Airton Faleiro: “Santarém terá sim, representante na Câmara Federal”

Deputado diz que partidos se dividem muito, com muitos candidatos para um eleitorado pequeno

Faleiro está há 10 anos morando em Santarém

O Deputado Estadual Airton Faleiro, do Partido dos Trabalhadores, que foi eleito Deputado Federal na última eleição, esteve em nossa redação, ocasião em que falou sobre o resultado das eleições, quando Santarém novamente ficará sem nenhum representante na Alepa. Veja a entrevista:

Jornal O Impacto: Você foi o único candidato com domicílio eleitoral em Santarém que conseguiu se eleger. O que está acontecendo com a política em nosso Município?

Airton Faleiro: Quero aproveitar a oportunidade para fazer um agradecimento aos 106.965 votos que recebi. Em três pólos: Itaituba, Altamira e Santarém, consegui 53 mil votos e minha meta era 50 mil votos. No Sul e Sudeste do Pará eu peguei 32 mil votos E o restante foi lá no chamado velho Pará, mais de 20 mil votos. Um fato curioso é que eu fui votado em 144 municípios, teve um Município que eu peguei só um voto. Eu estou dizendo isso, também, para agradecer às pessoas que coordenaram minha campanha, que trabalharam, que foram no embate, no convencimento do voto. Eu fiz aqui uma dobradinha em Santarém com o Dr. Carlos Martins, que me ajudou. Em Oriximiná, com o João Batista; infelizmente nenhum deles foi eleito. Eu tenho que agradecer, também, a toda chapa Federal, porque nós formamos uma chapa para poder fazer 2 deputados da Coligação do PT com o PCDB. Eu acho que o Zé Geraldo, quando topou ser candidato ao Senado, fez um gesto de risco, pois ele sabia que sua reeleição a Deputado Federal era uma coisa certa. Mas ele nos chamou e disse que topava ir para o majoritário, para ajudar o Partido. O Zé Geraldo já estava com quatro mandados de Federal e dois de Estadual, então, ele pactuou conosco dizendo que eu deveria ser o nosso Federal e também me ajudou muito. O Haddad foi o mais votado no Pará no primeiro turno; o Paulo Rocha teve 17% dos votos e forçou um segundo turno. Tudo isso é motivo de agradecimento. Essa minha exposição permitiu para a turma também analisar de que uma eleição de Deputado tanto Estadual como Federal não é eleição Municipal. Às vezes a gente se comporta como se eleição fosse Municipal. Eu observo há muitos anos que a gente faz uma campanha muito bairrista e ela tem sentido, porque o santareno tem de votar em alguém de Santarém e eu que já estou aqui nessa região há 40 anos, eu cheguei aqui em 1978, morava em Placas, que nessa época pertencia a Santarém. Eu comecei minha vida aqui, depois que Placas se emancipou de Santarém eu fiquei um bom tempo morando por lá, assumi cargos nacionais e estaduais no momento sindical, mas eu estou há 10 anos morando direto aqui em Santarém, casei com uma santarena, sou domiciliado aqui, eleitor daqui e também já ganhei até o Título de Cidadão Santareno na Câmara de Vereadores. Eu estou falando como santareno, porque é assim que eu me sinto. Eu diria o seguinte: quem é de Santarém tem de votar nos santarenos. Estou falando uma eleição para Deputado Estadual e Federal. Aí o cara do Município vizinho diz: ´Nós que não somos de Santarém, não temos compromisso com os santarenos`. É um cuidado que eu acho que a gente tem de ter. Outro cuidado é com a concorrência muito grande com outras regiões do Estado, como a Metropolitana de Belém que tem muitos eleitores. Nós precisamos ter no mínimo uma atuação regionalizada, senão, não adianta na véspera de eleição você sair correndo aos municípios. Você tem de trabalhar os 4 anos, visitar os municípios, assumindo as bandeiras de luta daquele povo, ajudando a organizar um partido e estar a serviço de uma região maior. Uma terceira e última coisa que eu quero observar é sobre aquela história, não basta ser de Santarém; eu acho que o eleitor está mais exigente, ele quer que seja de Santarém, mas também exige outros componentes, que a pessoa tenha um bom desempenho e mereça o voto. Então, acho que isso também é uma coisa para gente analisar.

