Jarsen Guimarães: “Não existe planejamento na Ufopa”

Professor Jarsen Guimarães diz que gestor tem que ser eficiente no uso dos recursos

A UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará) é uma das instituições de ensino superior mais influente em Santarém e região Oeste. Seus profissionais que são graduados na instituição, carregam um peso positivo quando se trata de qualificação profissional, mas últimamente a Universidade tem sido alvo de vários questionamentos, principalmente quando falamos do contigenciamento surpresa de recursos por parte do Governo Federal, situação que afeta diretamente funcionários e alunos. Para falar com mais propriedade e clareza sobre os novos rumos que a UFOPA está para seguir, entrevistamos o professor Jarsen Guimarães, diretor do ICS (Instituto de Ciências da Sociedade). Veja a entrevista na íntegra:

Jornal O Impacto: O senhor é diretor do Instituto de Ciências da Sociedade, em que âmbito o Instituto atua?

Jarsen Guimarães: Nós trabalhamos com os cursos de Direito, Ciências Econômicas, Gestão Públicas, Antropologia e Arquiologia. Temos, também, o mestrado em Ciências da Sociedade. É esse o nosso foco dentro do Instituto.

Jornal O Impacto: Podemos notar que hoje o Brasil está passando por uma crise econômica que tem abalado todos os setores, e o âmbito da educação não está de fora desse contexto, inclusive o Governo Federal sugeriu que a Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) fosse privatizada. Qual sua opinião com relação ao tratamento do Governo Federal com as instituições de ensino superior?

Jarsen Guimarães: É uma crise política, tivemos uma conotação à crise econômica. Hoje, apesar da economia já estar sofrendo algumas reações, por exemplo, ao invés de inflação, agora deflação, estão aumentando o poder de consumo da população, existe um problema muito grande nas contas do Governo, então, a sociedade está pagando por isso. Essa questão da privatização não é de agora, é um processo antigo. No governo Fernando Henrique já se falava em privatização das universidades, quando foram colocadas as questões dos provões e foi demonstrado que a massa crítica e o melhores professores e alunos ainda estão nas universidades públicas, então, houve um recuo. Agora, diante dessa crise há uma nova necessidade do Governo trazer como ponto de pauta a questão da privatização, inclusive já começou. Tivemos a liberação dos cursos de especialização do Latus Sensus das instituições públicas que podem ser cobrados agora. Meu ponto de vista é totalmente contrário. Para se ter uma ideia, fazendo um histórico: eu entrei na Universidade em 1994, era UFPA Campus de Santarém e passei por todas as etapas, de professor substituto a professor efetivo; fui coordenador do curso de Direito e trouxe o primeiro curso de especialização para o curso de  Direito em Santarém, que foi o Curso de Especialização de Ciências Criminais da Amazônia com ênfase aqui na região Oeste do Pará e totalmente gratuito. Então, sou favorável aos cursos gratuitos para o cidadão, principalmente aquele cidadão que paga seus encargos, que não são pequenos, por meio de impostos para o Estado; diante disso, o Estado tem que oferecer um retorno para o cidadão, seja por meio da educação ou por meio da segurança pública, mas tem de haver um retorno.

Jornal O Impacto: Aqui em Santarém também temos problemas e quem sente na pele são os alunos. Um deles está relacionado à construção do Restaurante Universitário, cuja obra está parada como senhor vê essa situação?

Jarsen Guimarães: Foi um problema com a firma que estava encarregada para fazer o Restaurante Universitário. Se não me engano, ela entrou em falência, algo nesse sentido e não cumpriu o compromisso. Isso foi passado pra gente, pela gestão, por meio de reuniões com os conselhos, e agora a gestão está retornando de novo. Foi aberto um edital para uma outra firma continuar a construção do Restaurante Universitário. É muito fácil a gente criticar, sou pré-candidato à reitoria da UFOPA e nós temos propostas. Além do Restaurante Universitário, assim como existe em Belém a Feirinha no Guamá, queremos também implantar a Feirinha aqui em Santarém, não só para o estudante, mas para aquela pessoa que está passando ali pela UFOPA terem um local adequado, assim como será o Restaurante Universitário que será diversificado; eles poderam tomar um café da manhã, almoçar com um preço adequado, justo e condizente. É uma das nossas propostas que desejamos emplementar na UFOPA. Agora, com esse corte do Governo Federal, muito embora já se tenha um recurso destinado ao Restaurante Universitário, este sonho ainda está distante de se concretizar.

