Mulheres do Presídio de Cucurunã buscam novas oportunidades para recomeçar a vida
O crescimento da população carcerária feminina no Brasil é uma questão que tem chamado atenção ao longo dos anos. Dados do Ministério da Justiça apontam que, entre 2000 e 2014, o número de mulheres presas subiu 567,4% em todo o país. Mas, a realidade do universo feminino nas penitenciárias se difere um pouco da dos homens. Ao ingressarem na casa penal, muitas delas transformam a privação de liberdade em força de vontade para se reinventar e recomeçar.
Hoje, a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) custodia 742 mulheres em sete unidades penais, entre elas, três na Região Metropolitana de Belém (RMB) e uma no Presídio de Cucurunã, em Santarém. A maior parte das detentas que cumpre pena no Pará foi presa pelo crime de tráfico de entorpecentes. É o caso de Adriana Silva, 27 anos, flagrada pela polícia, pela segunda vez, quando estava grávida e já era mãe de um menino de oito anos. Adriana conta que não tinha ajuda do pai de seu primogênito e, por isso, procurou o tráfico para sobreviver.
“O sentimento de ter sido presa de novo era desesperador. Estava grávida e não queria passar todo o sofrimento que é viver na cadeia com alguém dentro de mim”, conta Adriana, que revela quando tudo começou a mudar. “Comecei a fazer o pré-natal dentro da prisão. Sempre pedi a Deus para ter uma filha. Quando descobri que esperava uma menina os meus dias ficaram felizes de novo e eu decidi que a mudança de vida teria que ser pra valer”, afirma.
Aos 25 anos e ainda de resguardo do pós-parto, Keila da Cruz foi presa, junto com o marido, também pelo envolvimento com drogas. Segundo relato da detenta, o homem que ela escolheu para dividir a vida escondia dentro de casa drogas, o que acabou a levando para trás das grades. Uma vida que Keila jamais esperaria conhecer. “As minhas duas filhas ficaram sem mãe. Uma de quatro anos e outra de apenas um mês de vida. Foi um choque ser presa. Só pensava no que seria delas, não sabia o que podia acontecer quando a polícia me tirou de casa”, conta.
Longe das filhas, sem notícias do marido e não conhecendo ainda o seu destino, Rude Reis viu nos dias dentro do Presídio o impulso para voltar a batalhar e reconquistar uma nova vida. Aos 33 anos foi na penitenciária que ela voltou a estudar. “Não posso dizer que faltou oportunidade lá fora, faltava mesmo era vontade. Depois que comecei a freqüentar as aulas fiz a prova do Enem e com o resultado consegui terminar o Ensino Médio aqui dentro”, conta Rude.
Há pouco mais de dois anos na cadeia, Rude não conseguiu também se despedir do pai, o único parente que ainda a visitava, e que faleceu no ano passado. Nos momentos em que as lembranças tomam seu pensamento, a interna diz ter ainda mais vontade de realizar novas conquistas. “Apesar de tudo, hoje estou mais forte. Não sabia do envolvimento do meu marido com o crime, mas hoje eu já não me questiono mais sobre isso. Quero ter ainda mais oportunidades de crescer como pessoa aqui dentro para mudar o meu destino lá fora”, revela.
Histórias como a de Adriana, Keila e Rude se cruzam constantemente por trás dos muros e das grades das celas. Os depoimentos de dor e superação, guardam, no fundo, um sopro de esperança. Com coragem e determinação, essas mulheres buscam mais que a liberdade, e sim uma oportunidade de recomeçar a viver outra vez, seja através da maternidade ou da sua força de trabalho.
Fonte: RG 15/O Impacto