Jornal O Impacto: Há, também, a questão também da pulverização de muitos candidatos?

Airton Faleiro: Esse é um componente, também, que eu acho que é um erro dos partidos, que se dividem muito e aí acaba o que você tem: muitos candidatos para um eleitorado pequeno, aí a gente pega muitos votos aqui para completar e eleger os de lá. Esse é o erro. Nós do PT concentramos foco na minha candidatura a Federal. Nós até achamos que faríamos um quarto Estadual, que era o Carlos Martins, mas nosso coeficiente não deu, só conseguimos eleger 3 estaduais. O PT manteve a bancada Federal com dois deputados. Nós perdemos uma vaga na Alepa, mas agora eu vou ter de trabalhar pelos dois: Estadual e Federal, bem como trazer os nossos estaduais de outras regiões para Santarém.

“Um dos perfis do nosso mandato será agregar e sintonizar nossas pautas com toda a bancada dos estados da Amazônia”

 Jornal O Impacto: Você já planejou o perfil da sua atuação na Câmara em termos de nossa região?

Airton Faleiro: Eu passei essa semana na Transamazônica, lá também nenhum Federal se elegeu. Eu sou o único Federal morador na região Oeste. Tem o Júnior Ferrari que é de Oriximina. Eu tenho uma boa relação com muita gente. Eu vou trabalhar por uma coisa que eu acho que rende mais, que é buscar apoio na bancada Federal, pois temos tantos assuntos que podem nos unificar e têm outros que nos dividem. Mas se a gente conseguir fazer com que a bancada atue de forma mais sintonizada, mais harmonizada em torno de temas de interesse da região, acho que já é o primeiro passo. Eu acho que nós temos uma pauta amazônica e temos de cuidar dela, inclusive uma articulação com a bancada da Amazônia assim como o Nordeste articulou de forma unificada os temas de interesse deles e estão conseguindo bons resultados. Um dos perfis do nosso mandato será agregar e sintonizar nossas pautas com toda a bancada dos estados da Amazônia.

Jornal O Impacto: Nossa região não é diferente do resto do País em relação à falta de emprego. Nós temos uma juventude, temos inúmeras faculdades formando jovens a cada ano e o mercado de trabalho realmente é muito difícil para a pessoa chegar. O senhor tem uma visão do que seria necessário para que se consiga emprego para essa turma?

