Falso cardeal conduz oração em igreja de São Paulo
Com forte sotaque alemão, um novo cardeal estaria circulando por paróquias paulistanas, apresentando-se como funcionário “de alto escalão” do Vaticano e dizendo-se “arcebispo nomeado de São Paulo”. De acordo com a Arquidiocese de São Paulo, não passa de uma fraude.
Trajando túnica e estola, Wolfgang Schuler é um senhor com cerca de 70 anos. Entre outras igrejas, foi visto na Paróquia São Paulo da Cruz, a Igreja do Calvário, no bairro de Pinheiros, zona oeste. Segundo testemunhas, conduziu uma oração – mas não celebrou missa. Chegou a escrever dedicatórias em livros católicos de fiéis, assinando como “arcebispo de São Paulo”. Não pede dinheiro. Diz que foi nomeado pelo Vaticano para “investigar irregularidades no clero”.
Essa movimentação causou estranheza e preocupação ao arcebispo de São Paulo, o cardeal d. Odilo Pedro Scherer. Como alerta, ele enviou carta a cada uma das paróquias sob sua circunscrição, informando a existência desse falso religioso e pedindo “que não se dê publicidade a este fato, antes que a ação da polícia possa fazer a sua parte”.
O Estado teve acesso à íntegra do documento. “Ele já se apresentou, em meados de outubro, na Diocese de Mogi das Cruzes, como ‘monge cartuxo’; depois se apresentou aqui em São Paulo, como ‘visitador apostólico’ de certa abadia do interior do Estado… E usou a falsa identidade de ‘bispo de Osnabrück, Alemanha, d. Franz-Josef Bode’, assinando com esse nome. Essa diocese existe e o seu bispo, de fato, tem esse nome; mas a foto do bispo é bem outra”, alerta Scherer.
Na carta, o cardeal-arcebispo de São Paulo também lembra da passagem do falsário por Salvador, sob o nome de André Von Hohenzollern. Lá sua ficha é extensa. Ele chegou a celebrar missas e a se hospedar em mosteiros da capital baiana, apresentando-se como arcebispo polonês. Na primeira vez em que foi desmascarado, em 2004, Schuler foi extraditado para a Alemanha. Retornou à Bahia em 2007, quando chegou a tomar café da manhã com as irmãs do Colégio Sacramentinas. Em agosto de 2010 foi detido pela segunda vez.
O Estado solicitou entrevista com d. Odilo Scherer sobre o caso, mas a Arquidiocese prefere tratar o caso internamente. Uma funcionária da Igreja do Calvário confirmou que o falso religioso esteve lá – mas o pároco, padre Rogério de Lima Mendes não autorizou que ninguém comentasse o assunto. No documento que fez circular na arquidiocese, o arcebispo pede a quem se deparar com Schuler que informe “imediatamente” a polícia. Também deixa à disposição o telefone da Assessoria Jurídica da Mitra: (11) 3660-3700.
Falso padre. Em 2009, o Estado denunciou outro falsário religioso. Marcos Rodrigues Fontana era visto com frequência no Cemitério do Araçá, na zona oeste de São Paulo, cobrando de R$ 50 a R$ 200 para realizar o rito das exéquias – oração celebrada em velórios católicos. No último Dia de Finados, de acordo com relatos de testemunhas, Fontana voltou à cena, rezando em troca de dinheiro no mesmo cemitério.
Fonte: Estadão