Torcedores denunciam falência do futebol santareno
Ainda repercute em Santarém a eliminação precoce dos times do São Francisco Futebol Clube e do Tapajós Futebol Clube, no Campeonato Paraense deste ano. Na tarde do último domingo, 12, o time do São Francisco passou pelo maior vexame dos seus 85 anos de história, quando foi derrotado pelo placar de 9 a 0, pelo Paysandu, no Estádio Leônidas Sodré de Castro, a Curuzú, em Belém do Pará.
Ainda na tarde de domingo, o time do Tapajós foi derrotado pelo placar de 3 a 2 pelo Castanhal, o lanterna do campeonato, em pleno Estádio Colosso do Tapajós, em Santarém. A derrota precoce dos times santarenos levou inúmeros torcedores a chamar os jogadores de mercenários.
Para os torcedores, os jogadores, principalmente do São Francisco, disputaram a partida e o campeonato desde o início pensando apenas em ganhar dinheiro e não por amor ao ‘manto azulino’. A derrota meteórica para o Paysandu e o fato do time ter passado de líder do grupo A1, para desclassificado, na 5ª e última rodada do returno do Campeonato Paraense, chocou os torcedores santarenos. A derrota deixou o Leão do Tapajós fora da semifinal, com 7 pontos e em 3ª lugar no grupo A1.
Mesmo amargando uma crise com clubes que disputam as competições atuais, os áureos tempos do futebol santareno foram lembrados pelos torcedores, principalmente o Campeonato Brasileiro da Série D, do ano de 2009 conquistado pelo São Raimundo Esporte Clube. De lá pra cá, o Pantera declinou no futebol, onde não conseguiu mais acesso para a Elite do Parazão e continua no ostracismo, na Segundo Divisão do Campeonato Paraense.
MERCENÁRIOS: “Eu vejo que hoje está sendo mal administrado o futebol santareno. Antigamente a gente tinha jogadores, mas não tinha estádio. Hoje, temos estádio, mas não temos jogadores. Hoje, temos mercenários, porque antigamente os jogadores jogavam por amor à camisa. Eles só jogam se for por dinheiro e, os dirigentes ainda trazem jogadores de fora, que são pernas de pau. Acho que nem bola de gude eles nunca jogaram. O pessoal daqui é besta e parece que nunca viram jogador de futebol, porque já tivemos tantos craques no passado. Hoje, só tem aquele pessoal que sai atrás de dinheiro, sem mostrar futebol”, desabafa o empresário Herbert Farias, o “Cacheado”, proprietário da Garapeira Ypiranga, considerado o mais tradicional ponto de encontro das famílias santarenas.
Para ele, enquanto permanecer o comando da Federação Paraense de Futebol (FPF), que faz o regulamento do Campeonato, com o intuito de dar Remo e Paysandu disputando as finais, os times de Santarém não vão conseguir nada. “Eu sempre digo que o São Raimundo, o São Francisco e outros clubes da cidade vão trabalhar só para a Federação, porque não trazem nada pra Santarém. O que foi que já trouxeram? Se trazem, a gente não vê”, questiona Herbert farias.
Ele aponta que os times contratam jogadores e não tem retorno. “O jogador adoece, bate isso, bate aquilo e quando vai jogar não serve para nada. Tão vindo só ganhar dinheiro dos clubes. Se tivessem diretores que entendessem de futebol, os times santarenos voltariam a brilhar em competições importantes. Quem não entende futebol, não adianta se meter”, diz.
Cacheado lembra que o futebol santareno já criou muitos craques e, que hoje, os clubes não estão sabendo aproveitar e trazem jogadores de fora. “Eu lembro que tínhamos jogadores de Monte Alegre, Alenquer, Óbidos e Belterra, que era um celeiro de craques. Hoje, já não fazem mais essa busca por jogadores daqui. Se esses jogadores de fora fossem bons, eles ficavam no time deles e não vinham pra cá. São jogadores indicados ninguém sabe por quem e que não jogam nada. Essa é a verdade!”, declarou Cacheado.
FALTA DE GESTÃO: O publicitário Eduardo Dourado analisa que a crise no futebol santareno é uma questão de falta de gestão. “O futebol está sendo mal administrado em Santarém. Os times que mais crescem são os que são tratados como empresas, como São Paulo, Corinthians, Atlético Mineiro, Internacional e outros”, mostra o publicitário.
