Gente Nossa de Sucesso

Felipe Escher Furtado

Felipe Escher Furtado, santareno, 26 anos, filho dos amigos, Marlene Escher Furtado e Sérgio Furtado, formado em Ciências Sociais (2007)pela UFPA (Universidade Federal do Pará) e em Publicidade e Propaganda (2005) pela UNAMA (Universidade da Amazônia) em Belém-PA.

Aprovado em Concurso Público Federal para o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília-DF.

Membro do Serviço Exterior Brasileiro desde setembro de 2008.

Trabalhou na Embaixada do Brasil na Líbia em 2009; no Consulado-Geral do Brasil no Líbano em 2010 e atualmente está lotado na Embaixada do Brasil na Etiópia.

Felipe Escher Furtado é Gente Nossa de Sucesso!

Jorge Serique: Qual é a sua principal função como agente do Serviço Exterior Brasileiro na Embaixada do Brasil na Etiópia considerada como um país pobre e com dificuldades em todos os segmentos?

Felipe Escher:Como em toda representação diplomática brasileira no exterior, nossa principal função é estreitar os laços de cooperação e defender os interesses do Brasil e dos brasileiros aqui residentes, diante do Governo estrangeiro com o qual estamos desempenhando nossas atividades.

Em particular, sou responsável pelo setor de comunicações entre a Embaixada na Etiópia e o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), além de cuidar também das emissões de vistos e passaportes brasileiros no setor Consular deste Posto.

Porém, devido a Embaixada do Brasil em Adis Abeba (capital da Etiópia) estar localizada também na cidade-sede da União Africana (UA), a maior parte do tempo cuidamos de assuntos diversos relacionados aos temas do continente africano em geral.

JS: Há uma preocupação com a responsabilidade social?

FE: A consciência da necessidade de se ter uma grande responsabilidade social quando se lida com um país com perspectivas de desenvolvimento ainda incipientes, como é a Etiópia, é um dever de todo e qualquer agente diplomático nesta região, pois é participando do desenvolvimento de outros países que criamos oportunidades para o nosso próprio crescimento.

E é por dar extrema importância a esta questão que o Brasil já é hoje, o décimo quarto maior contribuinte para as ações internacionais de enfrentamento da crise humanitária sem precedentes no Chifre da África (como é conhecida esta região do continente africano).

A contribuição, que já chega a mais de US$ 27,5 milhões em alimentos e dinheiro para combater a maior fome dos últimos 60 anos nesta região, faz do Brasil o principal país em desenvolvimento a proteger, promover e prover o direito humano à alimentação de cerca de 11,6 milhões de pessoas afetadas tanto pela estiagem quanto por conflitos na região.
Nesse sentido, e em razão do agravamento da crise, foi ampliada a doação brasileira de alimentos à Somália de 20 para 38 mil toneladas de milho e feijão. Outras 15 mil toneladas de gêneros alimentícios brasileiros serão destinadas para campos de refugiados na Etiópia, nas próximas semanas.

Pois um país como o Brasil, que vem conquistando tanta força e influência no cenário internacional, não pode, jamais, se abster de prestar ajuda humanitária à países menos desenvolvidos nos quais os princípios básicos de direitos humanos não são atingidos, dadas as suas limitações de produção de alimentos.

JS: Qual a síntese que você faz da visão do mundo atual e da ação da diplomacia brasileira dentro de um país como a Etiópia?

FE: No mundo tão interligado que vivemos hoje, toda e qualquer ação em benefício próprio, sem antes levar em consideração os interesses coletivos, provoca reações que são nocivas a todos, capazes até de comprometer o pleno desenvolvimento das gerações futuras.

Se um país polui, explora, destrói ou se aproveita das fraquezas de outros países para exercer domínio que vise apenas seus interesses privados, a história nos mostra que este país, mais cedo ou mais tarde, pagará por seus atos egocêntricos, pois grandes poderes trazem consigo grandes responsabilidades e criar abismos sociais entre as diferentes nações gera sentimentos de revolta e descontentamento com os mais poderosos que acabam criando situações danosas para todos os lados.

A diplomacia brasileira tenta, da melhor forma possível, contribuir com o desenvolvimento humano da Etiópia em geral, seja nas cooperações agrícolas entre a força do agronegócio brasileiro e a grande potencialidade de produção etíope, ou seja em promoção de intercâmbios culturais e educacionais entre estes dois países. E até mesmo com contribuição financeira e alimentícia para com os residentes em campos de refugiados nas fronteiras com a Somália e a Eritréia.

JS: Como você se sente nesta experiência de membro do corpo diplomático fora de nosso país?

Todas às vezes que viajo para uma Missão diplomática me sinto um privilegiado por poder conhecer novos horizontes, culturas, pessoas, quebrar paradigmas, conceitos criados e crescer como ser humano, procuro encarar cada experiência como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, a busca de respostas para entender o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”. Uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais sinto poder alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos, que ao mesmo tempo somos tão diferentes e tão semelhantes.

