Artistas da terra esquecidos pelo poder público
Em entrevista exclusiva concedida à nossa reportagem, Ercio Bemerguy, funcionário aposentado do Banco da Amazônia e um dos ícones do rádio santareno nas décadas de 60 e 70, faz uma retrospectiva de sua carreira, bem como fala sobre a entrada das redes sociais e a reação da mídia impressa, sobre a cultura e o turismo de Santarém, além de outros assuntos. Veja a entrevista na íntegra:
Jornal O Impacto: Como começou a sua carreira de radialista?
Ercio Bemerguy: Foi em 1965, estimulado pelo meu saudoso amigo e mestre Osmar Simões, que convidou-me para fazer um teste para preencher uma vaga no quadro de locutores da Rádio Educadora de Santarém (hoje, Rádio Rural). Entre 10 candidatos, fui o escolhido como sendo o melhor, e logo fui escalado para apresentar, diariamente, o “Correspondente E-29”, programa que transmitia mensagens aos habitantes do interior do município de Santarém e cidades circunvizinhas. E segui em frente, por mais de 25 anos, comandando diversos outros programas, entre eles, “Clube das Fãs”, “EB Faz o Sucesso”, “Desperta Amazônia” e o de maior sucesso: “E-29 Show”, este, aos domingos à noite, no auditório da Casa Cristo Rei, numa época em que o rádio reinava absoluto, eis que a televisão ainda não havia chegado a Santarém.
Jornal O Impacto: Naquela época, existiam poucos recursos, diferente dos dias de hoje, onde a tecnologia é avançada. Como o profissional do rádio fazia para alcançar o sucesso?
Ercio Bemerguy: Atuávamos à base da colaboração mútua – dirigentes da emissora, locutores, sonoplastas e equipe técnica – transpondo todos os obstáculos na mais perfeita sintonia do pensar, do sentir e do querer fazer sempre o melhor. Desta forma, os resultados eram sempre satisfatórios e gratificantes.
Jornal O Impacto: Você e o Edinaldo Mota fizeram muito sucesso, juntos, principalmente em programas de auditório. Como surgiu a famosa dupla?
Ercio Bemerguy: O Edinaldo residia em Belterra, e quando Osmar Simões ficou impossibilitado de continuar apresentando comigo o programa de auditório E-29 Show, convidei o Mota para ser o meu parceiro. A escolha foi excelente, deu certo, o público adorou, e nos tornamos grandes amigos até hoje. E, por falar em Osmar Simões, lembro que Santarém precisa prestar reverência à memória deste seu ilustre filho, com a denominação de um de seus logradouros públicos à altura do seu merecimento.
Jornal O Impacto: Você sente falta do microfone, dos ouvintes de seus programas, enfim, da sua atuação no rádio?
Ercio Bemerguy: Com certeza, e não faz muito tempo, recebi convite para ocupar um espaço em uma emissora aqui de Belém, onde resido há 34 anos, mas recusei. Daqui em adiante, só almejo o merecido descanso, e desfrutar do que ainda me resta da vida, editando o meu modesto blog “O Mocorongo”, até quando Deus quiser.
Jornal O Impacto: Quem se destacou e se destaca hoje no rádio santareno?
Ercio Bemerguy: Da minha época, não só pelo talento e desenvoltura brilhante como locutores/apresentadores de programas, mas principalmente pelas suas belíssimas vozes, eu destaco: Edmar Rosas, Ferreira Pires, Gervásio Bandeira, João Sílvio Gonçalves, Eulálio Belizário, Tony Reis, Santino Soares e Osmar Simões. Entre as mulheres, a Bena Lago e a Ruth Santos. De hoje, minha admiração e aplausos para Sinval Ferreira e o repórter Bena Santana.
Jornal O Impacto: A mídia impressa está perdendo campo para as redes sociais?
Ercio Bemerguy: A expansão da internet em todas as camadas sociais gerou a sensação de que o declínio da imprensa era inevitável e, não há dúvida, a circulação e a vendagem de jornais e revistas foram bastante afetadas. Mas, a mídia impressa está reagindo e conseguindo superar as dificuldades, disponibilizando suas versões eletrônicas, ocupando grandes espaços na web. Exemplo disto é o excelente site deste jornal “O Impacto”, do qual sou leitor todos os dias.
Jornal O Impacto: O município de Santarém já foi famoso pela realização de grandes festivais de músicas, coisa que não se vê mais atualmente. Será que falta interesse de nossos administradores, em especial de nossa Secretaria de Cultura?
Ercio Bemerguy: Quando eu converso com os meus conterrâneos, lamentamos, juntos que isto esteja acontecendo, ou seja, são negadas oportunidades para os inúmeros valores artísticos santarenos, isto porque ainda existem, infelizmente, pessoas preconceituosas que acreditam que “santo de casa não faz milagre”, preferindo importar de outras plagas, para apresentações em suas casas de shows, clubes e praças públicas, inexpressivos bregueiros e bandas, que recebem altos cachês. Os excelentes cantores, instrumentistas e as cantoras “da terra” se viram, em barzinhos, ganhando uns poucos trocados. É lamentável! Falta, sim, mais sensibilidade do poder público para reverter esta triste realidade.
Jornal O Impacto: Alter do Chão foi eleita a praia de água doce mais bonita do mundo, porém, o turismo em Santarém ainda está muito devagar. Qual a sua opinião sobre isto?
Ercio Bemerguy: Alguém já disse, acertadamente, que “o setor turístico é a maior indústria do mundo, se administrado por pessoas competentes”. Portanto, está nas mãos do futuro prefeito Nélio Aguiar, escolher quem entenda do assunto para dirigir este setor tão importante para a economia regional, com geração de muito emprego e renda. Minha modesta sugestão: Emanuel Júlio Leite.
Jornal O Impacto: Como você avalia a atual situação política e econômica do País?
Ercio Bemerguy: Na década de 50, a saudosa escritora Raquel de Queiroz, em uma de suas apreciadas crônicas, indignada e corajosamente, já dizia, e faço minhas as suas palavras: “Se há um País sem dono e sem rumo, é este. Se há um País desenganado, envergonhado de si mesmo, faminto, doente, analfabeto, irritado, é o nosso Brasil, com o seu povo com raiva, descrente e danado da vida”. – Este conceito, infelizmente, passado tanto tempo, bem diz da situação atual da nossa pátria idolatrada.
Jornal O Impacto: Transmita a sua mensagem de Natal e Ano Novo aos seus conterrâneos de Santarém.
Ercio Bemerguy: Ao final deste ano azedo, o ano das intolerâncias, das falcatruas fantásticas, do bolso corroído, almejo que homens e mulheres, de todas as idades, sejam felizes, no Natal e em 2017. Que se livrem dos políticos corruptos e estejam protegidos dos espancadores de mulheres, dos pedófilos, dos marginais criminosos e dos cínicos maus governantes que deixam faltar tudo nos hospitais, nos postos de saúde e nas escolas, que têm a cara de pau de prometer tudo e não entregar nada. Que o Ano Novo traga mais doçura, amor e paz para os que habitam essa bela, hospitaleira e muito querida Santarém da minha paixão, do meu amor.
Por: Jefferson Miranda