Brasil recusou vacina a 50% do valor pago por EUA e Europa, diz jornal
O governo Jair Bolsonaro recusou vacinas da Pfizer oferecidas em 2020 à metade do preço pago por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, segundo informações do jornal Folha de S.Paulo.
Poderiam ter sido entregues a partir de dezembro do ano passado até 70 milhões de doses da Pfizer, por US$ 10 cada.
Em agosto de 2020, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, considerou a proposta da Pfizer “agressiva”, apontou entraves em cláusulas do contrato e disse ter considerado muito elevado o preço de US$ 10 por dose. Ainda assim, o valor foi acatado meses depois pela própria gestão de Pazuello.
EUA e Reino Unido pagaram cerca de US$ 20 pelas doses da Pfizer, o dobro do valor recusado pelo Brasil durante vários meses em 2020. Na União Europeia, as doses do laboratório norte-americano custaram US$ 18,60.
A vacinação brasileira com duas doses alcançou 11% da população. Segundo especialistas, na economia, isso trava principalmente o setor de serviços, responsável por 70% do PIB e dos empregos. O colapso nos serviços levou a série histórica de desemprego do IBGE a um recorde: 14,7%, com 14,8 milhões de desocupados.
O Ministério da Saúde diz ter destinado R$ 30 bilhões para a contratação de mais de 660 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. Isso significa que o país está reservando cerca de US$ 9, em média, por dose, valor próximo ao da primeira oferta da Pfizer.
O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou, na última sexta-feira (4/6), que o governo federal ignorou 53 e-mails da farmacêutica Pfizer ofertando doses de vacinas contra Covid-19 ao Brasil.
Com o atraso nos contratos, as primeiras doses da Pfizer chegaram ao Brasil apenas em abril. Oito meses se passaram entre a primeira oferta e a entrega.
Variação de preços
Embora os laboratórios tenham procurado manter sob sigilo valores pagos por governos pelos imunizantes, muitos preços “vazaram” via autoridades de países compradores ou em declarações de executivos das farmacêuticas.
As quantidades e os preços adquiridos pelo Brasil foram obtidos pela Folha em contratos públicos do Ministério da Saúde e declarações de autoridades na CPI da Covid. Parte dos valores também foi divulgada pelos fornecedores — como da Fiocruz — ou obtidos por meio de outros documentos da pasta.
Questionada, a Pfizer no Brasil diz que trabalha com “abordagem de preços diferenciados” para garantir que países tenham acesso ao imunizante. A farmacêutica diz manter o mesmo posicionamento desde as primeiras negociações.
“Aqueles com menor capacidade de pagar pela vacina pagarão um preço mais baixo, de acordo com os recursos de seu governo, enquanto os que podem pagar mais deverão fazê-lo”.
A CPI da Covid tem apurado que a Pfizer queria fazer do Brasil uma vitrine na aplicação de vacinas contra a Covid-19, considerando a experiência brasileira na aplicação de vacinas e a atuação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte: Metrópoles