Por descaso do Estado, pacientes correm risco de morte”
Miguel Maciel, presidente da Associação dos Pacientes Renais Crônicos, faz o alerta
A situação de precarização dos serviços prestados no Centro de Nefrologia do Hospital Municipal de Santarém volta a colocar em ‘cheque-mate’ a sobrevivência das pessoas que necessitam realizar hemodiálise.
Máquinas quebradas e falta de insumos estão entre as principais dificuldades enfrentadas pelos os pacientes. De acordo com o presidente da Associação do Paciente Renais Crônicos e Transplantados do Oeste do Pará, Miguel Maciel, apesar dos serviços ter recursos disponibilizados pelos governos estadual e federal, os paciente estão vivenciando momentos dramáticos.
“Os pacientes que estão sendo atendidos no município, infelizmente estão correndo risco de morte, por omissão do Poder Público.A situação do Centro de Nefrologia do Hospital Municipal de Santarém é grave, gravíssimo. Hoje temos praticamente mais de 30 pacientes internados, aguardando vaga para fazer hemodiálise. Cadastrados dentro do programa, temos cerca de 65 pacientes que fazem hemodiálise por 4 horas e vão para sua residência. Só que na terça-feira, dia 28, agravou-se ainda mais a situação, porque no Centro de Nefrologia do HMS, temos 4 máquinas reserva quebradas, que estão precisando de manutenção, e a Secretaria Municipal de Saúde através da O.S não está dando essa manutenção correta, sendo que as máquinas estão há mais de 3 meses parada, e ontem quebrou mais duas máquinas do salão, de um total de 10 máquinas. Sendo assim, 12 pessoas que necessitam fazer o tratamento, estão desamparadas.Então os médicos têm que fazer malabarismo, para saber quem é que vai de dialisar ou não. Para fazer esse atendimento, tiveram que reduzir também o horário dos pacientes que já estão no programa de 4 horas para 3:30. Conversei com doutor Emanuel, o médico que estava de serviço ontem, e ele me falou que a situação é grave. Então liguei para doutora Lilian Braga, que é promotora de Justiça na área da saúde, e relatei a situação, pedindo que fizesse alguma coisa de imediato. Mas de antemão, alertamos que a situação é essa, de extrema necessidade do poder público fazer o dever dele e conseguir novas máquinas. Lá temos poltronas que estão com 12 anos de uso. Estão todas corroídas, com ácaros e fungos, ou seja, não apresentam o mínimo de conforto para os pacientes. Quando eu estava no Conselho Estadual de Saúde, fiz um levantamento para o Conselho e para o Ministério da Saúde e também para o Juiz da 6ª Vara Cível que está acompanhando o caso. Na ocasião foi detectado colônia de ácaros e fungos. Também a necessidade de realizar uma reforma com urgência no interior do prédio onde funciona serviço, pois é recorrente encontrarmos lâmpadas e ar-condicionado quebrados. Na verdade, é um serviço que está sucateado. A OS que assumiu o HMS, de acordo com o contrato, não pode atuar no serviço de hemodiálise. Sendo assim, vamos levar essa situação para o Conselho. A Secretaria de Saúde informou que iriam assumir o serviço, mas não é o que está acontecendo, pois, a OS continua dentro do Serviço, porque todo o insumo ou qualquer situação que precisa de medicamento ou materiais, aparelhos para verificação de pressão que estejam quebrados, tem que solicitar para OS. Então, a Secretaria Municipal de Saúde está fazendo um jogo duplo. Ela está recebendo do Governo Estadual 200 mil reais por meses de contrapartida que a SESPA repassa, sendo que este dinheiro, a gente não sabe para onde está sendo conduzido, porque eles recebem também, do fundo a fundo, do Ministério da Saúde, um valor de quase 180 mil reais. Certamente, com esses valores, o serviço por si só já se bancava, somando,temos um total de 380 mil reais, somente para o serviço de hemodiálise do HMS, referente as 10 máquinas. Para buscarmos atender com o mínimo, o serviço precisaria de vinte máquinas. Hoje o Hospital Regional está com a capacidade superlotada também, porque há uns 6 meses, lá abriu novamente o quarto turno, de segunda a segunda. Lá eles estão com 200 pacientes somente na hemodiálise. Tem a peritoneal com 36 pacientes e também transplante, já tirando bastante pessoas da fila. Mas o serviço do municipal é porta aberta, abrange os 19 municípios próximos, até mesmo pessoas vindas de outras regiões que vêm por conta própria, e aqui quando precisam da máquina, têm de ficar internadas. Então a situação do serviço de hemodiálise do HMS está precisando com urgência do poder público, porque da forma que está pessoas vão começar a morrer”, expôs Maciel.
“Nós não podermos ficar calados diante desta situação. Enquanto Associação vamos buscar os nossos direitos, não queremos chegar ao extremo de, por exemplo, em forma de protesto, fazer o bloqueio da da avenida Barão do Rio Branco, pois parece que somente assim chamaremos a atenção do poder público. Queremos providênciais do governo do estado, que repassa o valor de 200 mil reais por mês, porém, não fiscaliza a aplicação. Estão gastando dentro do serviço de hemodiálise?”, questiona.
Dia a dia – Ter a vida atrelada a uma máquina não é nada fácil, explica Miguel Maciel. E da forma que está sendo operado o serviço no municipal, com redução do horário das sessões, os pacientes são afetados, e perdem qualidade de vida.
“Um paciente renal que tem várias categorias, que vão de 1 a 5, sendo que a categoria 5 é renal crônico, que precisa de dialisar. Então ele dialisa 3 vezes na semana, em sessões de 4 horas. Nesse tempo é feita a limpeza das impurezas que o nosso organismo produz, aquilo que o rim normal faria se não tivesse com essa deficiência.Limpar o sangue, dá oxigenação, fazer todo processo que o rim faz. As partículas sanguíneas começam a ser quebradas depois de 3 horas de sessão. E como se fosse um açaí batido. Começa a sair aquele sumo, até chegar no ponto do vinho para ser consumido. Todas aquelas impurezas vão ficar no capilar e ali vai começar a quebrar as partículas, limpar realmente o seu sangue. Então somente as 4 horas é que darão uma qualidade de vida melhor ao paciente. Quando você reduz horário, quebra a qualidade de vida dos pacientes”, explica.
Vidas em risco – O alerta e pedido de socorro dos pacientes que são atendidos na nefrologia do HMS, é urgente e precisa de medidas efetivas a fim de evitar que pessoas morram, esperando por um serviço adequado.
Infelizmente, antes da conclusão desta matéria, nossa reportagem foi comunicada que um paciente veio a óbito. Aos familiares de seu Araci, foi comunicado que o motivo da morte foi complicações cardíacas. No entanto, pacientes que precisam do serviço, refletem e questionam, se ele tivesse sendo atendido de forma satisfatória na dialise, neste momento ele poderia está vivo?!
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto