Transporte Público em Santarém: reclamações vão desde a falta de ônibus no Enem a motoristas que não param
Enquanto continua o imbróglio para definir quem comandará o transporte público em Santarém, os passageiros dos coletivos seguem sofrendo com o péssimo serviço ofertado por muitas das empresas de ônibus da cidade. As reclamações são das mais variadas, desde os veículos sucateados, até a falta de educação de motoristas e cobradores.
Um caso como esse foi registrado nesta semana pela estudante Adria Santos. Segundo ela, o ônibus que tem que pegar para voltar para casa – na comunidade Cucurunã – não tem parado para ela durante a noite. A acadêmica afirma que isso já aconteceu em pelo menos três oportunidades.
“Quando saio da faculdade tenho que ir para uma parada de ônibus, só que a mais perto da faculdade é muito mal iluminada e perigosa. Aí eu tenho que ir para outra, que é melhor iluminada, mas sempre que estou lá ele (o motorista) não para. Questionei uma vez o cobrador e ele disse que ali ele não para mesmo, porque não está no itinerário. Ou seja, quer dizer que eu tenho que ficar em uma parada escura e deserta à noite porque o motorista não vai parar em outra melhor iluminada? Acho isso ridículo”, comenta a estudante.
Após ser deixada várias vezes no ponto de ônibus, ela resolveu entrar em contato com a empresa que cobre tal linha e eles não lhe deram nenhuma resposta satisfatória. Ainda que saibam da situação, o motorista continua não atendendo as reivindicações da estudante, que segue indignada com tal situação.
“Reclamei para a empresa de ônibus sobre um motorista que se recusa a parar pra mim numa parada mais iluminada à noite e hoje ele não parou pra mim na Rui Barbosa sentido centro e quando foi na volta eu fui correndo pra dentro do ônibus e ele acelerou bem quando eu tava subindo para o ônibus e o cobrador se recusou a me dizer o nome dele”, relata a estudante universitária Adria Santos!
ÔNIBUS EM DIA DE ENEM: Outra reclamação de muitos estudantes também foram registradas no fim de semana, quando foi realizado o segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Santarém. Segundo alguns candidatos que fizeram a prova, houve uma grande demora para a chegada de coletivos nas paradas.
“Eu moro no bairro Caranazal, mas acabei tendo que fazer a prova do Enem em uma escola no bairro Nova República. De início não me preocupei porque sabia que tem ônibus para lá que passam perto da minha casa, só que no domingo eles simplesmente sumiram. A prova começava às 13h e quando deu 11h eu já tava na parada de ônibus, para assim poder chegar adiantando. Só que este ônibus não passou de forma alguma, fiquei na parada que nem um otário até as 12h15 e nada de ‘busão’. Acabei tendo que voltar em casa, pegar e emprestar dinheiro de alguém para poder pegar um moto-táxi. Felizmente consegui chegar a tempo e fazer a prova sem nenhum outro problema, mas é importante lembrar o seguinte: e quem não tinha dinheiro para pegar uma moto? Quem dependia desse transporte para chegar ao local da prova? Eu até tive sorte, mas teve quem não conseguiu”, comenta Jean Martins, estudante do 3º ano do ensino médio e que fez o Enem pela primeira vez.
“Pegar ônibus em Santarém é só para passar raiva, a verdade é essa. Semana passada eu estava voltando para casa – no bairro Mararu – e o Ônibus demorou uma 45 minutos para passar. Apesar de dar muita raiva, a gente vai até se acostumando com esse serviço ‘meia-boca’, só que neste mesmo dia, uns 10 minutos depois de eu entrar no ônibus, ele quebrou. Aliás sempre vivem quebrando esses ônibus, coisa ridícula. Tivemos sorte que passou outro de uma empresa diferente e acabou entrando todo mundo. Ficou lotado, gente para todo lado, mas consegui chegar em casa, ainda que quase duas horas depois de ter saído do trabalho”, afirma Renato Vasconcelos, vendedor.
De acordo com o autônomo Antônio Carlos Felix, os problemas são bem maiores, tendo as empresas como principais responsáveis, além do poder público – que não dá condições adequadas para trafegabilidade dos veículos. Segundo ele, os motoristas e cobradores também tem sua parcela de culpa.
“Eu até entendo que algumas coisas não são culpa de cobrador e motorista, como por exemplo, o valor das passagens e os ônibus acabados. Até aí tudo bem, mas serem mal educados com os passageiros, não darem troco, não pararem nas paradas e ficarem apostando corrida são coisa deles, culpa deles. Se você está prestando um serviço para as pessoas, deve tratar as pessoas bem, independente de qualquer coisa”, afirma Antônio Carlos Felix, autônomo.
LICITAÇÃO E ÔNIBUS CHINESES: Quando tudo caminhava para a rescisão de contrato entre a Prefeitura de Santarém com a Resende & Batista – vencedora da licitação para o transporte público na cidade – eis que surge uma reviravolta. A empresa passou a ter um novo sócio (Marcio Lassance) e voltou a se chamar “Monte Cristo”. Em audiência de conciliação na Justiça, a empresa apresentou uma nova proposta para a prefeitura: trazer 110 ônibus elétricos chineses e novos – tudo financiado por um banco chinês.
Segundo informações, um dos então sócios da empresa, o senhor João Batista foi atrás de Marcio Lassance em busca de ajuda para conseguir resolver o problema da licitação. Ele, que é sócio-proprietário da empresa Star Bus, representante de empresas chineses que produzem ônibus elétricos, aceitou entrar na sociedade e se tornou sócio-majoritário da agora Monte Cristo.
É graças a ele que tal nova proposta foi apresentada a prefeitura de Santarém, que concordou em dar até o dia 30 de novembro para que a empresa apresente um cronograma detalhado de operação e documentos da aquisição dos ônibus. Transcorrendo tudo dentro do novo prazo, os novos ônibus iniciariam a operação em abril de 2020.