Jornal O Impacto: Com relação aos outros Campi que serão Instalados ou que já estão em projeção em outros municípios. Existe algum projeto para essa expansão?

Jarsen Guimarães: Inclusive foi aberto o concurso para contratação de docentes para esses campi. Recentente sairam os cursos autorizados e existe uma análise crítica com relação a isso, o problema é que isso está sendo feito de uma forma muito atropelada, mas somos totalmente favoráveis à expansão da universidade, não só para o que já existe, mas também para outros municípios mais próximos, até para descongestionar um pouco o Campi de Santarém, a questão de Belterra e Mojuí dos Campos.

Jornal O Impacto: Existem algumas especulações com relação à venda do Seminário São Pio X e que seria a UFOPA quem o compraria para fins de estudos e estrutura. Você acha que a estrutura do Seminário é propícia para receber os alunos e os diversos setores da Universidade?

Jarsen Guimarães: Recentemente eu estive fazendo visitas ao Seminário. Trata-se de um espaço propício, era uma escola que funcionou na década de 80. Mas hoje para o que a Universidade precisa, tem que ser um investimento grandioso para funcionar como Universidade, como atualmente a UFOPA tem. O gasto foi muito alto no Campus Boulevard para transformar aquele hotel em uma academia, que inclusive não está à altura da academia que os alunos querem, mas o Seminário São Pio X vai requerer um investimento muito maior. Foi bom tocar nesse assunto, pois a polêmica inicialmente foi criada com realção ao aluguel do Seminário, da saída do Boulevard para o Seminário. Esse foi o primeiro ponto, e percorrir como diretor as salas do Instituto, tive reuniões com alguns docentes, técnicos e com os alunos, pois a preocuapação era muito grande por conta dessa mudança. Não só o Seminário em si, mas a estrutura de maneira geral, o transporte não é adequado para aquele local, a iluminação pública não é adequada na frente do Seminário, torna-se propícia à criminalidade. Talvez você não tenha ideia, mas nós temos um índice de criminalidade não tolerável ao redor do Campus Tapajós. Há uma preocupação por parte da gestão atual em relação a isso, a criminalidade e segurança. Nós não temos um sistema de transporte no Campus Tapajós adequado para os nossos acadêmicos, até mesmo para os servidores que necessitam disso. Voltando à questão do Seminário, houve essa preucupação e a grande massa, falando pelo ICS, era contrária à ida para o Seminário São Pio X. Eu ouvi um boato de que o Seminário estaria à venda e que haveria um interesse da UFOPA em adquiri-lo. Comprar é uma coisa, agora funcionar como Universidade é outra. Primeiramente, porque nós vamos precisar expandir a infraestrutua que por sinal não é adequada, expandir no sentido de adquirir até mais terreno ali para se obter uma Universidade. Nós temos os Campus Tapajós, Rondon, Boulevard, Casa do Leite e a Fazenda, ou seja, a UFOPA está espalhada, o gasto com o sistema de transporte e locomoção é muito grande, nós temos que pensar numa forma de concentrar de maneira eficiente, cursos e institutos, minimizar essas distâncias, então, quando eu falo de custos nesse momento de crise, temos que pensar nisso, reduzir custos, sobrar dinheiro para investimos nas necessidades que nós temos dentro da Instituição, seja incentivo à pesquisa, seja insentivo à extensão ou ao ensino. Nós temos que priorizar nossos docentes e discentes, bem como a capacitação dos nossos técnicos.

Jornal O Impacto: A atual gestão da UFOPA está há bastante tempo em exercício, inclusive desde a época do governo do PT, e acreditamos que esse contigenciamento já está há um bom tempo em vigor e que sempre foi de conhecimento da atual gestão. Eles estão tomando algumas atitudes só agora; você acha que as medidas deveriam se inseridas desde o início do problema?

Jarsen Guimarães: Existe algo chamado planejamento na Instituição, que deixa um pouco a desejar. Com relação a recursos, somos avisados. Eu, como diretor, sou avisado no início do ano sobre o contigenciamento do recurso que será retirado, principalmente com que tange às diárias e às passagens do Instituto. O que houve agora, que inclusive pegou de surpresa, foi uma segunda retirada dos recursos, então, realmente pegou de surpresa a Instituição. Eu não quero ser muito crítico, é muito fácil bater quem está de fora, mas a Universidade realmente precisa de planejamento, e atualmente não existe planejamemento na UFOPA, as coisas são feitas como, se refere o ditado popular “nas coxas” e em cima da hora nós precisamos planejar. Eu não quero culpar a gestão atual, é muito fácil criticar, mas existe uma preocupação nossa de pensarmos na Universidade, não em quatro ou em oito, mas em vinte ou trinta anos, essa é a nossa preocupação. Não adianta uma pessoa pensar como um Prefeito, que quer se reeleger por oito anos, nós temos de pensar em Brasil para muitos anos, médio a longo prazo. É isso que nós estamos pensando para a UFOPA, suprir as carências do curto prazo que por sinal são muitas, as dificuldades são muitas, principalmente pela falta de recursos. Então, o gestor tem que ser eficiente no uso dos recursos, minimizar o máximo possível os custos, sobrando dinheiro para fazer aplicações. Para se ter uma ideia, hoje no Instituto estamos um pouco engessados, uma das ideias que nós temos é de desconcentrar algumas atividades que existem na Instituição, dar mais autonomia aos institutos. Hoje temos sete institutos na UFOPA (seis institutos e o Centro de Formação Interdiciplinar), então, nós temos de dar mais autonomia a esses institutos. O Instituto deve saber quanto que deve investir em pesquisa, ensino, extensão, pós-graduação, laboratórios, todos querem isso; priorizar essa situação e aí a gestão entra como facilitadora dessas questões. Por falta de planejamento, estamos sofrendo as consequências disso. Vou retratar algo pessoal, eu entrei na UFPA em 1994, e como já mencionei, fui coordenador do curso de Direito, corrdenador de Especialização, trouxe a Encubadora de Cooperativas Populares para Santarém, depois eu fui Diretor Pró-tempore no período Seixas, fui o único eleito Diretor Pró-tempore, trouxe o mestrado com uma equipe do ICS, que era uma proposta de campanha; acabamos de lançar uma revista da pós-graduação. Isso tudo nós tínhamos planejado, a revista e a pós-graduação. Trouxemos o Observatório Criminal do Tapajós, desenvolvo projetos na área de pesquisa e extensão, então, eu vejo planejamento. Uma das coisas que eu lembro da UFPA, o indivíduo que trabalhava naquele Campus de Santarém, você pode perguntar para qualquer professor ou qualquer servidor, e eles tinham gosto de dizer: “Eu trabalho na UFPA”, outros diziam “Eu trabalho na Federal”; as pessoas até pensavam que trabalhávamos na Polícia Federal, usando boné e óculos. Hoje você pergunta, e o servidor sente-se desmotivado naquela Instituição. Uma das questões é a desmotivação, dito isso teremos um trabalho muito grande, motivar novamente nossos servidores, e nós vamos fazer isso, fazer com que esse indivíduo se sinta parte desse processo. Nós temos vários professores que vieram para Santarém, ficaram desmotivados e pediram para retornar para seus lugares e para outras universidades, ou seja, precisamos motivar os nossos servidores. Como faremos isso? Não será uma tarefa fácil, mas isso terá de ser feito. Propostas temos bastantes, tudo aquilo que estamos pensando, está sendo avaliado por um setor jurídico, para não ser aquela “balela” de falar e depois não cumprir e também embasado naquilo que existe de legal.

Se entrarmos no setor finaceiro, antes os nossos alunos participavam de publicações de artigos e viajavam, mas o Governo cortou isso. Porém, existem outras formas de motivarmos os alunos. O aluno publicando junto com o professor, cresce e a Intituição se eleva também. Essa concentração de atividades e de recursos que nós tivemos nas unidades administrativas em detrimento da fragilidade de algumas unidades acadêmicas. O Instituto que eu faço parte, é o segundo em número de alunos na Instituição, perde apenas para o Instituto de Ciências da Educação, mas em termos de recursos estamos bem atrás. Mesmo assim estamos andando, nossos professores estão se capacitando, sendo que existe um planejamento de novos cursos para dentro do Instituto em parceria com a gestão.

Por: Allan Patrick

Fonte: RG 15/O Impacto

 

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