Artigo – Derrubar estátuas apenas não nos livra de crimes do passado ou do presente
Por Oswaldo Bezerra
A Grã-Bretanha está imersa em uma revolução. O alívio da elite dominante do país, é não passa de uma revolução cultural, e não econômica ou política.
Lutando contra uma recessão econômica de dimensões históricas e observando uma das mais terríveis estatísticas Covid-19 do mundo, a Grã-Bretanha está em convulsão.
Até pouco tempo, os crimes hediondos cometidos em nome do império britânico eram considerados como pecados de pouca importância, absolvidos por Deus e pelo povo. Deus salve a rainha! A revolução cultural que hoje passa o país fez a coisa mudar de figura, e justificou que a estátua do fundador dos escoteiros, Robert Baden-Powell, racista homofóbico e apoiador de regimes nazistas, fosse dar um mergulho do mesmo jeito que aconteceu com a estátua do comerciante de escravos Edward Colston.
Surgiram hipócritas que lamentavam o que aconteceu com a estátua de Colston que sofreu o mesmo destino que dezenas de milhares de suas vítimas jogadas ao mar, geralmente, mas nem sempre, mortas, de seus navios negreiros. Acharam que a derrubada da estátua foi um ato “antidemocrático”.
Cecil Rhodes, que possui uma estátua que domina paisagem da Universidade de Oxford, é certamente um exemplo da flagrante da venalidade racista. Ele não era apenas um racista e imperialista brutal; ele sistematizou o racismo, abrindo caminho para o apartheid, em um país que, por um tempo, tinha seu próprio nome: Rodésia.
O triunfo da política de identidade sobre a política de classe, é o estímulo com o qual milhões de pessoas em todo o mundo despejaram coragem e energia nos protestos da Black Lives Matter. Contudo, até os dias de hoje a Grã Bretânha continua com o joelho do crime do imperialismo em cima dos pescoços, mas não recebem atenção de protestos.
Vidas não parecem ter importância no Iêmen, por exemplo, onde pragas e fome de proporções bíblicas são exacerbadas por ataques britânicos e norte-americanos, que mataram centenas de milhares de pessoas. Não estamos falando de séculos passados. Estamos falando de hoje.
A vida dos árabes na Síria não importou para mais de uma dúzia de pessoas na Grã-Bretanha ao longo de já quase uma década de apoio militar, político, financeiro e de propaganda explícito para destruição da secular República Árabe.
Quando os negros são pendurados como frutas nos mercados na Líbia após a invasão do Reino Unido / EUA / França e a sodomização com uma baioneta de seu líder, os liberais como Hillary Clinton, seu marido Bill Clinton e David Cameron literalmente deram gargalhadas.
Na Grã-Bretanha, ocorreu mais de 60.000 mortes em excesso foram relatadas pelo Escritório de Estatísticas Nacionais e pelo Financial Times em apenas alguns meses em 2020, um número desproporcional dessas mortes foi sofrido por cidadãos negros e de outras minorias. Aquelas vidas negras não parecem ter muita importância.
Sim, há uma repulsa justificada pelos crimes do imperialismo britânico nos séculos anteriores, traduzida em uma determinação de pôr fim à posição (padrão) britânica de interferir em todas as partes do mundo, incluindo invasões.
Os crimes britânicos do passado não aconteceram porque os criminosos eram britânicos. Eles não aconteceram porque os criminosos eram sociopatas e, muitas vezes, possivelmente psicopatas, embora muitos deles fossem, a julgar por suas ações.
O capitão Cook não decepou membros dos nativos africanos porque amava a visão do sangue (embora pudesse) mas, porque tratava do negócio da conquista e do império. E império está acima dos negócios. A Grã-Bretanha conquistou grande parte do mundo não para distribuir bíblias, mas para saquear tudo o que podiam carregar, incluindo, na forma de escravidão, as pessoas das terras invadidas.
O imperialismo é inevitavelmente um desenvolvimento de nosso modelo capitalista, a necessidade de mercados cativos e fontes de trabalho baratas (preferencialmente gratuitas), mercadorias básicas e matérias-primas.
No final, não foi a classe trabalhadora britânica que se beneficiou do Império Britânico, nem os escravos assalariados. Povos colonizados e escravos tiveram o mesmo inimigo, que se alimenta do sangue, suor e lágrimas de todos nós. O inimigo está em sua casa. Não no século XVII mas, agora.
RG 15 / O Impacto
Eu, definitivamente, concordo com a chamada do artigo, porém, é inegável o alívio que deve ter sido, especialmente para aqueles que sofreram ou tiveram antepassados que sofreram nas mãos das pessoas das estátuas, em derrubar e destruir essas tais estátuas.
Sinceramente, parando pra pensar muito nesse pouco tempo de vida que vivi, acredito eu que esse sistema que vivemos, ou que estamos impostos a seguir desde que nascemos, é o real problema. Não vou dizer que o capitalismo é ruim, e é, mas essa desigualdade que existe, e que tem que existir, porquê é exatamente assim que é, para um prosperar, outro tem que sucumbir, é assim que funciona o sistema num todo.
Teríamos que rever o nosso modo de viver porquê não é difícil, paremos pra pensar um pouco. Todos precisam de comida, todos precisam de água, todos precisam de energia, educação, etc, então temos que dar um jeito de prover tudo pra todo mundo, esse seria o certo. Mas a ganância, a soberba e o egoísmo estão acima de tudo e de todos. Se EU estiver de boa, então o resto está de boa. Não era pra ser assim.
Mas já que está tudo assim, só nos resta sobreviver até concluirmos o nosso tempo aqui, do jeito que for e do jeito que temos condição.
Por isso o artigo diz que o problema está em nossa casa. É o nosso modo de viver.