Vice-reitor da Ufopa fala sobre situação das obras paralisadas

Professor Anselmo Colares
Professor Anselmo Colares

Após informações divulgadas sobre a paralisação de obras, principalmente as relacionadas à construção de campos da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em alguns municípios da região, como por exemplo, do Campus do município de Juruti, o Vice-Reitor da Instituição, Professor Anselmo Colares, em entrevista exclusiva à nossa equipe de reportagem, comentou a situação. Doutor em Educação pela Unicamp, Anselmo Colares, atendendo nossa solicitação, fez uma reflexão sobre o momento que o País está vivenciando. Acompanhe a entrevista:

Jornal O Impacto: Professor Anselmo, recentemente foi divulgada na imprensa a paralisação de obras licitadas pela Ufopa, incluindo o restaurante universitário e campus nos municípios da região. O que de fato tem ocasionado essa situação?

Anselmo Colares: No caso do restaurante universitário, nós já realizamos uma reunião com a empresa executora, e a informação que nos foi repassada pela nossa Superintendência de Infraestrutura, é que as obras do restaurante estão dentro do cronograma, e deverá ser entregue até o final deste ano.

Com relação às obras dos campus, a nossa maior dificuldade é por conta das empresas que ganham as licitações, e a gente não tem muito domínio sobre isso. O processo de licitação é público, é aberto e não podemos fazer muita coisa. Mesmo em Santarém, algumas empresas do ramo de construção, que aparentemente são sólidas e responsáveis, quando se abre a licitação, não se inscrevem, ou seja, não se interessam em fazer parte. E aí termina, e quem se interessa, quem ganha a licitação, muitas vezes na hora de executar, não dá conta. A gente percebe, não só na Ufopa, mas com várias repartições públicas, que uma empresa ganha a licitação, mas depois ela não tem ou não quer investir o capital suficiente para executar a obra.  Ela fica esperando receber o repasse, para que com esse dinheiro movimente as obras. E aí cria um círculo dramático, porque ela só recebe pelo que faz. Se ela não tem capital, faz pouco. E aí a medição é feita mês a mês. Então, se ela fizer 200 metros de construção, vai receber por 200 metros. Se a empresa fizer 50 metros, vai receber só 50 metros. E como ela faz pouco, e recebe pouco, entra no ritmo lento. E é isso que a gente tem observado. Essa situação, eu diria que ela está quase generalizada. Todas as nossas obras estão sofrendo sobre esse mal. Ressalto, não é falta de recursos financeiros, na Ufopa nunca faltou dinheiro para as obras, pois as mesmas já estavam empenhadas. Não houve corte que afetasse essas obras. É lógico que somente será feito o pagamento caso a empresa preste o serviço efetivamente.

Às vezes, também tem problemas nossos nessas histórias, por exemplo, uma obra foi pensada há cinco anos, quando a Universidade era bem pequena, com poucas pessoas. E hoje, com tudo que aconteceu em cinco anos, é necessário fazer mudanças. É claro que isso acarreta em atraso.

Jornal O Impacto: O senhor tem acompanhado de perto o momento de instabilidade que toma conta do País. Na sua visão, esses fatos ameaçam a democracia no Brasil?

Anselmo Colares: Penso que sim, mas fundamentalmente, ameaça o convívio entre as pessoas. As relações pessoais estão bastante fragilizadas. Eu analiso isso com bastante preocupação, porque há muito tempo que se discute, talvez, a maior riqueza de evolução para a humanidade, seja uma cultura para a tolerância, para o convívio entre os diferentes. Cada vez mais se tem essa compreensão de que as pessoas não pensam iguais, não fazem as coisas iguais, mas elas precisam saber se respeitar no que pensam, nas suas convicções, e o acirramento dos ânimos e o fechamento de algumas pessoas em só querer dizer e não querer ouvir, não estarem abertas para um contraponto, isso é muito ruim. Eu acho que as instituições educacionais são muito importantes na formação de pessoas que se coloquem sempre em uma atitude de abertura para o diálogo. O convencimento de outro sob o seu ponto de vista, precisa ser um convencimento construído. E nesta construção, muitas vezes, eu quando quero convencer alguém, preciso também abrir mão de algumas coisas. É preciso ter essa interação. O nosso mestre da educação, Paulo Freire, já nos ensinava isso, ele usava até uma palavra, – dialogicidade – para fazer a diferença entre um diálogo que apenas um fala e outro só absorve, então, o diálogo deste tipo, é um diálogo incompleto, daí ele preferir utilizar a palavra dialogicidade, que é quando a gente estabelece uma conversa com o outro, com outras pessoas, e as nossas verdades também ficam sujeitas a serem revistas. Eu não posso impor o meu pensamento para o outro, eu tenho que construir o entendimento, e nesta construção eu tenho que está disposto, a também ouvir, também ponderar, também rever, minha posição. O que eu tenho notado, neste momento que estamos vivendo, é que muitas vezes se faz um julgamento e uma condenação prévia. Isso não é o papel das pessoas de um modo em geral, papel saudável diria, porque, a todos tem que se dado a oportunidade, a condição, se manifestar. Eu acho que é importante na sociedade ter vários partidos, existirem vários pontos de vista, não acho interessante quando a coisa é direcionada para uma pessoa, ou para um partido, quando na verdade você tem o envolvimento de todos. Então, neste sentido é que eu me refiro, a abertura para o diálogo, significa você esta disposto a estender esta análise para o leque mais amplo possível, inclusive para a própria pessoa.

