BOHEMIAN RHAPSODY – Opinião – Sem spoilers
BOHEMIAN RHAPSODY
Por: Allan Patrick
Gente, será que existem filmes com campo de força contra críticas? Acho que sim, se de repente ele mexer com nossa paixão, nostalgia e com as mais profundas emoções, existe uma grande possibilidade de que a resposta seja sim. Mas a partir desse pensamento teríamos duas possíveis análises, você pode ser um fã e consequentemente se apaixonar relacionando a história diretamente aos seus laços afetivos “do contrário você não seria humano”, porém não deixando de avaliar a produção cinematográfica em um aspecto geral, por tanto, nessa situação é necessário abrir mão de nosso lado emocional e avaliar de forma racional.
A verdade é que um fã nato, dificilmente é um crítico, e sim um avaliador. Mesmo com a opinião de alguém que entende profissionalmente do assunto, percebendo os defeitos, ainda sim, pode não encontrar provas, razões e motivos suficientes para não aceitar de forma positiva a tal obra por inteiro, essa vertente se relaciona a qualquer fã e seu ídolo, seja no âmbito da música, esporte ou história. Para ser sincero, não conheço a história do “Queen” com detalhes, mas sou um grande fã das músicas e dos feitos da banda.
Freddie Mercury é sem sombra de dúvidas um ídolo para milhões. Naturalmente, “Bohemian Rhapsody” se torna um filme extremamente interessante de desperta em qualquer fã uma gigantesca expectativa, posso inclusive afirmar que muitos que já amam a obra antes mesmo de poderem conferi-la. Tenho certeza de que todos os fãs irão amar, assim como eu, mesmo que o longa dirigido por Bryan Singer (X-men e Superman o retorno) não tivesse nenhuma qualidade, a boa notícia é que sim, esse filme tem muitas.
Mas deixando a grande emoção provocada por esse filme de lado, soube que esse filme teve diversos problemas em sua produção, como troca de atores, Sacha Baron Cohen era o protagonista originalmente planejado pelo estúdio; um escândalo sexual envolvendo o diretor Singer, que segue creditado como único comandante da obra, apesar de não ter finalizado o longa, foram alguns dos problemáticos detalhes de bastidores do filme. O filme, no entanto, ultrapassa os empecilhos criados por tais situações e se mostra uma produção exuberante. “Bohemian Rhapsody” é enérgico e acelera sem pisar no freio. Constrói uma crescente narrativa, mesclando de forma bem dosada humor, drama, e claro, as canções imortais do “Queen” ponderando os momentos certos. Confesso que meus pés não paravam nem por um segundo durante o filme; nossa que filme gostoso de assistir!
A trama não tem muito mistério, servindo como relato crônico da vida do jovem “Farrokh Bulsara”, descendente de uma família de indianos morando em Londres com os pais e irmã. O sonho subversivo, rebelde e a veia de artista pulsante o conduzem diretamente ao encontro de Brian May (Gwilym Lee) e Roger Taylor (Ben Hardy), juntos constituindo a primeira formação do que viria a ser uma das maiores bandas a passar por este planeta. Ao assumir o nome “Freddie Mercury” o cantor e seus companheiros seguiram rumo ao estrondoso sucesso, precisando lidar com diversos percalços, entre eles a descoberta da verdadeira sexualidade do vocalista da banda e sua consequente egolatria.
Avaliando a forma narrativa de “Bohemian Rhapsody”, trata-se de um filme superdinâmico, certeza de entretenimento garantido. Agora cronologicamente, são outros quinhentos. Para uma biografia, o longa de Singer deixa mais buracos do que as ruas de Santarém o que pode criar a revolta e a fúria de grande parte do público que conhece de forma decorada a trajetória histórica do grupo. Entre os furos, o mais óbvio é o que coloca a clássica apresentação no primeiro Rock in Rio cinco anos antes de ter verdadeiramente ocorrido. Se fosse apenas isso, seria perdoado, mas o longa desestrutura diversos outros fatos, colocando-os fora de ordem temporal. Para ser sincero esse detalhe não prejudicou em nada minha experiência, como já mencionei, não conheço de forma íntegra a história da banda.
Outra coisa extremamente positiva encontrada aqui, é a performance de protagonista de Rami Malekna na pele de Mercury, o cara é o Freddie apesar da pouca semelhança, os trejeitos do cantor, os vícios e cacuetes, a forma excêntrica que sempre marcou suas apresentações, me convenceu 100%. “Bohemian Rhapsody” entrega cenas reais e extremamente emotivas, fazendo sua qualidade dramatúrgica sobressair às deficiências. O longa é muito divertido para ser negado. E o que dizer da cena final. Que cena amigos! Uma virtuosa escolha técnica dos envolvidos, que surge como aula de plano-sequência e posicionamento de câmera, mesclados com efeitos precisos da platéia, nos embarcando por completo na apresentação do “Queen” no Live Aid, com um momento grandioso atrás do outro. Neste trecho, Malek e Mercury se fundem num só, ao melhor estilo “Goku e Vegeta”, a potência performática do jovem protagonista contagia mesmo contra a vontade. É impossível resistir a tanta nostalgia e empolgação. Foi uma verdadeira viagem assistir esse filme. Vida longa à Rainha! Recomendo, minha nota: 7,0!