Moradores do bairro Bela Vista do Juá denunciam represálias dos responsáveis pelo empreendimento Buriti
Por Diene Moura
Os moradores que residem há cerca de seis anos no bairro Bela Vista do Juá acionaram a nossa reportagem para fazer um pedido de socorro relacionado às represálias que estão supostamente ocorrendo na divisa onde esta situado o empreendimento Buruti e a área ocupada pelas famílias que buscam moradia. Segundo os moradores, todos os dias aparecem dois rapazes para intimidá-los com objetivo de retirarem as alocações instaladas na área, pois os responsáveis pelo empreendimento alegam que os pertencem.
De acordo com o morador Marcos Tavares, uma cerca ‘comprova’ o limite de posse dos empresários. E as pessoas só estão ocupando o local porque buscam melhoras, mas estão com medo de algo pior acontecer, pois quando as visitas de intimidação ocorriam sempre haveira a companhia e suporte de pessoas armadas acompanhadas de responsáveis de órgãos ambientais.
‘’Questão que temos a cerca daqui pra cá para, esse lado que você pode ver. É um lugar que não comprova nada pra gente aqui, [não há] uma documentação. A gente tá lutando para viver aqui, estamos lutando para viver mesmo. A razão da gente tá aqui é por causa do nosso amigo que tem a família dele, e como todos aqui estamos procurando a nossa melhora, que até então nós não temos ajuda de ninguém e a gente não sabe como e é isso aí tá acontecendo, mas derrubaram, inclusive você pode ver, derrubaram, cortaram. Então isso é tipo uma agressão, assim, por causa que os policiais veem e a gente não sabe como se livrar deles. Isso pra nós é uma ameaça que não sabemos, que podem chegar a qualquer hora, derrubar com criança, sem criança, mulher grávida e idosos. Então acho que tem alguém que possa falar pela gente”, disse o morador.
Outro morador,que não quis ter a identidade revelada, sendo identificado com as iniciais RG, afirma que houve uma visita no dia 30 de junho em tom de ameaça, e que pessoas em posse de motosserra derrubaram cercas e um ‘barraco’. “Veio uma viatura da Polícia Militar, o Tático, teve motosserra que derrubou, a gente tem as filmagens, a gente não pode deixar isso acontecer novamente, porque essa casa aqui ela tá ameaçada de ser derrubada a qualquer momento. Mandaram eu sair da área , eu falei que não ia sair, só ia sair com uma ordem judicial, então a gente não sabe a quem se apegar no momento. E eu ainda não fiz nada por causa que, apesar de ficar tanto tempo por aqui, é porque eu fico tentando socorrer meus colegas e no momento eu também não tenho como. É por isso que eu tô nessa luta aqui’’, destacou RG.
Outro ponto citado pelos ocupantes do Juá é que um dos argumentos utilizados pelos responsáveis da Buruti seria de que a área onde estão ocupando é de preservação ambiental, no entanto um esgoto passa nas proximidades. ‘’Eles alegam que isso aqui é uma área ambiental, e a gente não destruiu nada, só limpou, tanto que as árvores estão do mesmo jeito que veio. E o esgoto passa aí, aí precisamos de ajuda de alguém que possa ajudar a gente, prefeito ou até mesmo o pessoal da SEMMA. Porque quando a gente precisa de alguém, nós, que somos carentes e pobres… Enquanto eles que dizem que tem dinheiro alegam que essa área é da Buriti, porque eles tem dinheiro, e ninguém vai ficar [com a área]. A gente tá pedindo socorro, tem criança, tem mulher gestante, enfim, se for olhar ao redor tem muita pessoa que necessita, já eles não’’, destacou o morador identificado como Wallace.
Ainda na quinta-feira (8) recebemos um vídeo com duração de dois minutos e vinte e quatro segundos, no qual um morador registra um momento de intervenção na área. Durante a gravação, o morador relata como tudo estaria acontecendo. “A Buriti, Polícia e a SEMMA estão quebrando tudo, tão tacando fogo nas casas, derrubando tudo. Tem um trator ali e não tem ninguém para apoiar a gente, ninguém, ninguém! Estão alegando, a SEMMA tá dizendo aqui… sei que o pessoal da Buriti vai querer tomar posse aqui e tão dizendo que é uma APP (Área de Preservação Permanente). É uma tristeza tão grande, que é muita gente lutando por moradia. E essa casa aqui que eu tô é de um rapaz pai de família”, diz o relato no vídeo.
Em outro vídeo enviado, com duração de nove minutos, imagens mostram a utilização de tratores derrubando as casas de alvenaria e moradores lamentando o ocorrido: ‘’Meu Deus do céu, é muito assustador, a ameaça policial é constante aqui, jogaram barracos dos meus vizinhos, não tem onde morar, estão morando de aluguel e aconteceu essa situação triste e a gente pede o apoio das autoridades. Infelizmente, nós pedimos, mas nos dão as costas porque somos pessoas humildes. Isso nos deixa decepcionados. Triste, né, a gente não pode fazer nada. Creio que isso não veio mandado judicial ou mandado da justiça. Isso foi acerca do poderio militar’’, concluiu a narração de outro morador.
Embora as imagens mostrem a ação de tratores destruindo diversos pontos com a participação de diversos agentes de órgãos ambientais e de seguranças públicas, em nota, a Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Meio Ambiental (SEMMA) informou que a respeito do ponto de invasão em Área de Preservação Permanente (APP), situado nas imediações do Lago Juá, tem realizado fiscalizações na área, a fim de orientar os ocupantes quanto ao crime ambiental. Conforme a legislação vigente, não é permitida a ocupação humana em APP.
A gerência do empreendimento Buriti explicou à reportagem que o local é documentado e a cerca só está dividindo as duas áreas em decorrência do córrego que passa bem ao lado.
RG 15 / O Impacto