dois então foram até o local, levando dois carros. Ramir levou o veículo Fiat Uno, de cor branca, que havia alugado de um amigo e Renato levou o veículo Voyage que também era alugado em nome de sua mãe, pois ele não tem habilitação. Após deixarem os carros no local, receberam uma ligação dizendo que era para irem buscar o carro no outro dia, às 6h.

Conforme a orientação, os dois foram buscar e perceberam que o ouro estava dentro do veículo. Desesperado, teriam jogado o pacote com o ouro fora, em uma curva de um ramal, sendo que no caminho passaram por uma viatura da Polícia Militar, que fez o retorno e voltou atrás de Ramir e Renato.

Ainda de acordo com Ramir, os militares realizaram a abordagem no distrito de Caracol, onde foram algemados e perguntados sobre o ouro.

Os dois então foram conduzidos a um local, sendo agredidos no trajeto pelos policiais, que perguntavam sobre o ouro. Ramir acrescenta que foram torturados até dizerem onde estava o ouro. Posteriormente, Renato levou os policiais até o local, onde teriam achado o ouro e os policiais ficaram com ele.

Relata Ramir que depois disso, foram liberados, recebendo o aviso que era para sumirem com o carro, “tacar” fogo no carro.

Para a Polícia Civil do Amapá, Ramir disse não saber dizer quem foram os autores do roubo, e que em razão da prisão de Pablo e Rodrigo, ele e Renato resolveram ir embora para o estado do Amapá.

O roubo

O transporte do ouro estava sendo realizado em um veículo alugado, dirigido por um Sargento Bombeiro Militar lotado no 7º GBM, em Itaituba.

Ele disse em depoimento que frequentemente prestava serviço de transporte para Aliança Segurança e Transporte. Sendo que saiu de Itaituba com a carga na madrugada do dia 12, seguindo viagem, quando por volta de 6h20 parou no município de Trairão para tomar café e depois seguiu viagem.

Quando por volta de 7h30, próximo à comunidade do Aruri, observou a presença estranha de dois veículos, um da marca/modelo Fiat Uno, de cor branca, modelo Vivace e um Volkswagen Voyage, de cor prata. Em determinado momento notou que o VOYAGE abriu distância, ficando apenas o UNO o seguindo. Aproximadamente 2 quilômetros depois viu um galho jogado na pista, o qual tentou desviar, mas sentiu ter passado em cima de algo, que teria furado o pneu dianteiro direito. Conseguindo chegar num local descampado para poder estacionar e trocar o pneu, estacionou e tirou o estepe, chave de roda e macaco e quando começou a suspender o carro foi abordado por duas pessoas que o amordaçaram, amarram suas mãos e tomaram sua arma que estava na cintura.

Segundo a vítima, pôde ouvir que havia pelo menos mais uma terceira pessoa, que foi direto no local onde a carga estava escondida dentro do carro. Após pegarem a carga, o jogaram no banco traseiro do Voyage e seguiram até um ramal a aproximadamente 5 km do local do roubo.

Chegando no local, o tiraram do carro e arrastaram a aproximadamente 30 metros do carro, onde amarraram seus pés e mandaram que ajoelhasse e levou um chute nas costas que o fez cair no chão e um dos assaltantes disse que ele saísse somente às 6h da tarde. Esperou os assaltantes saírem, conseguiu se desvencilhar das amarras e caminhou até a rodovia, onde conseguiu carona até onde ocorreu o assalto.

Nesse momento pôde ver o Uno branco que o seguiu voltando sentido Itaituba.

Chegando à comunidade do Aruri pediu o telefone de um popular e ligou para sua esposa pedindo que avisasse os responsáveis da empresa. Também foi acionado o Destacamento da Polícia Militar de Moraes de Almeida, onde foram repassadas as características dos veículos e dos assaltantes.

Após esse contato, passou mais de 1 hora para a chegada das guarnições da PM, disse a vítima, onde solicitaram que eles os levassem até o ramal.

Ainda de acordo com a vítima, os militares começaram a indagar com desconfiança. Após isto chegaram os demais funcionários responsáveis pela logística e foram novamente no local do incidente e seguiram para Moraes de Almeida, onde a guarnição local continuou exalando desconfiança em relação à vítima.

Por Baía

O Impacto

Foto: Ilustrativa

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