Airton Faleiro: Quando eu formatei a minha plataforma de campanha, eu fiz um anúncio das minhas propostas de trabalho: eu vou começar por essa que é uma proposta que mexe com a economia da região. Eu acho que nós temos a geração de empregos a partir de uma de política geral, como o PAC gerou muitos empregos, obras, ações. Mas eu acho que nós temos uma deficiência na nossa economia, eu defendo que a gente crie aqui um pólo industrial, mas não nos moldes de outras localidades ou então com os produtos que a gente já sabe que vão concorrer com outras indústrias mais competitivas. Eu acho que aqui nós temos de criar um pólo de industrialização dos produtos medicinais a partir da riqueza que nós temos, da biodiversidade, a parte também que nós temos na ciência, nas nossas universidades. Para você ter uma ideia, o curso de Farmácia é um dos melhores do Brasil e nós temos aqui um potencial muito grande. Se a gente pegar o que as comunidades tradicionais têm para nos oferecer de produtos e industrializarmos, a gente se tornará um pólo de produção. A medicina vem das plantas. Então, eu acho que nós temos de trabalhar pegando esse potencial da diversidade, da nossa academia, da ciência e da cultura. Eu vou trabalhar nessa ideia, eu vou ajudar a buscar coisas como essa. Eu tenho um projeto, que acho que gerará emprego, que mexerá com nossa economia e que já está em curso. Eu estou feliz, porque esse projeto já está sendo assumido por diversas organizações culturais daqui, instituições, Prefeitura, para trazermos para Santarém, pelo nome que tem, que é o Festival Internacional de Cinema, que vai ser um evento anual e o primeiro já vai acontecer em outubro do ano que vem, só que ele ainda vai ser feito com estruturas móveis, porque nós não temos ainda um grande centro que abrigue grandes eventos. Mas o meu sonho é que a gente tenha, também, aqui esse pólo de produção, vou chamar de audiovisual. Nós temos aqui uma riqueza artística muito grande, na música, no teatro, nós temos artesanato, tudo isso em torno do Festival de Cinema. Nós temos de ter lá toda uma estrutura de venda dos nossos produtos, temos de criar uma banca de negócio de venda da nossa produção audiovisual. Nós vamos fazer um seminário para preparar nossa busca de recursos, inclusive para a produção audiovisual e a capacitação. Estamos envolvendo a Universidade Fluminense do Rio de Janeiro, com a UFOPA, UFPA e outras universidades que possam nos ajudar na formação das pessoas. Aqui é um centro cultural, fazendo um Festival de Cinema por ano vai atrair muita gente, vai mexer com hotelaria, vai mexer na culinária, que a gente possa ter aqui um espaço para realização de grandes eventos. Eu observo lá em Belém, no Hangar, que de vez em quando tem um grande evento lá que movimenta a economia e se a gente tiver aqui um grande centro para abrigar de duas a três mil pessoas, nós vamos fomentar nossa economia. Eu sou defensor de retomada de programas macros, como o PAC, que com certeza pode ter outro nome, mas que venha ter obras na região, para gerar empregos.

Jornal O Impacto: Cite algumas dessas obras.

Airton Faleiro: As obras de Belo Monte, apesar de todos os conflitos sócio-ambientais, geram empregos; o asfaltamento da BR que está na minha cabeça, nós temos que brigar para concluir o asfaltamento da Transamazônica e da BR-163. São obras que vamos brigar por elas. Nós vamos brigar para não acabar o programa Luz Para Todos, que já levou energia para 500 mil famílias no Pará, mas nós temos ainda cerca de 140 mil famílias que ainda não têm energia, como na Reserva Tapajós-Arapiuns e no Lago Grande, onde vários lugares ainda precisam de energia. Nós temos de retomar o “Minha Casa, Minha Vida”, que é um dos programas que resolve a moradia das pessoas e gera empregos na construção civil. São coisas assim que nós estamos pensando. Eu sei que vão ter temas nacionais complexos e eu sou muito tranquilo em assumir minhas posições. Eu sempre falo lá na Assembleia Legislativa e as pessoas dizem: ´Até para você fazer uma critica, você faz com serenidade`. Eu respondo, que o efeito é maior do que você sair xingando os outros. Você fazer um discurso fundamentado, eu acho que o impacto é maior. Eu não tenho problema de assumir meus posicionamentos contra essa Reforma da Previdência. Em 1995 já se tentou fazer essa reforma e eu era o representante dos rurais na Comissão Nacional de Governo. Eu me aprofundei e o maior problema da Previdência são os grandes sonegadores, aqueles que não pagam. A Previdência precisa de alguns ajustes? Sim, mas não estes que estão sendo propostos, pois é o povo que vai pagar o pato. Eu estou dizendo eu não embarco nessa. Eu defendo, por exemplo, que a gente tem de revogar a PEC da Maldade, que congelou gastos por 20 anos para a saúde, educação e segurança. Eu nunca vi na história, o Estado deixar de cumprir seu papel de regulador, que não tenha políticas públicas para o seu povo. Se nós não tivermos saúde de qualidade, educação de qualidade, como é que esse povo vai sobreviver? Nem todos vão conseguir um plano de saúde, entrar em uma universidade particular pagando preços altos. Acho que congelar por 20 anos investimentos públicos não é o caminho do Brasil.

Por: Edmundo Baía Junior

Fonte: RG 15/O Impacto

 

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