Denúncia: Cucurunã vira paraíso dos detentos

Comentários não faltam a respeito da incompetência da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará, relacionada aos comandos dos presídios paraenses. Em Santarém, no Oeste do Pará, já virou piada a fuga de detentos. “Qualquer um pode fugir a qualquer hora daqui de dentro e só querer”, diz um detento lá de dentro da Penitenciária Silvio Hal de Moura, por telefone.

Posts de fotos de churrascadas no facebook, exibição de dinheiro, tráfico, celulares, fugas inexplicáveis, assassinatos, participação em programas de rádio, enfim, que os detentos podem fazer tudo isso sem serem incomodados todos sabem disso. Agora, o que não sabemos é o porquê de tantas vantagens e regalias oferecidas aos presos, se eles estão ali justamente cumprindo penas por terem praticado crimes.

Somente no ano passado foram registradas mais de vinte fugas. Alguns fugitivos foram recapturados, mas a maioria continua solta. Um contato através de um telefone celular com um detento confirma o fato: ainda hoje existem celulares dentro da Penitenciária. “Quase todo mundo tem celular. Na revista, eles levam, mas depois a gente consegue de novo”, diz um rapaz que está preso, mais ou menos dois anos, e afirma que nunca fugiu porque quer terminar de cumprir sua pena pra não ter mais problemas aqui fora. Mas aponta uma espécie de autogestão dos presos no sistema prisional, com ramificações de presídios até da capital amazonense, induzindo que ali seria como “como a casa da mãe Joana”.

As reclamações deles continuam as mesmas, celas lotadas, falta higiene, remédios, falta tudo! Só não faltam not books, TV, dinheiro, droga, bebidas e celulares. Diga-se de passagem que não são todos que tem acesso a essas regalias. “É só pra quem pode ´mermão´”, dispara o nosso informante que é bom dizer que tivemos esse contato através de um ex-presidiário, que ate hoje mantém contato com seus “chegados” lá dentro. “Todo mundo quer cumprir pena aqui em Santarém, é muito fácil”, apesar do relatório da OAB Santarém afirmar que os detentos cumprem pena em “condições sub-humanas”.

Condições estas que devem perdurar por não se sabe quanto tempo mais. Talvez até que a Procuradoria Jurídica do Município  se mova nem que seja pra cobrar da SUSIPE, do Governo do Estado, para que esse cenário seja outro. E a SUSIPE por sua vez, coloque gente na direção desse presídio por competência e não para preencher cargos políticos.

Outra situação são as numerosas fugas de detentos e em quase todas as “revistas” são encontradas armas de fogo e armas brancas nas celas. Lembrando, ainda, que até túneis já foram construídos, além da grave denúncia de que existe alguém no sistema facilitando as fugas, a entradas de objetos e produtos não permitidos nas celas. Outra grave denúncia é de que vários detentos estão saindo com alvará de soltura sem que a Justiça tenha expedido. Dizem que um ex-vice-diretor, que esteve interinamente na direção do presídio, teria recebido uma chácara de presente de um detento a troco não se sabe de que.

SAÍDA DE DETENTO PARA A MORTE: Junto com as centenas de ratos e insetos, doenças de pele, HIV, tuberculose e outras doenças, crime ambiental devido o esgoto desaguar no lago do Juá, os detentos convivem, também, com a fácil possibilidade de ser “pedido”, no linguajar deles. Isso quer dizer que a qualquer momento alguém pode pedir a morte do outro, deixando escapar que José Augusto dos Reis Torres “Andrezinho”, o detento que foi assassinado no dia 17 de dezembro de 2013, quando saía da Penitenciária, por dois homens que estavam à sua espera. Segundo uma fonte de dentro da Penitenciária, “Andrezinho” não recebeu autorização da Justiça para sair da Penitenciária – Ele foi liberado por alguém de dentro do presídio – já estava “pedido”. Essa morte ainda tem que ser investigada pela Justiça.

Verdades ou não, a nova diretora do Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura, a assistente social Maria Lourdes Barradas, que é servidora da Susipe há 20 anos, afirma que desconhece tais atitudes. Aliás, é fácil supor que desconheça tudo no se refere à penitenciária de Santarém, mesmo tendo recebido o tal relatório da OAB, que foi encaminhado, também, ao governador do Pará, Simão Jatene, e demais órgãos relacionados à segurança pública.

O Ministério Público, que tem por lei a obrigação de fiscalizar os presídios, também não o faz, deixando aos presos para que um cuide do outro. O Tribunal de Justiça não se deu a responsabilidade de cumprir a lei no que diz respeito ao Juiz que deve visitar mensalmente os presídios. Qual foi a última vez que um Juiz visitou a cadeia? Uma das maiores reclamações são as penas vencidas também.

Por outro lado, o abuso de autoridade policial também se tornou comum. É muita gente entrando na cadeia torturada e agredida pela Polícia na captura e a Corregedoria da Polícia age de forma tão lenta que os casos vão se distanciando no tempo e no espaço. E acabam no esquecimento por falta de paciência.

Paciência esta que a sociedade não aceita mais. A farra continua explícita dentro da penitenciária em Santarém, com presos fazendo a mesma coisa que faziam antes, se drogando, bebendo, participando abertamente de programas de rádio. Enquanto isso, a população esta refém de todo esse abuso das autoridades e dos bandidos.

Por: Gerciene Belo/Freelancer