Ele lembra que antigamente as pessoas valorizavam as pratas da casa, onde os times de Santarém iam buscar jogadores nas cidades da região Oeste do Pará. “Nessa época surgiram craques como Afonso, Chico Monte Alegre, Belterra e vários jogadores. Houve uma época em que a diretoria do São Francisco trouxe jogadores de fora e como não pagou os atletas, eles entraram com ações no Ministério do Trabalho e o time perdeu seu patrimônio maior, que foi sua sede, na Avenida Rui Barbosa. Tudo isso é um processo de má gestão mesmo. Da administração deve ser cobrado um trabalho sério e profissional”, ressalta o publicitário.
Para Eduardo Dourado, não basta o diretor ser um político de expressão na cidade, mas, principalmente deve entender de futebol, para que o time possa entrar com representatividade na competição. “Não é questão de que o cara quer ser político e quer conseguir alguma coisa, como diretor de time de futebol. Esse pessoal não entende nada de administração de time de futebol e a conseqüência dessa má gestão é o clube cair cada vez mais. O problema começa na diretoria e reflete dentro de campo. É como se fosse uma família, onde o pai é desorientado e os filhos também ficam desorientados”, explicou Eduardo Dourado.
VEXAME: O legendário árbitro de futebol, Ismaelino Santos, o “Arara”, que há 57 anos atua no esporte santareno, declara que viu a derrota do São Francisco com muita tristeza. Ele disse que o resultado do jogo foi um vexame total e envergonhou os torcedores santarenos. “Se é para os times trazerem dez ou onze jogadores de Belém e de outros estados, como o Rio de Janeiro e colocar os atletas daqui para ganhar menos do que eles, a agente como santareno fica envergonhado. Eu apito futebol há 57 anos e nunca vi um negócio desses. Já vi o Paysandu e Remo apanharem do São Raimundo e do São Francisco, assim como vi os dois times de Santarém perderem para os dois de Belém, mas ser derrotado de 9 a 0, eu nunca tinha visto. Foi um vexame”, lamentou ismaelino Santos.
Arara revela que o São Francisco é um time que paga direito os jogadores e, que quando algum deles é dispensado a diretoria o indeniza com o justo valor. “Então, por que isso? Foi um vexame muito grande e a gente como santareno fica envergonhado mesmo. O time vai disputar a Elite do Parazão em 2016 e deve começar a planejar a equipe desde agora, porque trocar seis por meia dúzia não adianta. As bases dos times de Santarém não estão produzindo bons jogadores. Antigamente tínhamos craques e não havia campos de futebol, era só o Elinaldo Barbosa. Hoje, temos o Barbalhão, Panterão e outros estádio e cadê os nossos craques? Foram pra onde?”, pergunta Ismaelino Santos.
CONTRATAÇÕES: O ex-jogador do São Raimundo, Luiz Gonçalves, lembra que o futebol santareno já teve dias de glória. Porém, segundo ele, hoje, o futebol local está acabado devido a má intenção de muitos dirigentes e de jogadores que só querem saber de ganhar dinheiro.
“O futebol que eles jogam é bem pouquinho, mas eles querem ganhar bastante dinheiro. Na época do Estádio Elinaldo Barbosa, a gente jogava por amor à camisa e não por dinheiro. A gente até ganhava algum dinheiro, mas que os dirigentes vinham depois nos ofertar, porém todos entravam em campo por amor à camisa. Naquela época, tinham craques de futebol e não tinha campo. Hoje, temos campo e não temos craques”, declarou Luiz Gonçalves.
Os dirigentes, de acordo com Luiz, em algumas ocasiões não conhecem um determinado jogador, mas se alguém aponta, eles contratam sem saber quem é a pessoa. “Isso está muito errado! Eles devem primeiro verificar se o cara joga ou não, para poder trazer para os times daqui. Aqui na nossa região, se eles procurarem, vão encontrar muitos craques, mas eles querem saber de pessoas que tenham renome, porque jogou não sei onde, enquanto que os atletas daqui ficam sem oportunidade”, censura Luiz Gonçalves.
Por: Manoel Cardoso
A pura verdade …. os nossos times tem de planejar mais, administrar como empresa, sem isso vão afundar cada vez mais … uma pena.