Muito velhos ou muito jovens – as dificuldades impostas pela idade na hora de encontrar um emprego
Por Thays Cunha
O mercado de trabalho no Brasil está passando por um momento complexo, pois a pandemia ocasionada pelo surgimento do novo coronavírus gerou e ainda tem gerado grandes perdas para o setor econômico. São muitos os desafios a serem enfrentados diariamente, principalmente no que tange à questão do desemprego, pois com lojas e comércios fechados, isolamento social e lockdowns totais e parciais, diversos tipos de locais tiveram que fechar as portas e consequentemente diversas pessoas ficaram sem emprego.
O mercado de trabalho é um conceito que explica o funcionamento da procura e da oferta de atividades remuneradas. Atualmente muito exigente, galgar um caminho até o topo tem se tornado cada vez mais difícil por contas das exigências feitas em relação às qualificações que o futuro candidato deve ter e as poucas vagas que surgem. Cada vez mais vagas que antes não demandavam estudo agora exigem de seus candidatos no mínimo o ensino médio completo, e por vezes até conhecimentos básicos de inglês e informática. Porém, por conta das desigualdades sociais nem todos podem ter acesso à educação e aos conhecimentos específicos solicitados durante os processos de seleção.
Em relação aos trabalhos considerados mais “nobres”, por terem um salário acima do mínimo, a concorrência se tornou ainda mais acirrada. O mercado nunca foi tão competitivo e um indivíduo precisa se destacar de sobremaneira caso almeje a sua tão sonhada vaga. Assim é necessário investimento, dedicação, tempo e estudo para a preparação, o que também não é um privilégio de todos.
Esses fatos demonstram qual a primeira barreira enfrentada pela população na hora de arrumar um emprego, pois muitos candidatos nem mesmo podem se qualificar para posteriormente se encaixar naquilo que é pedido. A segunda barreira, agora intensificada pelos problemas causados pela covid-19, é a escassez de empregos, uma vez que muitos setores tiveram que reduzir ou até mesmo paralisar as suas ações e produções.
E nesse universo já tão concorrido há outros fatores que pioram ainda mais a vida dos que precisam trabalhar para sobreviver. Um deles, por exemplo, é a idade dos concorrentes, um dos elementos cruciais de escolha no momento em que disputam uma vaga. No âmbito empregatício, ser considerado muito velho ou muito jovem também se constitui um problema, pois as empresas prezam pela dinamização e experiência, procurando candidatos já “prontos”, ou seja, que não estejam iniciando a carreira, porém aptos a ainda trabalharem por longos anos.
DIFICULDADES PARA OS MAIS VELHOS
Sabemos que as pessoas que chegam a uma idade mais avançada sofrem bastante preconceito dentro do mercado de trabalho, mesmo que sejam experts em suas áreas e tenham se dedicado ao mesmo ramo quase que a vida toda. Os que conseguem permanecer estabilizados até o momento da aposentadoria ficam mais tranquilos, pois sabem que para aqueles que ficam sem trabalho acima dos 50 anos é difícil não só encontrar um emprego, mas um que lhes forneça um salário que corresponda a toda a sua experiência profissional e anos de formação.
Muitas pessoas também querem/precisam trabalhar por muito mais tempo devido à aposentadoria, que agora tem novas regras. Por conta da Reforma da Previdência, promulgada em 2019 com o objetivo de aliviar o custo previdenciário que se mostrava além da capacidade de arrecadação, a nova idade mínima para se aposentar agora é de 62 anos para as mulheres e 65 anos para os homens e, além disso, não será mais possível se aposentar apenas por tempo de contribuição. E há também o fator econômico, pois muitas famílias brasileiras viram as suas rendas decrescerem devido à crise econômica, ocorrência piorada pela pandemia da covid-19. Necessitando então passar mais tempo no mercado de trabalho ou até retornar a ele para poder garantir ou aumentar o sustento diário, muitas pessoas acima dos 50 anos estão novamente à procura de emprego.
Porém, seja qual for o motivo que leve alguém nessa faixa etária de volta à concorrência, se por conta da aposentadoria ou manutenção de renda, as dificuldades encontradas serão muito grandes, pois não há no Brasil um plano de carreira longo para que essas pessoas consigam se manter no mercado até os 62, 65 anos ou acima disso.
DIFICULDADES PARA OS MAIS JOVENS
Por outro lado, ser jovem e inexperiente também é um grande empecilho na hora de se arrumar um emprego. Segundo o estudo realizado através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), a taxa de desocupação entre os jovens de 18 a 24 anos, até o 4º trimestre de 2020, chegou a 29,8%.
Porém, como adquirir experiência sem a chance de começar o processo através de um primeiro emprego? Essa se constitui uma das maiores queixas dos jovens no momento em que analisam vagas, pois quase todas elas exigem um tempo de serviço anterior que eles não possuem.
Com a questão do desemprego há também o fato de que muita gente qualificada, acima dos 25, está aceitando cargos com baixa remuneração. Desse modo as empresas preferem pagar por essa mão de obra barata, mas qualificada, do que receber os jovens inexperientes e que ainda precisam aprender. E caso estes consigam um emprego, ainda lidam com o medo de serem demitidos, pois diante de qualquer reestruturação aqueles com menos tempo de trabalho são os que geralmente são mandados embora primeiro.
“NEM-NEM”: NEM ESTUDA E NEM TRABALHA… E NEM SE APOSENTA
Um cenário ainda mais desesperador é quando o jovem, seja por cansaço ou ciência de que não possui instrução suficiente, simplesmente desiste de procurar por qualquer emprego. Vivendo no desalento, são os chamados “nem-nem”, alusão ao termo “nem trabalham e nem estudam”. Por vezes, saem direto da escola diretamente para essa condição de inatividade, pois nem mesmo tem a esperança da procura. Nessa pandemia a situação piorou por conta dos jovens precisarem se resguardar em casa, ficarem sem poder ter um estudo presencial de qualidade para a sua melhor qualificação e ainda terem que arcar com responsabilidades em relação às próprias famílias.
Jovens que têm renda baixa e dificuldades de acesso à educação são os que encontram mais dificuldades para se inserir no mercado, pois não podem contar com cursos que deixariam o seu currículo mais atrativo, além da oportunidade de fazer estágios que possam contar como experiência de trabalho. Desse modo, o governo deveria implementar melhores políticas públicas para ajudar esse jovem a sair dessa situação de ociosidade.
Engana-se que esse cenário afeta somente os mais jovens, pois condição parecida ocorre também entre os idosos. A questão aqui é que muitas pessoas acima dos 50 se encontram em uma situação em que não conseguem trabalho por conta da idade e também não podem se aposentar, seja por falta de tempo de contribuição ou por estarem longe da idade permitida para dar entrada na aposentadoria. Assim são obrigados a ficarem em casa sendo dependentes de filhos ou outros, pois se encontram impossibilitados de contribuir com a renda da família de qualquer maneira.
Em paralelo à reforma da previdência deveria ter sido pensada também uma garantia de empregabilidade para os mais idosos, pois com o aumento da idade mínima para se aposentar essa população mais velha ficará com ainda mais dificuldades e consequentemente mais pessoas entrarão no mapa da miséria. Já para os jovens, há a necessidade de se fazer algo para que a sua passagem da escola para o mercado de trabalho seja realizada de forma mais bem sucedida, com o apoio de programas de incentivo e estágios, o que fará o jovem não só se qualificar como também entender o seu valor de participação para a construção de uma nova sociedade.
RG 15 / O Impacto
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