Este aprendizado, me permite, e além de tudo, ter a oportunidade de ajudar os brasileiros em dificuldade no exterior, longe de suas raízes, o que desperta em nós um sentimento patriótico maior do que o sentido no Brasil, retribuindo por si só os esforços e dificuldades existentes por estarmos longe da família e de todos aqueles que amamos.

JS: Atualmente as manifestações do Conselho de Direitos Humanos e de outros conjuntos da ONU tem uma produção de resultados que faz evoluir, produzindo uma maior liberdade de expressão, uma maior reforma em setores .Qual a sua análise sobre isso? O que falta de essencial para a reforma da ONU?

FE: Quanto mais antigas se tornam as instituições multilaterais, maior é a capacidade de administrar diferentes interesses e somar contribuições em prol de um bem-estar coletivo. E é essa evolução de maturidade que a ONU vem passando, na qual se faz necessária uma mudança interna que legitime as novas forças e conjunturas da geopolítica atual.

Estas mudanças culturais trazem consigo princípios de um mundo novo, cheio de liberdades, obrigações e princípios que se materializam em alterações estruturais dos Organismos Internacionais.

Por exemplo, se o Brasil pode divergir de países mais poderosos na OMC (Organização Mundial de Comércio), tem também o direito fazê-lo igualmente no Conselho de Segurança da ONU. Em ambos os casos, a necessária calibragem entre o interesse nacional e as realidades do poder vigentes no entorno nacional indicarão os níveis de divergência apropriados a cada caso.

Cabe observar que a diplomacia brasileira, felizmente, embora consciente da limitação de seus recursos de poder e da necessidade de levar em conta as correlações de força dentro desse ou de qualquer foro multilateral, não tem demonstrado temer ou recusar preliminarmente o desafio ou o desgaste de exercer funções em órgão da hierarquia do Conselho de Segurança.

Portanto, o que falta essencialmente para uma reforma nas Nações Unidas é que os países emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), assumam seus papéis de protagonistas dos destinos de nossas histórias e mostrem ao mundo sua capacidade de lidar e intervir em questões sensíveis ao interesse coletivo de maneira pacífica, solidária e mais desprendida de subjetividade possível, com o intuito de construir um mundo mais junto para todos.

JS: Qual a sua observação sobre a Etiópia?

FE: A Etiópia é considerada o berço da humanidade, é a terra natal de Lucy, o fóssil humanóide mais conhecido do mundo, que viveu há aproximadamente 3,2 milhões de anos. Com menções na Bíblia, na “Ilíada” e na “Odisséia”. A região abrigou também parte do reino de Axum, um dos mais ricos do século I. Mais recentemente, sofreu na mão de ditadores corruptos, que foram coniventes com recorrentes períodos de fome, resultando na morte de mais de um milhão de seus habitantes

Além disso, a Etiópia, é um dos poucos países que resistiu à ocupação européia, foi o único país africano a vencer um país europeu em uma guerra (batalha de Adwa), além de nunca ter sido colonizada por nenhum outro país, ter língua e costumes próprios e ser o símbolo da África livre. É por isso que Adis Abeba é a capital diplomática do continente e vários países africanos adotam as cores da bandeira etíope como suas cores nacionais.

Há uma imensa contradição no fato de o país que foi o berço da civilização ser um dos mais pobres do mundo. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é menor do que o do Afeganistão. O PIB per capita gira em torno de US$ 345. Apenas 12% da população têm acesso à rede sanitária e 38% à água potável. Porém também é impossível encontrar os tão falados no Brasil “esqueletos vivos” moribundos retorcendo-se de malária nas sarjetas. O país sofre com secas de tempos em tempos, mas a imagem desastrosa que até hoje se tem do país remete à grande fome que ocorreu em 1984.

Adis Abeba, capital da Etiópia não é uma cidade muito organizada, os passeios pela cidade são permeados por sons de buzina. Os carros dividem as pistas com vacas, cabras, homens e mulheres, que insistem em pastorear seus animais na rodovia ou mesmo andar por ela e a todo lugar que se vai existem sempre mendigos pedindo dinheiro, porém mesmo com tamanha pobreza os índices de criminalidade são baixíssimos, e se pode andar tranquilamente por todos os lugares da cidade sem perigo de ser assaltado.

O país ainda é considerado a terra sagrada da religião rastafari, cantado para todo o mundo pelos reggaes de Bob Marley, que tem como cores principais as cores da bandeira etíope (vermelho, verde e amarelo), além do Leão de Judá (símbolo do país) como referência.

Também há relatos de que a Arca da Aliança (descrita na Bíblia como o objeto em que as tábuas dos dez mandamentos, a vara de Aarão e o vaso do maná, teriam sido guardados) se encontra neste país. Para muitos a Arca foi trazida pelo filho do Rei Salomão, com a Rainha de Sabá (rainha da Etiópia). E está guardada em um templo na cidade etíope de Aksum, onde um único Sacerdote pode vê-la.

JS: E a relação diplomática Brasil x Etiópia?

