Artigo – Pânico no mercado faz “Fed” preparar revisão monetária sem precedente
Por Oswaldo Bezerra
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e outros funcionários do Fed alertaram que a política monetária não poderia tirar a economia dos EUA do “buraco profundo”. Com as taxas de curto prazo sendo negociadas perto de zero e com expectativa de permanecer perto de zero por um futuro indefinido, o Fed enfrenta um dilema.
Não é possível afrouxar mais a política monetária sem levar as taxas para território negativo, que tem pouco sucesso em reviver a atividade econômica. O mercado não está convencido de que o Fed vai cruzar a linha zero, o que significa que a política monetária pode não vir em seu socorro.
Foi preocupante a recusa dos bancos norte-americanos em participar do mecanismo de empréstimo de US$ 600 bilhões da Main Street do Fed, que visa pequenas empresas. O número de pequenas empresas nos Estados Unidos em operação caiu 24% e suas receitas caíram 21%.
Na última década, mesmo com turbulência política e crescente instabilidade social e geopolítica, duas coisas eram ponto pacífico, o “mercado” continuaria em alta com o Fed injetando, infinitamente, liquidez no sistema. O segundo era que os salários dos trabalhadores permaneceriam estagnados.
O fracasso do Fed em gerar inflação (para queimar trilhões de dóalres emprestados) está gerando deflação. Os cortes nas taxas do Fed agora são deflacionários. O intento de conserto do Fed não está tendo resultado e está criando a maior bolha de preços de ativos da história.
Sua via de estímulo preferida não consegue impulsionar a economia, acaba criando reservas excedentes destinado-se aos bancos comerciais, nunca pegam o caminho para o nível do consumidor.
Após as paralisações da pandemia, o Fed tentou um curto-circuito neste processo e, em conjunto com o Tesouro, lançou “dinheiro de helicóptero”, que resultou em uma transferência direta de fundos para corporações dos EUA via empréstimos PPP, bem como para consumidores finais, por meio de benefícios de desemprego semanais de emergência de US$ 600 que, no entanto, devem expirar logo.
É lamentável que, mesmo quando a economia precisou desesperadamente de um tsunami de liquidez maciça, os fundos criados pelo Fed e pelo Tesouro não chegaram até aqueles que mais precisam deles: consumidores finais. O problema mais crucial e difícil, que o Fed enfrenta, é levar dinheiro rapidamente para as pessoas que mais precisam em uma crise.
Os economistas do Fed propõem a criação de uma ferramenta monetária chamada de “títulos de seguro contra recessão”, que utiliza alguns dos adiantamentos em pagamentos digitais, que serão transmitidos instantaneamente aos cidadãos.
Neste plano, o Congresso concederia ao Federal Reserve uma ferramenta adicional para fornecer apoio de 1% do PIB, igualmente dividida e distribuída para famílias em recessão. Os títulos de seguro contra a recessão ficariam à espera. O gatilho seria o limite mínimo zero das taxas de juros ou um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa de desemprego. O Fed então ativaria os títulos e depositaria os fundos digitalmente nos aplicativos das famílias.
O Congresso norte-americano demorou muito para levar o dinheiro às pessoas, e foi de maneira desajeitado. Em um modelo mais dinâmico, o Fed deveria comprar os títulos rapidamente sem ir ao mercado privado. Os títulos seriam pagos com dólares digitais nas contas das pessoas.
O Fed está propondo a criação de uma moeda legal digital híbrida, ao contrário das reservas que estão presas no sistema financeiro e que pode ser depositado diretamente nas contas de consumidores. O Fed está planejando enviar dinheiro diretamente para os cidadãos na próxima crise.
A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, fez um discurso no Simpósio de Pagamentos de Chicago intitulado “Pagamentos e a Pandemia”, ela afirmou: “a experiência com pagamentos de emergência pandêmicos trouxe à tona uma ideia que já estava ganhando atenção nos bancos centrais ao redor do mundo, ou seja, a moeda digital do banco central”.
Cada cidadão deverá ter uma conta no Fed na qual os dólares digitais poderiam ser depositados, como passivos dos Bancos do Federal Reserve, que poderiam ser usados para pagamentos de emergência.
O que isso pode acarretar? O Fed seria capaz de se livrar da moeda fiduciária (física) e rastrear cada nota de sua “criação”, através das várias transações que acontecem durante sua vida. Também poderia “destruir” remotamente essa moeda digital quando assim o decidir. No processo, o Fed eliminaria efetivamente os bancos comerciais, tornando obsoleto todo o sistema bancário tradicional.
O Fed está finalizando as últimas etapas de um processo que revolucionará todo o sistema monetário fiduciário, lançando dólares digitais que efetivamente removem os bancos comerciais como intermediários financeiros, já que permitirão que o próprio Fed faça depósitos. Também tornará o Congresso e o Legislativo redundantes, à medida que um punhado de tecnocratas assumirá o controle dos Estados Unidos.
RG 15 / O Impacto