Pará produz mais de 90% do açaí nacional e deve seguir na liderança, dizem especialistas

O Pará se destacou em 2023 como líder na produção de açaí no Brasil, segundo dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap). De acordo com a pesquisa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, quase 1,6 milhão de toneladas de açaí resultaram de lavouras paraenses — 93% da produção nacional. Especialistas e consumidores destacam o frescor como principal fator de qualidade, além de condições climáticas favoráveis e técnicas de manejo sustentável, diferenciando o açaí paraense dos produtos de outras regiões.

José Antônio Queiroz, doutor em engenharia florestal e responsável pelo manejo de mínimo impacto de açaizais nativos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), explica que o melhor açaí é o colhido e processado no mesmo dia. “Se você colhe um açaí hoje e bebe ele hoje mesmo, a qualidade é excelente. Mas se você guarda um pouco do fruto e bate no dia seguinte, a qualidade já diminui. E assim por diante”, destaca.

Segundo o especialista, as regiões do Pará que mais se destacam na produção de açaí são o Baixo Tocantins, o Marajó e a Bacia do Rio Guamá. “Essas áreas sujeitas à influência das marés do Atlântico são as mais propícias para a produção de açaí”, ressalta Silva. Além disso, o manejo sustentável recomendado pela Embrapa contribui para a manutenção dos açaizais. “Mais de 90% do açaí produzido no Pará vem dessas áreas de várzea, o que garante um produto natural e de alta qualidade”, explica.

José Antônio Queiroz trabalhando no manejo de açaizais no município paraense de Muaná (Foto: Ronaldo Rosa / Embrapa)

Consumidores também reconhecem a qualidade do açaí paraense. A advogada Nazaré Oliveira, 48, é moradora do bairro da Pedreira, em Belém, e consome açaí quase diariamente. “A qualidade do açaí do Seu Manoel, que compro há anos, é inigualável. É um açaí puro, fresco, que você sente o gostinho da fruta batida na hora”, afirma Nazaré, que compara: “A gente sabe quando o açaí não está fresco, ele fica meio marrom e o sabor não é o mesmo”. Ela também comenta sobre a diferença entre o açaí paraense e os de outras regiões: “Quando você prova um açaí que não é do Pará, é como se faltasse algo. O sabor, a textura, tudo muda”, garante.

Sobre o preço elevado do açaí no período da entressafra — que no início de 2024, bateu recordes —, Queiroz comenta que “a maneira de resolver esse problema é intensificar o manejo de baixo impacto nas áreas de várzea e adotar o plantio irrigado em terra firme”. Para Nazaré, mesmo quando o preço sobe, vale a pena continuar consumindo: “Eu prefiro pagar um pouco mais e ter certeza de que estou comprando um produto fresco e natural”.

Produção e consumo em outros estados

Por ter um período de safra diferente do Pará, o Amapá é um estado que ajuda a suprir a demanda pelo açaí fora de época. No entanto, o engenheiro florestal da Embrapa destaca que “o açaí que vem de outros estados chega com qualidade inferior devido ao tempo de transporte”. A logística influencia diretamente no preço e na qualidade do produto oferecido aos consumidores paraenses.

Além do Amapá, estados como Maranhão, Amazonas e até Santa Catarina têm investido na produção de açaí. Para garantir a excelência do fruto, iniciativas como o uso de técnicas de resfriamento no transporte e pesquisas contínuas sobre o manejo e cultivo são fundamentais. “Ainda temos muito a aprender sobre o açaí, e investir em pesquisa é essencial para manter e melhorar a qualidade do nosso produto”, defende Queiroz. Ele sugere que transportes adequados, que mantenham o açaí resfriado sem congelar, poderiam ajudar a preservar a qualidade do fruto por mais tempo.

“A gente que é paraense nasceu tomando açaí, e isso faz com que a gente seja um analista do produto. O açaí daqui tem um sabor único que não se encontra em outro lugar”, enfatiza Nazaré Oliveira. “Quem nunca provou o açaí do Pará, precisa vir aqui e experimentar. Não tem igual”, recomenda.

Na opinião do engenheiro agrônomo e gerente de fruticultura da Sedap, Geraldo Tavares, o Pará deve seguir liderando a produção nacional de açaí, pelo menos, em um curto ou médio prazo. “Embora outros estados estejam aumentando a produção, é pouco provável que o Pará perca sua liderança nos próximos 20 anos”, pontua. “Para superar a área de produção e a qualidade natural do Pará, vai levar muito tempo”, acrescenta José Antônio Queiroz.

Segundo Tavares, estados da Amazônia brasileira, ou mesmo outros países, possuem condições edafoclimáticas semelhantes à do Pará, o que poderá reduzir esta vantagem no futuro. “Por exemplo: em recente visita à Amazônia Colombiana, identificamos espécies de açaizeiros nativos com excelente produtividade e qualidade de polpa, produzido em regiões de alta pluviosidade sem período seco, o que dispensa a utilização de sistema de irrigação”, explica.

Nas esferas estadual e federal, a Sedap e a Embrapa Amazônia Oriental capacitam produtores para o manejo de açaizais de várzeas.  “Nos últimos dez anos, houve ainda o incremento de plantio em terra firme que utiliza técnicas como irrigação, sementes de cultivares com alta precocidade e produtividade, e adubação. Esse avanço tecnológico permite a produção, em média, de 10 toneladas por hectare, contra uma média de 3 toneladas/hectare em áreas de várzeas sem manejo”, informa o gerente de fruticultura da Sedap.

Fonte: O Liberal
Foto: Divulgação/ Embrapa

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