Máfia dos ingressos da Olimpíada lavou R$ 364 milhões
Documentos e arquivos digitais apreendidos pela Polícia Civil no Rio com os irlandeses Kevin James Mallon e Patrick Hickey, acusados de venda ilegal de ingressos para a Olimpíada, revelam que empresas serviram de fachada para lavar mais de €100 milhões (R$ 364,7 milhões) em nove anos. Elas foram constituídas em torno da THG (The Hospitality Group) Sports, controladas pelo britânico Marcus Evans — que teve a prisão decretada por envolvimento com a máfia dos ingressos e está foragido. Apenas no Rio, a venda ilegal de pacotes para os Jogos rendeu ao grupo cerca de R$ 10 milhões.
A descoberta aconteceu depois que peritos e policiais conseguiram as senhas de arquivos digitais recolhidos com Mallon e Hickey, presidente do Comitê Olímpico da Irlanda. A Polícia Civil informou nesta segunda-feira que Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), será chamado a depor no caso. Ele terá que explicar sua relação com Hickey — de novembro de 2014 a julho de 2016, os dois trocaram mais de 65 mensagens, entre e-mails e SMS.
Ao todo, 52 empresas foram organizadas especialmente para operar em grandes eventos, como torneios de futebol (Copa do Mundo e Eurocopa) e Jogos Olímpicos. Em sete delas, não há aparentemente qualquer ilegalidade. A THG é uma das maiores empresas de venda de ingressos e pacotes de hospedagem esportivos do mundo.
— Identificamos 45 empresas constituídas, aparentemente, para servir apenas de fachada e lavar dinheiro obtido de forma ilegal — afirmou o delegado Aloysio Falcão, da Delegacia de Defraudações e do Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos.
As empresas teriam bases no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Elas têm nomes similares e, embora constem como abertas com a participação de Marcus Evans, estão em nome de terceiros. No Rio, para a Olimpíada e a Copa do Mundo, funcionou a Marcus Evans Brasil Ltda. As informações obtidas pela Polícia Civil foram repassadas à Polícia Federal e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, unidade de inteligência financeira do país.
— Não temos como investigar o grupo fora do país, mas podemos auxiliar as autoridades financeiras do país com informações relevantes. É possível que uma quebra de sigilo revele outros caminhos para investigações, com o auxílio da Polícia Federal e do Coaf — afirmou o delegado Ronaldo Oliveira, diretor do Departamento de Polícia Especializada.
Chamado para prestar depoimento à polícia nesta segunda-feira, o empresário irlandês Kevin James Mallon, diretor da THG — que vendeu ingressos para a abertura da Olimpíada a mais de US$ 8 mil (cerca de R$ 26,1 mil) — disse que só falaria em juízo. Mallon foi preso em 5 de agosto, dia da abertura dos Jogos do Rio, com 32 ingressos falsos e autuado por associação criminosa e facilitação do cambismo. Hoje, a Polícia Civil pretende ouvir Patrick Hickey. Ele também foi preso e, como Mallon, conseguiu autorização para deixar a prisão. Os passaportes dos dois foram apreendidos.
NOVE PESSOAS DEVEM SER INDICIADAS
O delegado Ricardo Barboza, titular da Delegacia de Defraudações e também do Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos, revelou que o inquérito será finalizado na quinta-feira e enviado à Justiça do Rio. Nove pessoas deverão ser indiciadas, entre elas os dois irlandeses e o britânico Marcus Evans:
— O fato de Mallon não ter falado não atrapalha as nossas investigações. A polícia tem outras formas de investigar o caso, sem necessariamente contar com a colaboração dos acusados. Já reunimos uma boa quantidade de provas.
Além de ingressos falsos, Mallon é acusado de venda de entradas oficiais por preços superiores aos oficiais, o que caracteriza cambismo.
Hickey foi preso num hotel na Barra da Tijuca. Ele é presidente do comitê irlandês desde 1989.
Fonte: O Globo