Jatene acusado de abandonar famílias de policiais mortos

Depois da dor pela perda de seus maridos, filhos e irmãos, as famílias de policiais mortos no Pará enfrentam uma outra tragédia: o abandono do Estado. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil no Pará, o percentual de famílias que não recebem seus direitos chega a inacreditáveis 90%. Muitas viúvas de policiais sequer conseguem receber o salário que ajuda a manter a casa. A burocracia do governo trava a liberação das pensões e suspende benefícios.

O Pará é o segundo Estado que mais mata policiais no País, perdendo apenas para o Rio de Janeiro, como mostrou no domingo a reportagem do DIÁRIO. Foram 41 policiais militares mortos de janeiro até os primeiros dias de agosto (ver box). “A burocracia é muito grande e apenas 10% das famílias que perdem policiais conseguem receber seus direitos”, explica o presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA), Rodrigo Godinho.

BICOS

Godinho diz que são processos que podem levar anos e muitas são as esposas e mães que precisam apresentar uma série de documentos que não sabem sequer que são necessários, porque não há orientação para isso. “Um caso comum é o de esposas que vivem em união estável, mas não têm documentos que comprovem”, reitera. Tudo isso atrasa as liberações de pensões e benefícios. E, pior, muitos são os policiais mortos que eram arrimo de família.

O desafio diário de não serem esquecidas uniu mães, esposas e filhos de policiais mortos e se tornou a bandeira da Associação de Esposas e Familiares dos Praças Militares do Estado do Pará. Todas formam uma grande rede de proteção que começa por atenderem por um único nome: Maria. “Apesar de todas as negativas que recebemos do Governo do Estado, seguimos com nossa missão. Nosso trabalho é buscar o que é direito”, afirma uma das Marias.

Coordenador da Associação em Defesa dos Militares do Pará, Luiz Fernando Passinho da Silva, que também é Cabo da PM, afirma que a burocracia é uma das maiores mazelas por que passam as famílias. “Há viúvas e mães de colegas que faleceram sem sequer conseguir iniciar o processo para receber as pensões”, relata. “Para que a pensão venha a ser paga é preciso que o Estado inicie um inquérito para apurar a causa da morte. Isso muitas vezes não acontece”.

A situação de alguns familiares piora, diz ele, se a investigação comprovar que o policial foi morto fora de serviço em alguma atividade extra, ou seja, fazendo um “bico” para complementar a renda. “Se o policial morre fazendo bico a família perde imediatamente os direitos e, nesse caso, o processo corre rápido, sem burocracia. O bico voltou a ser uma necessidade para o policial sustentar suas famílias porque o salário está congelado desde 2015 “, destaca Silva.

Fonte: Dol

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