CPI: empresário diz que comprou casa de Perillo em dinheiro vivo
A CPI do Cachoeira recebeu nesta terça-feira o professor e empresário Walter Paulo Santiago, que comprou em 13 de julho de 2011, por meio de uma empresa com capital social de R$ 20 mil, a casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), na qual o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso em 29 de fevereiro do ano passado. Walter Paulo Santiago afirmou que pagou em dinheiro (R$ 1,4 milhão) pela casa. Marconi, por sua vez, disse ter recebido três cheques pela casa; mesma versão utilizada pelo ex-vereador de Goiânia e intermediador do negócio, Wladimir Garcez. No final do depoimento, Walter Paulo assinou a autorização para a quebra de seus sigilos bancário, telefônico e fiscal. Como conselheiro administrativo, também autorizou a quebra dos sigilos da empresa Mestra.
– Não paguei com cheque. Paguei com dinheiro. Nota de 50 e de 100. Entreguei o dinheiro ao senhor Wladimir Garcez e ao senhor Fiúza (Lúcio Gouthier Fiúza, assessor de Marconi) – disse ele, acrescentando que o dinheiro foi entregue a eles na sua casa, “em pacotinhos”.
– Se (Marconi) recebeu em cheque, não foi de mim – disse o professor.
Santiago afirmou que o negócio foi legal e intermediado pelo ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez. Santiago disse que foi procurado em fevereiro de 2011 por Garcez, informando que a casa de Marconi estava à venda. Ele disse que achou o preço bom e resolveu comprá-la.
– Eu achei barato. Eu achei um preço bom. Tanto que me interessei – disse, para depois reforçar: – Ao que consta o imóvel foi adquirido de Marconi Perillo, intermediado por Wladimir Garcez.
Wladimir Garcez, por sua vez, havia dito à CPI que comprou a casa por R$ 1,4 milhão, com dinheiro que pediu emprestado ao ex-diretor da Delta Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e a Carlinhos Cachoeira.
– O governador me disse que estava vendendo sua casa. Eu conhecia a casa e queria adquiri-la. Eu não dispunha, na época, do dinheiro. Então, pedi ao Cláudio, meu patrão, e ao Carlinhos que me emprestassem R$1,4 milhão, para eu repassar ao governador — afirmou Garcez à CPI. Depois, ele teria ficado sem dinheiro para concluir a operação e teria oferecido o imóvel a Walter Paulo.
As explicações dadas pelo professor e empresário Walter Paulo Santiago nesta terça-feira não convenceram os parlamentares:
– Aparentemente faz parte de uma operação abafa – disse o deputado Rubens Bueno (PPS-PR).
Questionado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), Walter Paulo Santiago disse que já recebeu a casa, mas ninguém está morando lá no momento. Afirmou também que pretende vendê-la, uma vez que ela já causou muitos problemas.
– Eu já recebi a casa. Troquei as fechaduras da casa e está comigo. A casa está vazia – disse ele.
Perguntado se não sabia que Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, morava lá, ele respondeu:
– Não perguntei (para Wladimir Garcez). Podia ser uma namoradinha dele.
Deputados do PSDB presentes, como Carlos Sampaio (SP) e Vanderlei Macris (SP), do mesmo partido do governador Marconi Perillo, preferiram elogiar a disposição de Walter Paulo em prestar esclarecimentos à CPI. Macris chegou a dizer que via sinceridade no depoimento prestado e fez duas perguntas para desabonar Marconi: se Walter Paulo fez a compra de boa fé, e se o governador tinha negociado o imóvel também de boa fé. A resposta de Walter Paulo para as duas perguntas foi:
– Sim, boa fé.
Embora seja professor e tenha ensino superior completo, Walter Paulo tentou demonstrar humildade para justificar possíveis contradições no depoimento dele.
– Eu vim de roça, de local humilde, para encontrar pessoas do nível de vocês (parlamentares), pessoas de saber. Falar com vocês não é fácil não. Eu comecei a estudar com 17 anos de idade. Não é fácil estar aqui – afirmou, após questionamento de Bueno.