Jornal O Impacto: Qual a relação educação e corrupção?

Anselmo Colares: Muitas pessoas que combatem atitudes errôneas que ela vê no outro, têm que olhar para si próprio também, e às vezes em pequenas coisas. Por quê? Porque é o alcance dele, ele faz uma pequena corrupção, porque o ambiente que está sob domínio dele, é pequeno. Se ele estivesse em um grande ambiente, o que é pequeno viraria grande. Atitude que é muito presente nas pessoas, que se popularizou como – dar o jeitinho – que geralmente está associada em tirar vantagens indevidas. O ambiente que eu trabalho, embora seja modesto comparado com essas grandes empresas, também recebo pessoas querendo que se dê jeitinho nas coisas, e às vezes, essas mesmas pessoas, quando se trata para algo a elas, acaba querendo as coisa à margem das regras, justamente o ela condena nos outros. Eu acho que atitude de uma pessoa coerente é, [eu não posso condenar em outro, aquilo que eu não sou capaz também de fazer, ou pelo menos, para que eu possa condenar no outro, eu tenho que olhar para mim próprio]. Afirmo que as pessoas têm que estar dispostas a ouvir, não apenas dizer o que querem dizer, até porque quem garante que no final das contas, passado esse movimento todo, estes que estão lá se digladiando de repente vão estar em banquetes, e as pessoa aqui em baixo, que compram essa causa, compram essa briga, de repente comprometem suas amizades.

Penso que seja importante fortalecer a democracia, que foi tão difícil de se conquistar, e não dá para abrirmos mão dela, faz poucos anos. Quem tem a nossa idade, que vivemos no período de 1964 a 1985, alguns acham que foi bom, que foi um tempo bom, mas esses alguns representam um conjunto muito pequeno, porque há bastantes estudos que demonstram que foi um período ruim para nossa história. O pouco que motivou o golpe, que não foi só militar, foi um golpe civil/militar. Os militares fizeram somente aquilo que a sociedade civil também, de certa forma estava mobilizada. Hoje, inclusive no Brasil, existe um clima, talvez os militares não vão fazer isso que fizeram em 64, mas existe um clima para qualquer força, talvez o Judiciário, em nome de promover o equilíbrio, pode ser que promovam um tipo de atitude que não seja o respeito à decisão da maioria. Que, aliás, desde que terminou o resultado da eleição, que o movimento tem sido muito intenso em não deixar a presidenta Dilma governar, de não aceitar o resultado. É claro que isso tem sido favorecido pelo que os próprios agentes do PT e do governo fizeram. Não estou dizendo que a culpa é dos que perderam. Mas esses componentes todos não podem ser tirados da discussão. É isso que eu estou dizendo, quando as pessoas só querem falar e não estão dispostas a ouvir, porque geralmente elas só falam da corrupção, e a corrupção é um fator, é um elemento, e não pode ser isolado de um conjunto. Quais são os interesses que estão por trás de tudo isso? O interesse não é somente de enfrentar a corrupção, porque se fosse, com a mesma velocidade que está indo para uma direção, estaria indo em cima do presidente da Câmara, em cima de todas as pessoas que por esse Brasil afora tem denúncias sobre elas. Eu particularmente gostaria de vê, não o uso de dois pesos e duas medidas, que isso acontecesse sem precisar que as pessoas ficassem parecendo torcidas de futebol enraivecidas. Que as pessoas tivessem mais serenidade para acompanhar isso, e tivessem abertura para o diálogo.

Por: Edmundo Baía Junior

Fonte: RG 15/O Impacto

Um comentário em “Vice-reitor da Ufopa fala sobre situação das obras paralisadas

  • 3 de abril de 2016 em 21:10
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    Não da pra respeitar Educadores que tem visão igual a deste ai, quem foi pra rua não foi a oposição e esta até pode entrar na onda pra colher alguma coisa, o estelionato eleitoral não é respeitado pelo POVO que pensa e não se beneficia da roubalheira de TODOS os governantes, principalmente os petistas, semearam o ódio e agora querem colher o que?

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