FE: A meu ver, as relações diplomáticas entre Brasil e Etiópia ainda estão muito distantes do ideal imaginado pela potencialidade que ambos países possuem, nossa comunidade em território etíope é de cerca de 30 pessoas, em sua maioria brasileiras casadas com etio-americanos que resolveram regressar ao seu país, missionários religiosos, médicos e voluntários no combate a fome. Ainda não há registros de empresas brasileiras estabelecidas neste país, pois o governo brasileiro tem como prioridade na África os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Porém o interesse etíope em aprofundar nossos laços culturais, econômicos e de intercâmbio tecnológico é notório, pois mesmo sendo um país essencialmente rural e com poucos recursos financeiros, a Etiópia recentemente abriu Embaixada em Brasília (a única do país em toda América Latina), e a todo momento chegam pedidos por parte do Governo etíope de cooperação agrícola e cultural. Tanto que em novembro deste ano será realizado, a pedido da chancelaria local, um evento de gala para a divulgação do Brasil, onde será enviado grupo de samba e/ou cantor de música brasileira para apresentar-se no dia do evento. Com material decorativo relativo ao Brasil e, se possível, obra de artista/designer brasileiro, com vistas a ser leiloada, cuja receita será convertida para instituição de caridade, pois há uma grande carência de eventos como esse em Adis Abeba, cidade considerada capital diplomática da África e que conta com uma comunidade internacional expressiva.

No mais, a grande distância entre os dois países faz com que a imagem que eles tem de nós seja tão estereotipada quanto a que nós temos deles, pois quando digo que sou brasileiro as únicas coisas que eles perguntam são sobre futebol, praias e carnaval e os únicos etíopes que conheço que já foram ao Brasil são os atletas que são contratados para participar de maratonas internacionais e corridas de longas distâncias organizadas e custeadas pelo governo brasileiros.

Bate – bola

1) Família?

O início, meio e fim de toda minha vida.

2) Fé?

Uma necessidade humana.

3) Um desafio?

Tentar tornar este planeta um lugar de melhor convivência para todos. Procurando a cada dia seguir exemplos de respeito mútuo, afeto e solidariedade, sem distinção de cor, credo, situação financeira ou opção de vida de cada ser humano.

4) Um grande acerto e erro diplomático?

A mudança de postura do Brasil diante dos grandes impasses mundiais, tornando-se protagonista de sua própria história desafiando as “grandes” nações que outrora eram tidas como inalcançáveis, foi o grande acerto da nova diplomacia brasileira.

Já o grande erro pontual foi o de não saber levar de maneira mais cuidadosa as negociações na Rodada de Doha da OMC, pois a diminuição de barreiras comerciais e o fim dos subsídios agrícolas seriam benéficos a toda população mundial.

5) Futuro?

É agora.

6) Diplomacia é ?

A arte de aproximar culturas.

By Jorge Serique

Um comentário em “Gente Nossa de Sucesso

  • 19 de agosto de 2011 em 16:58
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    Esse é torcedor do Pantera até acima do equador!! Sempre vejo o Felipe nos jogos do São Raimundo no sudeste do país e as vezes até em Blm e Santarém, mas ver essa bandeira do SREC na Etiópia foi incrível!! Parabéns!!

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  • 18 de agosto de 2011 em 23:51
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    Esta entrevista está demais! Digna de grandes jornais que conheço de fora
    Merece ser premiada como melhor entrevista
    Ai em Santarém não tem prêmios de destaques na Imprensa? É bom pensar nisso pessoal. Esta bela cidade vai ser capital.
    Não sendo santareno, mas recomendo votar no SIM
    Abraços e saudades de Alter do Chão

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  • 18 de agosto de 2011 em 15:18
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    Felipe Escher foi meu aluno de Química no CDA, além de um garoto super bem educado era demais inteligente!!!! Parabéns Felipe, voce merece tudo de bom!!!!!

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  • 18 de agosto de 2011 em 07:50
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    Grande Felipão sabia que os tempos de OCDC iriam te fazer ter muito sucesso!!
    Abraços velho!!!

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  • 18 de agosto de 2011 em 06:13
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    Muito interessante a entrevista de um santareno que tem a oportunidade de conhecer mundos tão distantes.
    Parabéns Jorge e parabéns Felipe!

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  • 17 de agosto de 2011 em 23:37
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    Gostei muito do bate bola
    Sucesso Felipe
    Abços a Marlene e Sergio

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  • 17 de agosto de 2011 em 23:32
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    Uma bela aula de história bem desenvolvida pelo entrevistado
    Parabéns entrevistador x entrevistado

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  • 17 de agosto de 2011 em 17:07
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    Xique xique este Felipe Escher na Etiopia

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  • 17 de agosto de 2011 em 16:10
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    Não sabia que o felipe estava nesta missão na Etiópia.
    Amigo vc chegará a Chanceler
    Boa sorte e flicidades
    Jorgito como sempre nos surpreendendo com boas entrevistas.
    Abraços a toods os santarenos
    Estarei ai no Plebiscito votar no 77 é SIMMMM

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  • 17 de agosto de 2011 em 15:59
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    parabéns pela belíssima entrevista!

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