Walter Paulo também foi questionado sobre a declaração de bens que entregou à Justiça Eleitoral em 2008, quando foi candidato à vereador em Goiânia pelo PTC. Na época, mesmo sendo um bem sucedido empresário no ramo da educação superior em Goiás, ele declarou não ter nenhum bem. Nesta terça, ele se justificou, dizendo que os bens ficam em nome dos 11 filhos.
Os sócios da Mestra Administração, em nome da qual está a casa que era do governador, também serão ouvidos. Écio Antonio Ribeiro, que aparece formalmente como sócio da Mestra, declarou em seu Imposto de Renda de 2010, disponível na Junta Comercial de Goiás, que teve rendimentos de apenas R$ 17.265 naquele ano. A outra sócia é Sejana Martins, que deve permanecer em silêncio, pois pediu e recebeu liminar do ministro do STF Luiz Fux que ratifica o seu direito de ficar calada durante a inquirição da comissão. O professor Walter Paulo afirma que é conselheiro administrativo da Mestra, embora seu nome não apareça na Junta Comercial, apenas em um documento de 17 de dezembro de 2010, cujas firmas só foram reconhecidas em 21 de maio deste ano.
A data coincide com o dia em que Walter Paulo enviou um ofício ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), no qual afirma que o ex-vereador Wladimir Garcez o procurou em fevereiro do ano passado para lhe vender a casa que pertencia a Marconi.
Informado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) de que Cachoeira pagou o IPTU da casa, Walter Paulo Santiago disse:
– Se ele pagou o IPTU, foi pouco. Ele passou sete meses na casa, não me pagou o aluguel. Tinha que pagar o IPTU.
Sócia da Mestra fala pouco e depoimento é encerrado
Sejana Martins, uma das sócias da Mestra, prestou “depoimento” logo em seguida a Walter Paulo. Nos minutos inciais do depoimento, ela afirmou que atualmente é sócia apenas da escola que leva o seu nome, tendo saído da Mestra em julho do ano passado. Também negou conhecer Carlinhos Cachoeira e disse que permaneceria em silêncio.
– Não conheço Cachoeira, não tenho nenhum relacionamento pessoal com quem está sendo inquirido nesta CPI. E a partir deste momento me resguardo no direito de permanecer em silêncio.
Apesar disso, ela respondeu algumas perguntas do relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), ficando em silêncio em outros momentos. Segundo ela, a Mestra foi uma empresa que não deu certo, por não condizer com a qualificação profissional dela.
– Não tinha conhecimento das negociações (da casa) e nada mais a declarar – afirmou ela que tinha liminar para ficar calada.
Após a recusa de Sejana de responder algumas das perguntas, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que preside a sessão, encerrou o depoimento.
O dono da Mestra, Écio Antonio Ribeiro, que também deporia nesta terça, enviou um atestado médico à CPI. Segundo Paulo Teixeira, ele vai ser chamado novamente.
CPI não votará requerimentos nesta semana
Também estava marcado o depoimento da ex-chefe de gabinete de Perillo, Eliane Gonçalves Pinheiro. Ela, porém, apresentou um atestado médico e não compareceu à comissão. Em pedido de liminar, Eliane tentou solicitar adiamento do depoimento até que seus advogados tivessem acesso a todas as provas do inquérito. Esse pedido foi negado.
De acordo com investigação da Polícia Federal, Eliane tinha um telefone exclusivo para se comunicar com o contraventor Carlos Cachoeira, que, por sua vez, passava a ela informações sigilosas sobre operações policiais. Gravações revelam que a ex-chefe de gabinete de Perillo alertou o prefeito de Águas Lindas (GO), Geraldo Messias, sobre uma busca por provas na casa dele, durante uma operação.
O vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), decidiu não fazer votações de requerimentos nessa semana, enquanto o presidente da CPI, senador Vital do Rego Filho (PMDB-PB), encontra-se em licença médica por problemas cardíacos.
-Não há urgência, se as pessoas querem falar, elas serão ouvidas, mas decidir na próxima semana não atrapalha nossos trabalhos – disse.
A decisão causou polêmica, porque muitos parlamentares queriam votar requerimentos e convocar o ex-diretor da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, e o ex-diretor do Dnit Luiz Antonio Pagot.
– Estávamos aqui lidando com tantas pessoas que não querem falar, mas o Pagot quer colaborar e podemos convocá-lo – lamentou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
Fonte: O Globo