Artigo – O movimento antivacina ganha força em todo o mundo, mas quais seus argumentos?
Por Oswaldo Bezerra
O debate entre pró-vacina e antivacina era um tema menor e que passava despercebido. Nos últimos 20 anos foi aumentado em intensidade. Com a erupção da pandemia de Covid-19 esta discussão se tornou o centro das polêmicas científicas e políticas em todo o mundo.
Este movimento antivacina foi originado na internet? As vacinas causam autismo? Ainda são necessárias? Qual é o papel das grandes farmacêuticas em tudo isso? Há várias frações entre um ponto e outro, mas o ponto certo pode não estar exatamente no ponto central.
Os antivacinas de onde vem e para aonde vão? O número de pessoas que decidem, por algum motivo, não vacinar seus filhos, está em alta. Mesmo que a maioria das pessoas do mundo (92%, segundo a Global Monitor 2018) pense que seja importante vacinar seus filhos, a desconfiança aumenta. Em várias nações européias, mais de 20% das pessoas consideram inseguras.
A desconfiança sobre as vacinas é mais comum em pessoas com rendas altas. Já as classes mais populares estão mais propensas a vacinar seus filhos. Uma pesquisa da Sociodemograph Predictiors of Vaccination Exemptions on the base of personal belief na Califórnia, em 2015, demonstrou que a não vacinação dos filhos, por crenças pessoais, eram o dobro nas escolas particulares em relação às públicas (2,8% conta 5,4%).
Em outro estudo, feito pela Philadelphia Iquires, foi demonstrado que o perfil das pessoas anti-vacinas era de: mulheres, brancas, com rendas anuais maiores que R$ 300 mil e consumidores de comidas orgânicas.
Esse aumento de pais adeptos da doutrina anti-vacina fez com que, em escala global, o número de casos de sarampo aumentasse 300% no início de 2019 (de 28.124 em 2018 para 112.063 em 2019). Este aumento da transmissão de sarampo resultou em quase 110 mil mortes em consequencia desta doença.
O movimento antivacina cresceu na mesma proporção da internet. É na internet que as teorias se espalham mais rápido. Não se engane, os movimentos antivacinas são bem mais antigos.
A primeira vacina foi inventada pelos chineses no século X. O método consistia em expor pessoas sãs a tecidos ou excrementos de enfermos quando a infecção esta fraca. O objetivo era fazer com que as infecções fossem menos graves nas pessoas sãs. Isso foi mil anos atrás, quando os chineses apenas se baseavam na tradição oral e no ensaio e erro. Por vezes, o procedimento não sai bem.
Levou séculos para que este procedimento fosse sistematizado cientificamente. Foi em 1796 que campesinos contaram ao médico rural Edwar Jenner como as mulheres ordenadoras de vacas contraiam a varíola bovina, pouco graves em humanos. Estas mulheres jamais se contagiavam com a forma letal desta doença.
Os pequenos agricultores acreditavam que, de alguma forma, a variante bovina protegia as mulheres da forma letal da varíola. Na época, esta doença matava 30% das pessoas que a contraíam. Eles não estavam errados.
Jenner infectou um menino saudável de 8 anos com pústulas da mão de uma ordenhadora infectada pelo vírus da varíola bovina. Depois que o menino se recuperou desta forma leve da enfermidade, o médico o deixou exposto à varíola mortal, mas a criança não desenvolveu a enfermidade. A varíola de vaca (que quer dizer vacina) o deixou imune.
Jenner não foi o pioneiro a usar esta técnica, mas foi o pioneiro em sistematizar e descrevê-la cientificamente e publicá-lo. O fundamento foi o mesmo usado pelos chineses 800 anos antes. Basicamente, treina nosso sistema imunológico a reconhecer a forma de vírus mais leve, para que quando combata a forma mais perigosa saiba como eliminá-lo. Este é o fundamento até hoje usado para criação de vacinas.
O conhecimento de Jenner e sua contribuição para a Ciência médica não demorou a encontrar detratores. Milhares de pessoas saíram às ruas em protestos contra a imunização da varíola. Houve rumores de mortes de crianças após a vacinação. Muitos alegaram também que o procedimento poderia infectar as pessoas com outras doenças como a sífilis, por exemplo.
Em 1866 nasceu a liga nacional anti-vacina no Reino Unido. Esta liga pregava o fim das vacinas que as consideravam a maldição do país. Apesar de estas ligas crescerem, e se espalharem por todo o mundo, nunca tiveram grande impacto na opinião pública. Isso foi por conta do efeito positivo das vacinas.
Só no século XX, a varíola matou 300 milhões de pessoas no mundo. Graças a um esforço mundial, a vacinação em massa em todo o planeta, em 1980, a doença foi erradicada. A erradicação foi de forma definitiva a uma doença que castigou a humanidade por 3 mil anos. O sarampo matava 2,6 milhões de pessoas por ano. Campanhas de vacinação em massa, iniciada em 1960, reduziu esta mortalidade em 80%.
Os dados dos efeitos positivos das vacinas são contundentes. Como é possível então que os movimentos anti-vacinas, em vez de diminuir, estão aumentando? Para os cientistas, simplificam estas questões dizendo que estas pessoas são ignorantes e que precisam ser vacinadas, a força se necessário. A verdade é que o assunto é bem mais complexo.
Nestes temas em que a Ciência dá todo o respaldo, o que se imaginaria é que os movimentos antivacinas não passariam de uma associação anedótica e ultra-minoritária. Acontece que, em 1998, a prestigiosa revista científica The Lancet publicou um estudo do médico gastroenterólogo, Adrew Wakefield, que encontrou conexões da vacina tríplice contra sarampo, papeira e rubéola com a enfermidade inflamatória intestinal, que poderia desencadear transtornos do espectro autista.
