Ribeirinhos entregam carta denúncia ao Ministério Público Federal

Complexo Hidrelétrico Tapajós
Complexo Hidrelétrico Tapajós

Revoltados com o possível início das obras de construção da Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Município de Itaituba, Oeste do Pará, moradores de comunidades tradicionais e indígenas voltaram a pedir providências junto ao Ministério Público Federal (MPF). Para resistir e denunciar a situação vivida na região, comunidades tradicionais e indígenas, movimentos sociais, sindicatos e entidades se reuniram em Itaituba, às vésperas do Dia Internacional de Luta contra as Barragens, celebrado em 14 de março.

Como resultado do encontro, na última segunda-feira, 17, as organizações entregaram uma carta denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) em Santarém. Entre as reivindicações está a realização de consulta prévia, livre e informada, prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas não aplicada no contexto de construção das barragens.

As águas dos rios Tapajós e Jamanxim estão na mira de projetos hidrelétricos do governo federal e de grandes empresas. O chamado “Complexo Hidrelétrico Tapajós” prevê a construção de sete usinas ao longo dos dois rios, no Oeste do Pará, o que para a Organização Não-Governamental (ONG) Terra de Direito, deve impactar diretamente 32 comunidades tradicionais, entre quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, extrativistas e cerca de dois mil quilômetros de território indígena, principalmente da etnia Munduruku.

Para iniciar o processo de participação, a carta solicita uma audiência pública aberta a toda população da região, com a presença de representantes dos governos municipal, estadual e federal, ainda neste semestre, em Itaituba. O anseio das comunidades e organizações é de que não se repitam as inúmeras violações de direitos humanos em curso na construção das usinas de Belo Monte do Rio Madeira.

Veja a carta na íntegra:

“Itaituba, 13 de março de 2014

Ao Ministério Público Federal – Estado do Pará

Nós movimentos sociais, sindicatos e organizações abaixo assinados, reunidos em decorrência do Dia Internacional de Luta contra as Barragens, celebrado no dia 14 de março, vimos, por meio deste documento, denunciar, as violações de direitos humanos que estão ocorrendo na região em decorrência do projeto de “desenvolvimento”, que está sendo implantado pelo Estado brasileiro e empresas multinacionais. Para essa região, rica em recursos naturais, estão em curso projetos que violam os direitos humanos das populações locais, como hidrelétricas, construção de portos para a consolidação do agronegócio e mineração.

Muitas dessas violações já estão sendo sentidas na pele pelas comunidades mais próximas a esses empreendimentos e no município de Itaituba, sem sequer termos sido consultados sobre a implementação desses empreendimentos. Assim, denunciamos:

A ofensa aos princípios democráticos e ao direito humano à informação e participação, à medida que esses projetos estão em curso sem qualquer diálogo participativo do Estado Brasileiro com as comunidades da região; A violação do direito humano ao meio ambiente equilibrado e à proteção da biodiversidade com a redução das unidades de conservação; A violação do direito de Consulta Prévia, Livre e Informada dos povos indígenas e comunidades tradicionais; Violação do direito ao território, pois muitas empresas entram em nossas comunidades sem o consentimento dos moradores; O agravamento dos conflitos internos e do conviver pacifico nas comunidades a partir da entrada de pessoas contratadas por empresas responsáveis pela implantação dos projetos; de um lado a omissão do Estado Brasileiro que, embora tenha ciência do que vem ocorrendo em nossa região, não nos dá voz, e por outro lado, a truculência com que age para cumprir cronograma de execução dos projetos, se utilizando da Força Nacional de Operações espaciais para inibir e amedrontar o povo da nossa região.

Diante disso, e por temermos e não querermos que aconteça na região oeste do Pará o que vem ocorrendo na usina de Belo Monte e usinas do Rio Madeira, pedimos ao Ministério Público Federal que denuncie as violações de direitos humanos que já estão ocorrendo na região e exigimos do Estado Brasileiro o direito de sermos ouvidos e respeitados, exigimos o direito à consulta livre prévia e informada.

Nesse sentido, nós, movimentos sociais, sindicatos e organizações abaixo assinados solicitamos uma audiência pública em conjunto com o Ministério Público Federal com a participação de toda população da região e com a presença dos governos Municipal, Estadual e Federal”.

Fonte: RG 15/O Impacto

3 comentários em “Ribeirinhos entregam carta denúncia ao Ministério Público Federal

  • 24 de março de 2014 em 10:11
    Permalink

    Meu caro MARLON LIRA DE SOUSA: Concordo com quase tudo que vc falou: Mas gostaria de tecer um comentário: Porque esses empreendimentos não são feitos no litoral de Cabo Frio e arraial do Cabo/RJ com energia eólica? Caso fosse feito isso não se alagaria tanta terra de não índio, agricultores que tiram seu sustento da terra de verdade. É bom refletirmos sobre isso!Moro no Rio de Janeiro, porém conheço muito bem a Região Norte como todo e das dificuldades que representa não ter energia.
    Um grande abraço a todos da Pérola do Tapajós.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *