Crianças em perigo – Comunitários denunciam precário transporte escolar

Francisco e Jerusalina alertam que crianças correm perigo de morte em Palmas do Ituqui

Hoje encontramos em Santarém, diversos problemas relacionados a quatro setores: prestadores de serviços públicos, saúde, infraestrutura e educação. Agora, podemos imaginar, se na área urbana a situação está dessa forma, imagine na área rural. A história que vamos contar será relatada por um casal de agricultores da comunidade de Palmas do Ituqui, o senhor Francisco das Chagas e sua esposa Jerusalina, que fazem uma séria denúncia com relação a educação, algo que lamentavelmente está presente na vida deles, que traz à tona um sentimento de revolta.

Segundo Francisco das Chagas, o principal motivo de sua visita a Santarém, foi denunciar no Ministério Público Estadual a precariedade da educação na zona rural. “Quando eu falo sobre a comunidade de Palmas do Ituqui, não me refiro somente a ela, e sim a todas as outras comunidades circunvizinhas daquela região, que lamentavelmente estão sofrendo esse impacto, causado por um processo seletivo. Viemos saber há poucos dias desse processo, onde as aulas demoraram para acontecer. Segundo informações, encontraram algumas irregularidades dentro da Secretaria Municipal de Educação, e o Ministério Público por sua vez, foi analisar essas irregularidades e consequentemente sentenciou esse processo seletivo. Sendo que a pessoa que supostamente foi acusada, não sei se isso aconteceu de fato, está exercendo o mesmo cargo na Secretaria de Educação. Então, se ela está lá, certamente foi inocentada. Esse processo, com a volta dessa pessoa para a Secretaria, significa que não houve nenhum crime ou irregularidade, e consequentemente o Município poderia voltar a ter seus trabalhos normais, porque um erro sempre será um erro, e sempre haverá consequências, sendo que foram generalizadas em todo município de Santarém as consequências desse erro. Agora, nas escolas está faltando professor. Na nossa comunidade é um casal que leciona, sendo que esse casal dava aulas de manhã e à tarde e, de repente a pedido da diretora do polo, substituíram uma professora que tinha ido para dar aula”, declarou Francisco das Chagas.

De acordo com a sra. Jerusalina, “a professora não ficou porque só tinha 50 horas aulas. Qual profissional vai sair daqui da cidade para trabalhar numa zona rural, em uma área de lama, sendo que é muito distante uma escola da outra, para trabalhar apenas 50 horas aulas? Então, esses dois professores assumiram as aulas lá na comunidade, que inclusive minha netinha estuda, ou melhor vai estudar (as aulas iniciaram na segunda, 19). A questão é a seguinte: antes funcionava pela manhã do pré-01, pré-02 e primeiro ano; e à tarde funcionava segundo, terceiro e quarto ano, só que a situação vai mais longe, além da falta de professor, a Secretaria em parte, está entre a cruz e a espada com relação ao processo seletivo, para selecionar os profissionais. O problema é que ela não quer dividir turmas, então, agora existe um multiseriado, do segundo ao quinto ano, ou seja, quatro séries, sendo 27 crianças em uma única sala. O que essas crianças vão aprender? Segundo os professores da Escola Renascer, a Escola Cristo Libertador que é um polo da Renascer, tem uma turma de sexto ano com 45 alunos dentro de uma sala. Outra coisa seríssima, é o transporte escolar, sem nenhum pingo de segurança, a Justiça exige tanto de um pai de família, que não pode transportar crianças em um veículo sem uma cadeirinha ou sem cinto de segurança, e aqui na comunidade as crianças estão sem isso, dentro de um ônibus escolar, todo sucateado e não tem ninguém para acompanha-las dentro do ônibus, a não ser o motorista. Uma estrada que está toda cheia de buraco e a Secretaria de Infraestrutura não quer ver isso. Se por acaso um desses ônibus der uma freada ou bater em um buraco, uma criança dessa pode cair de um banco e se machucar. Sem segurança alguma, nossos filhos correm risco de morte. Estou falando de crianças de quatro anos de idade, os maiores ainda se viram para se segurar, mas os pequenos em muitas situações perto dos pais já se machucam, imagine no ônibus. As crianças vão sozinhas com o motorista, no ônibus. É muito risco, precariedade e falta de profissional. Para falar a verdade, é lamentável a educação em nosso Município”, declarou Jerusalina

Diante de todos os problemas que vocês e a comunidade estão enfrentando, com toda certeza vocês procuraram os direitos de vocês, alguém pode defender vocês, ao chegar no Ministério Público, como vocês foram recebidos? Perguntamos.

“Ao chegarmos no Ministério Público, a recepcionista perguntou o que a gente queria. Meu esposo informou a ela do que se tratava, ela ligou lá para outro setor e informaram para ela que nós tínhamos que tirar cópias de nossas identidades e CPF’s. Fizemos o que eles queriam, e levamos até a recepcionista, então, ela tornou a ligar para lá e disse que era para subirmos. Ela nos levou até o local onde deveríamos fazer a reclamação; ao chegarmos, ficamos no corredor e logo depois veio uma moça e nos atendeu, perguntou o que era e tornamos a explicar para ela a situação, então, ela disse que iria entrar em uma sala e depois iria nos chamar. De repente veio um estagiário para saber a mesma situação e do meio pro fim meu esposo disse: “vamos embora, pois aqui não resolve nada”, ou seja, eles “cozinharam” a gente desde o momento em que nós chegamos”, disse Jerusalina.

“O que colocaram para nós, deixou bem claro que eles não têm interesse de defender a sociedade, mas de proteger o governo. Eu costumo sempre ir ao Ministério Público Federal, eu falo e é tudo digitado, tem aquele servidor para atender e receber aquela informação para eles analisarem se tem procedência. De contrapartida, o Ministério Público Estadual não faz isso, eles querem saber detalhes, mas passando de um para outro e, no final, nada se resolve. O que eu vi foi uma falta de interesse do Ministério Público Estadual, inclusive o cidadão estagiário que falou conosco, disse que ele é um órgão de fiscalização e eu disse e repito: fiscalizar o quê? O que o Ministério Público Estadual está fiscalizando?. Ele pediu esse processo seletivo, foi feito, mas se de fato eles tivessem acompanhado as coisas na normalidade, ele estava sabendo da precariedade que está presente dentro das escolas da área rural. Então, eu digo com todas as letras e não tenho medo de errar: “O Ministério Público Estadual não tem interesse de defender a sociedade que precisa de seu apoio. Se tivesse, eles procuravam nos ouvir, registrar e procuravam fazer com o quê o Município viesse cumprir com a função dele”. O que eu disse lá foi o seguinte: se a cidadã que supostamente foi acusada de praticar aquele delito ou crime, se foi inocentada, não participou desse processo de corrupção, ela está lá no lugar dela, trabalhando na Secretaria de Educação novamente. Então, porque continuar com esse processo seletivo? Um processo que se eu tiver dez anos trabalhando na vida pública como professor, embora eu não tenha capacidade de ensinar, mas se eu tiver esse tempo de serviço, eu passo. Que tipo de seleção é essa? Outra pergunta: se o Ministério Público não pode ajudar-nos, quem poderá? O rapaz apareceu lá na porta, apontando o dedo e dizendo: “não saiam falando que nós não quisemos atender vocês aqui, receber a denúncia de vocês”. Quando uma pessoa fala esse tipo de coisa, eu particularmente já me sinto ameaçado, por conta do mundo em que estamos vivendo. Uma frase que resume tudo que passamos é “nossos direitos, os direitos do cidadão e da sociedade estão sendo esmagados por nossos justiceiros”, finalizou Francisco das Chagas.

Por: Allan Patrick

Fonte: RG 15/O Impacto

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