O estudo foi embasado no estudo de apenas 8 crianças. Seus colegas demonstraram as diversas falhas do trabalho. Como conseqüência, a Revista retirou o artigo, mas já havia sido amplamente difundido. Wakefield tomou esta ação como uma gigantesca conspiração. O médico passou, desde então, a liderar uma cruzada anti-vacina até os dias de hoje.
Depois do seu artigo, as taxas de vacinação para sarampo e papeira caíram 90% para 80%. Taxa que se refletiu no aumento do número de doentes e mortes. Poucos anos depois, Wakefield perdeu sua credencial médica. O mito de que as vacinas causam autismo ficou no entendimento de muitas pessoas.
Causador de autismo, ou sífilis como se acreditava em 1866, a vacinação passou a carregar a pecha dos riscos do processo de vacinação. Existem efeitos secundários das vacinas, como alergias, que apesar de raras não se pode ocultar o fato que ocorrem. Todo procedimento médico tem seu risco.
O que se tem em conta nestes casos é a relação risco benefício. Quando você toma qualquer medicamento existe o risco de que ele lhe provoque algum dano. Contudo, a possibilidade de cura da doença é estatisticamente bem maior do que te cause um dano. Quando se viaja de avião existe o risco de que o avião caia e voe morra. As chances que você chegue vivo ao seu destino são imensamente maiores.
Outra fonte alimenta os movimentos anti-vacinas. É o próprio sucesso das vacinas. Como as vacinas extinguem enfermidades terríveis, muitas pessoas começam a crer que estas enfermidades não existem. É a mesma lógica de que se puseram semáforos para evitar colisões de carros, hoje estas colisões não ocorrem mais, então qual o motivo de continuar usando.
Outras pessoas preferem não se vacinar para não sofrerem os efeitos secundários. Elas pensam que as doenças para quais as vacinas foram feitas jamais afetarão suas vidas. De fato, para que as doenças não afetem os não vacinados, grande parte da população precisa estar imunizada.
Caso um vírus entre em uma casa com 10 pessoas, e todas estejam vacinadas, de lá o vírus não passará. Todavia, caso haja um não vacinado, o vírus poderá seguir para outra casa e contagiar outro não vacinado. Uma pessoa vacinada protege outras pessoas não vacinadas por motivos de saúde ou por motivo de idade, é a imunidade de rebanho.
O argumento mais importante dos movimentos anti-vacinas está nos movimentos obscuros das farmacêuticas, conhecidas como Big Pharmas. Quem não se lembra das pílulas de farinha vendidas pela Pfizer como anticoncepcional? Isso dá razão as pessoas antivacinas, mas não na conclusão.
Outros movimentos obscuros das Big Pharmas estão a pressa em obter lucro, testes de medicamentos ou vacinas em países pobres, pressa em jogá-los no mercado antes das concorrentes, pressionar agências governamentais para que as aprovem. Nem por isso devemos ser contra elas. Há construtoras que dão golpes, nem por isso somos contra a existência das casas.
A verdade é que os movimentos antivacinas não prejudicam as farmacêuticas, ao contrário, as beneficiam. Podemos fazer uma analogia com o famoso ativista norte-americano Ralph Nader. Nos anos 60, ele denunciou que as fabricantes de carros provocavam muitas mortes nas estradas.
Ele escreveu um livro denunciando os milhares de mortos que os automóveis causavam todos os anos. Como toda transnacional, a General Motors tentou de toda a forma desacreditar o escritor. Chegou inclusive a contratar prostitutas para manchar sua reputação. O presidente da General Motors teve que pedir desculpas publicamente ao senhor Nader, posteriormente, depois de descoberta a perseguição.
O resultado dos argumentos de Nader foi que o Congresso norte-americano precisou se reunir e estabelecer as primeiras normas de seguranças para as indústrias automobilísticas. Em vez de tomar este caminho, imagina se o senhor Nader tivesse tomado a decisão de combater o uso de carros criando a liga anticarros. Estaríamos dirigindo carros inseguros até hoje e a General Motors seria a mais beneficiada, por continuar a produzir carros com menos custos por não possuir itens de segurança.
Do mesmo modo, é mais cômodo para as farmacêuticas um movimento que diga não as vacinas, ao invés de um movimento que exija vacinas melhores e mais seguras. A humanidade precisa de vacina. Nossa média de vida que passou de menos de 30 anos para mais 70 anos graças a existência de vacinas, e a Ciência, e não as mensagens compartilhadas via whatsapp, que o tio Roberto teima em repassar. O cinto de segurança de um carro é obrigatório, por que uma vacina não deveria ser?
RG 15 / O Impacto
A legislação brasileira permite que a vacinação seja obrigatória em casos excepcionais. Apesar das declarações públicas recentes, o próprio presidente Jair Bolsonaro sancionou um projeto de lei que permite a vacinação obrigatória contra a covid-19.
No momento o que causa espanto, e amedronta, é o tempo acelerado para pesquisar, testar e aplicar as vacinas contra o vírus chinês, de 1 a 2 anos, quando o tempo mínimo costuma ser de 4 anos ! Por trás dessa pressa está a ganância dos laboratórios pelo faturamento de bilhões de dólares, incluindo-se aí os próprios chineses, criadores do vírus mortal, se por acidente ou propositadamente, ainda não sabemos, embora já tivessem milhões de máscaras e aparelhos respiradores em estoque quando a pandemia alastrou-se pelo mundo, quanta premonição ! O que mais tememos são os efeitos secundários dessas vacinas, feitas a toque de caixa, assim como ocorreu com o medicamento Talidomida, na década de 60, gerando o nascimento de milhões de bebês mal formados, com aleijões incuráveis !