ROBIN HOOD – A ORIGEM | Opinião sem Spoilers

ROBIN HOOD – A ORIGEM

(Robin Hood – Origins)

Por Allan Patrick

Entre as grandes apostas para o final deste ano está a aventura Robin Hood – A Origem, protagonizada por Taron Egerton (Kingsman) e Jamie Foxx. Mais uma vez investindo na lenda histórica do famoso arqueiro, que supostamente existiu no Século XII, contemporâneo do Rei Ricardo Coração de Leão. Na mitologia, Robin Hood foi um nobre renegado, se tornando fora da lei e agindo nas florestas britânicas de Sherwood, roubando dos ricos para dar aos pobres. Robin Hood é um dos personagens mais adaptados ao cinema e TV da história do audiovisual. Para desenrolar a lógica da releitura Robin Hood: A Origem, o diretor Otto Bathurst ao lado dos roteiristas estreantes Ben Chandler e David James Kelly fizeram um filme na linha da linguagem dos vídeo games, exagera deliberadamente nas cenas de ação e esbarra no inverossímil que chega a ser até ridículo em alguns momentos, afastando a conexão do público com a história.
Como uma figura lendária da Inglaterra, Robin Hood (Taron Egerton) é o imaginário do lema ‘faça a coisa certa, mesmo se parecer errada’, ou, em outras palavras, ‘os fins justificam os meios’. A busca de desmoralizar a política e religião é bem intencionada, com algumas frases de efeito, declarações de estupro pela igreja e a representação de um clérigo sem escrúpulos. Contudo, essas faces são exageradas e tornam-se consequentemente caricatas.
Originado de uma história lendária de revolução, sinceramente para mim, Robin Hood: A Origem parece uma sátira cômica da história. A começar pela total falta de cuidado com a ambientação e o figurino um pouco quanto moderno, algo que acredito ter sido proposital para criar uma relação mais próxima com o público jovem, no entanto, soa como um bom desleixo. Ambientado na época medieval, no período da Guerra das Cruzadas entre 1095 e 1291, o capuz de Robin e todos os outros representados no filme, parecem terem saído de uma loja de grife. Este é apenas um detalhe entre várias vestimentas fora de contexto, como na festa de gala com mulheres de macacões coloridos e outros personagens com piercing no nariz. Apesar do notório carisma de Taron Egerton(Kingsmans: Serviço Secreto), o novo Robin Hood infelizmente não tem nenhuma personalidade, ou melhor, a jornada do herói não tem evolução concreta. Ele passa de um soldado desenganado, para um desertor, um sujeito em busca da mulher amada (Eve Hewson), um boneco de vingança manipulado por Little John (Jamie Foxx), e “lidera” uma revolução, sem nenhum ponto de virada no percurso.
Além disso, o casal principal, Robin e Marian, também não funciona e o triângulo amoroso, com Will Scarlet (Jamie Dornan), pior ainda. Em contradição à sua própria montagem, o enredo apoia-se na construção de um segundo vilão por conta de sua desilusão amorosa, ou seja, apenas mais uma falha neste festival de equívocos.

O Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn) semelhante a Kylo Hen de Star Wars: Os Últimos Jedi (2017) quer fazer maldades com todas as pessoas e declara que fará maldades sórdidas, tal como “vou espalhar o seu sangue pelo chão de toda cidade para os cachorros lamberem” ou “vou matá-lo fervendo-o em sua própria urina”. O grande vilão, portanto, é apenas um sádico devolvendo ao mundo os seus sofrimentos de infância. Com uma melhoria de diálogos, ele talvez poderia ser um antagonista melhor aproveitado. Nossa esse filme tinha tudo para dar certo, afinal o filme custou um pouco mais de 40 milhões de dólares.
Robin Hood: A Origem ressalta os efeitos de câmera, tanto que a mesma cena ganha pontos de vistas diferenciados; utiliza à exaustão o “slow motion” a cada labareda; e destaca ao máximo o uso do arco e flecha como a única arma possível, as espadas, o maior poder bélico das guerras santas, possuem pouco destaque. A produção executiva é do ator Leonardo DiCaprio, Robin Hood poderia sair direto para as estantes das lojas de vídeo games, pois o Príncipe do Ladrões tornou-se um pistoleiro de arco e flecha, usando sua arma branca tal como um fuzil, sempre em posição de combate e com disparo de quatro flechas juntas ou mais. Sem falar em suas estripulias de Velozes e Furiosos, só que com cavalos e carroças pulando de telhado em telhado em grande velocidade.
Uma coisa positiva, talvez a única, é sem sombra de dúvidas a computação gráfica do filme, arrebenta, mas não encontramos muita lógica nas sequências. O objetivo alcançado é a sensação de alucinação, com cortes a torto e a direito e efeitos de câmera lenta a cada flechada, que quebra a parede, a cada labareda que se acende ou, até mesmo, quando Robin faz uma careta de dor. Para além de tudo isso, o novo Robin Hood tem algumas cenas bem engendradas e piadas que funcionam, mas definitivamente esse filme não precisa existir. Minha nota 4,0.

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