Tânia Brasileiro: “Não adianta escola de luxo, se você não compartilhar alegria junto com seu filho”

Inicia-se mais um ano letivo para as crianças. Diante da correria do dia a dia, como pais e responsáveis temos de ficar atentos quanto a alguns aspectos na condução do processo educativo dos pequenos.

De acordo com a professora doutora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), é necessário conhecer o perfil da criança, e também os valores e princípios que a família acredita ser a base de seu desenvolvimento. Também é necessário visualizar esta realidade, junto ao projeto pedagógico da escola.

“Inicialmente conhecer seu filho, ao conhecer seu filho, claro os pais têm de levar em conta os seus princípios e seus valores, o que eles consideram ser uma infância. Porque dependendo desse enquadramento, que essa família der, essa criança poderá ser melhor atendida ou não na escola que eles vierem escolher”, explica a especialista.

Outra questão muito comum, dos pais de primeira viagem, se refere à idade ideal para a criança ir à escola. “O que a gente não pode é ver a escola como a única opção, como um depósito para entregarmos os nossos filhos. Ao mesmo tempo que a sua filha tem você em casa dando qualidade nessa relação, fazendo todo processo de estimulação, massagem, a brincadeira, os estímulos mais variados, com jogos, cores, a possibilidade de experimentar várias situações lúdicas, isso complementa o que ela vai encontrar na escola. A fase da creche é onde percebemos a maior gravidade no Brasil, pelo despreparo muitas vezes dos profissionais que estão à frente. Muitos veem como um tomador de conta da criança, muito pelo contrário, os dois primeiros anos são os que mais precisam de uma pessoa extremamente especializada, pois tem todo um processo de estimulação da psicomotricidade, de ampliar esse espaço de vida dela, que é do corpo para fora, e não enquadramento como eu digo de botar numa cadeira, de sentar numa mesa, de dar uma folha de papel, quer dizer, você reduz o espaço de expressão dessa criança, a um papel A4, enquanto que ela de trabalhar a lateralidade, ela tem que trabalhar em cima e embaixo, para frente e para trás, quer dizer, toda essa parte de exploração corporal, tanto da motricidade fina, como da motricidade mais grossa dos membros superiores e inferiores, isso ajuda posteriormente na alfabetização e muita gente não faz essa ligação, liga alfabetização apenas a códigos, letra e números mas ela começa com próprio corpo”, expôs a professora.

A TERCEIRIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: Via de regra, como pais ou responsáveis de uma criança, alinhados por uma rotina de compromissos profissionais, abrimos mão do tempo de convivência com nossos filhos. Como resultado, não é raro deixá-los horas a fio utilizando as telas: assistindo à TV, utilizando computadores, tabletes e smartphone. Sobre esse aspecto, a professora doutora da Ufopa estabelece:

“Foi o grande desafio da mulher, na hora que ela se emancipou, na hora que ela conseguiu ter espaço na sociedade, de direito dela. Nesse momento vem o desafio de como encontrar esse equilíbrio. Entre você se realizar enquanto pessoa, enquanto profissional e, se fez a opção, enquanto mãe. Então, nesse momento que você tem um filho, você muitas vezes transfere sua responsabilidade – isso a gente ver com muita frequência – à televisão, à babá, se não é a mãe, se não é o pai, se não é avó. Se você optou por ter um filho, a escolha da escola deve complementar a possibilidade daquilo que você não pode dar em casa. Quando você pergunta sobre essa terceirização, ela é feita primeiro ao contratar uma babá, muitas vezes, quando a pessoa não tem condição financeira, é quem? São as crianças maiores tomando conta das menores. Tem uma coisa muito grave, que eu vejo, que muitas vezes os pais colocam as crianças frente à televisão ou tablet ou mesmo ao celular com joguinhos, sem antes ver esses jogos, assistir esses programas. Porque tem desenhos animados que estão destruindo o núcleo familiar. Se você observar, as crianças estão tratando mal o velhinho da história, o pai e a mãe, debocha, aí depois não vai saber porque que a criança deixou de te respeitar. A questão do respeito também no âmbito da família, muitas vezes não só pela falta do exemplo, porque a gente sabe que a criança pequena tem um adulto como referência ou aquele parceiro correspondente à sua idade. Então, ele se espelha nesta primeira fase e se a própria família não dá exemplo, depois, também não pode reclamar que o filho não está tendo um bom comportamento. Em grandes cidades, você vê mulher trabalhando e o marido é quem está tomando conta da criança. Mas normalmente, está ali fisicamente presente, mas transfere, terceiriza para a televisão, para o tablete. É importante? Claro que é importante ter acesso. Em nenhum momento somos contra esses meios de comunicação. Mas o quanto? É necessário sempre procurar, junto com a criança,observar e questionar: ‘e aí, você está assistindo o quê? Que bacana!’ Tem que dialogar. Porque aquilo vira um conteúdo de aprendizagem, mas não simplesmente como uma transferência de responsabilidade.

Complemento, dizendo aos jovens, que não deixem de ter filhos. Porque a gente está vendo que o nosso país baixou significativamente o índice de nascimentos e a gente não pode, num país tão lindo como esse, que os jovens se omitam de assumir uma responsabilidade que é muito grande e que vale a pena. É maravilhoso. Uma criança nos ensina todo tempo. Então, o que eu posso dizer para os pais hoje, que já são pais, é que amem seus filhos, se permitam ser pais e mães, porque isso é o que mais vale para uma criança. Não adianta escola de luxo, não adianta brinquedos caros; o que precisa é você compartilhar a alegria de estar vivo”, conclui Brasileiro.

Por: Edmundo Baía Junior

Fonte: RG 15/O Impacto

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