MILTON CORRÊA
Trabalho acadêmico de conclusão de curso. A nota desse trabalho foi excelente. É um trabalho de conclusão do curso de pós-graduação em Jornalismo Científico
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Curso de pós-graduação lato sensu em Jornalismo Científico
PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Reportagem Especial (com enfoque científico)
A RELAÇÃO DO IGARAPÉ URUMARI E SANTARÉM
Santarém tem no seu entorno um conjunto de micro bacias hidrográficas, formada por inúmeros igarapés, que deságuam nos rios Amazonas e Tapajós. Num período não muito distante, todo esse manancial foi usadopelas populações mais próximas, que utilizavam suas águas para a lavagem de roupa, banho e até para fazer alimentos. Hoje, esses igarapés, na sua maioria, estão assoreados e suas águas poluídas, impraticáveis para o uso humano. Um crime que se mantémimpune, por não se saber ao certo quem ou quais são os verdadeiros criminosos, que desmataram as nascentes, provocando o assoreamento e jogando objetos poluidores dentro dos leitos.
O igarapé Urumari é um desses mananciais que ao longo do tempo vem sendo vítima da ação depredadora de inescrupulosos.
Desde 2008 que a questão vem sendo denunciadacom mais intensidadepara a sociedade. Tanto que a partir do requerimento apresentado na Câmara de Santarém, no inicio da legislatura do ano citado, pelo vereador Valdir Matias Junior, então líder do Partido Verde, membros da Comissão Permanente deAgricultura, Pecuária, Meio Ambiente, Obras Públicas, Terras e Bens Patrimoniais, do Legislativo, estiveram em março de 2008, visitando in locoo Igarapé. Naquela oportunidade foram diagnosticadas as agressões ambientais cometidos contra oigarapéUrumari, entre eles: comprometimento da nascente pela ausência da mata ciliar; aterramento da área do manancial por uma empresa particular, localizada na esquina da Avenida Moaçara, com a travessa Dom Frederico Costa; quantidade significativa de lixo no leito e nas margens do igarapé, bem como presença de animais mortos em estado de decomposição; assoreamento avançado, em diversas áreas do igarapé; presença de serrarias, que acumulam seus resíduos (serragem), às margens do igarapé; criação de pequenos animais em diversas residências;grande quantidade de entulho, próximo a ponte da travessa Dom Frederico Costa, que serve de passagem para pedestres e veículos, sobre o igarapé; áreas desmatadas nas margens do igarapé; galerias pluviais que têm contribuído visivelmente para o assoreamento.
A partir deste diagnóstico e de outras ações detectadas ao longo do tempo, sem nenhuma ação efetiva do poder público, a situação do igarapé Urumari pode ser descrita como crítica, necessitando de ações urgentes para contornar os problemas vividos pelo manancial. É fundamental o comprometimento do Poder Público Municipal na sobrevivência do igarapé, pois tal situação se deve em sua maior parte pela ausência dos órgãos ambientais governamentais, deixando que os impactos ambientais chegassem ao atual estágio.
A relação do igarapé Urumari com a cidade de Santarém, principalmente nas décadas de 1970/1980, era de perfeita sintonia eutilidade. Famílias vindas das localidades de várzea (interior do município), pressionadaspelas grandes cheias do rio Amazonas, no período de janeiro a julho, o que ocorre ainda hoje, formaram povoações nas regiões periféricas da cidade e posteriormente transformadas em bairros, sem infraestrutura e principalmente sem água potável para a utilidade doméstica, para o consumo e na confecção de alimentos, serviam-se do igarapé Urumari. Assim serviam-se dos mananciais como o igarapé Urumari, para suas necessidades diárias: banhos coletivos e para lavagem de roupas.
Segundo Diego Ramos, em artigo acadêmico denominado Proteção Ambiental no Igarapé do Urumari, Município de Santarém, Pará, Brasil, atualmente cerca de 30 milpessoas vivem no entorno do igarapé, numa margem de 100 metrosde seu curso normal.
Entretanto, o IgarapéUrumari nos últimos anos vem sendo impactado de forma intensa e violenta, seja pelafalta de informação e deplanejamento urbano, trazendo como consequência a poluição, a contaminação, desmatamento e assoreamento, males que assolam e degradam o ecossistema. Tal situação por si só, exige políticas ambientais dos órgãos competentes e do Poder Público para minimizar os impactos decorrentes da ação humana e assim preservar o que ainda resta deste manancial, tão relevante para a sobrevivência das espécies.
Várias ações nocivas podem ser identificadas no igarapé Urumari, como situações de poluição e de degradação ambiental, entre elas:
- Nascentes localizadas em terras particulares, com a inexistência da mata ciliar, área mais frágil do igarapé.
- Destruição de quase toda a mata ciliar, por pessoas que invadiram olocal e construíram suas casas próximo às margens do igarapé, para fins de moradia e/ou atividade econômica, em total desrespeito aos limites de preservação da mata.
- Atividades econômicas de serraria ao longo do curso do Urumari sem que medidas de segurança ao meio ambiente tenham sido tomadas, o que se concretiza as vistas de todos, sem que os agressores sejam incomodados pelos órgãos de competência ambiental.
- Assoreamento decorrente da obra de asfaltamento da Rodovia Santarém-Curuá-Una, na altura da ponte do bairro Urumari, onde absurdamente não foram respeitadas regras de engenharia para evitar o carreamento de terra da obra para o curso d’água.
- Presença constante de lixo doméstico em todo o leito do igarapé.
- Inexistência de rede de esgoto doméstico e industrial que resultam no direcionamento do esgoto para o igarapé em vista dos desnivelamentos de terrenos
- Rede de esgoto na rodovia Santarém-Curuá-Una direcionado ao leito do igarapé sem qualquer tratamento prévio;
- Construção de moradias em que o quintal é o próprio leito do igarapé, alterando seu curso natural para fins de lazer, conforme identificado nos estudos da bióloga Silvia Corrêa, que publicou artigo denominado “Impactos Perceptíveis ao Meio Ambiente: Um olhar para o Igarapé Urumari”.
Silvia considera que há necessidade de ação urgente, no sentido de fazer valer a legislação que define a área de proteção permanente dos cursos d’água.