Milton Corrêa
MINHA HOMENAGEM A ERIBERTO SANTOS
Vinte e cinco de janeiro de 2013, por volta das 14 horas, quando chegava à sala de produção de jornalismo da Rádio Guarany FM, o nobre colega Bena Santana, que já encontrava-se no local, pediu que eu sentasse que ele tinha uma triste notícia para mim.
Sentei e o Bena anunciava-me a morte do confrade da Academia de Letras e Artes de Santarém, escritor, radialista e advogado Eriberto Santos.
Levei um choque, fitei o olhar do Bena e percebi que ele também estava fortemente tomado pela emoção. Mais que confrade na ALAS, Eriberto Santos foi contemporâneo de profissão, por algum tempo atuou como repórter da Rádio Rural, sem perdermos de vista, que sua maior participação na emissora, foi como locutor-apresentador do Programa Nossa Serenata, onde traduzia todo o conteúdo de sua alma imortal, na frase comumente usada durante o programa – “de coração, para coração”!
Eriberto destacou-se em outras experiências profissionais, como assessor de imprensa do então prefeito Ronaldo Campos, formou-se em Direito, exercitou qualidades de ótimo pai, esposo e amigo e foi o 2º presidente da Academia de Letras e Artes de Santarém (o primeiro foi Odilson Matos).
E foi na literatura que Eriberto Santos identificou-se com a publicação dos livros: “O Beiradão e Neogaia: um mistério na Amazônia” e por eles torna-se imortal.
O FIM DA HEGEMONIA DA PIRÂMIDE INVERTIDA
Por Carlos Castilho em 13/01/2013
A técnica da pirâmide invertida usada por 10 entre 10 jornalistas está com seus dias contados como recurso hegemônico para organizar as informações de uma notícia ou reportagem. É que a disseminação do uso da internet provocou uma mudança nos hábitos de consumo de informações e também na forma como as pessoas organizam as preocupações geradas pela leitura de notícias e reportagens.
Em uso desde o fim do século 19, a metáfora da pirâmide invertida mostrou-se essencial para organizar a narrativa em textos jornalísticos numa época em que o espaço e o tempo disponíveis eram escassos, razão pela qual o mais importante vinha primeiro e o menos importante, depois.
A origem remota do uso dessa técnica vem da Guerra Civil norte-americana (1861-1865), quando a precariedade das linhas de telégrafo provocava frequentes interrupções nas transmissões de textos. Mas foi no fim do século 19 que o recurso se tornou uma técnica redacional porque os jornais tinham muito material e pouco espaço em papel.
A chegada da internet está eliminando a hegemonia absoluta da pirâmide como técnica redacional porque as preocupações passaram a ser outras. A questão agora não é ir do mais ao menos importante, mas de buscar o contexto mais amplo para um fato, dado ou evento que se tornou notícia. É o processo de contextualização sem o qual é impossível determinar a relevância, credibilidade, exatidão e pertinência de um dado, fato ou evento.
Esses elementos passaram a ser essenciais no momento em que somos obrigados a conviver com uma avalanche informativa que está alterando todos os nossos comportamentos em matéria de consumo de informações. Não se trata mais de priorizar um ordenamento sequencial quantitativo, mas de enfatizar a ampliação qualitativa do conhecimento.
O fim teórico da pirâmide invertida já havia sido decretada por Adelmo Genro Filho, jornalista gaúcho, irmão do atual governador do Rio Grande do Sul e falecido em 1988. Adelmo procurou desenvolver uma teoria marxista do jornalismo no seu livro O Segredo da Pirâmide, no qual defendia a tese de que a notícia está no campo da singularidade, ou seja, da descrição focalizada de dados, fatos e eventos.
De acordo com teóricos marxistas, a singularidade está relacionada à particularidade e à universalidade, e uma depende da outra. Em termos simples, o singular seria o indivíduo. O particular, a comunidade onde ele está inserido e o universal sua nacionalidade, sexo ou religião. Uma notícia sobre um crime é singular, mas sua particularidade é estar situada no contexto de uma guerra entre traficantes e policiais, e sua universalidade está na crise da segurança pública nacional.
A pirâmide, que ainda continuará sendo usada na imprensa convencional, está muito ligada à preocupação com o ineditismo de uma notícia. Mas, na internet, a notícia está em todas as partes — o que torna irrelevante a preocupação com o “furo jornalístico”. Muito mais importante é saber quais são as causas, consequências e os atores envolvidos num fato qualquer. Numa era de superabundância informativa, uma notícia só tem valor de uso quando associada ao seu contexto ou quando dá ao leitor condições de poder situá-la em seu ambiente particular.
A ênfase na contextualização dá à produção jornalística características de processo de geração de conhecimento estruturado a partir da agregação de valor informativo a um dado ou fato inicial que altera o contexto de um indivíduo ou grupo de indivíduos. Isso muda muito o eixo de preocupações nas redações inseridas em processos industriais de produção jornalística.
Em vez de usar a pirâmide para administrar a escassez de espaços, a preocupação central do jornalista passa a ser o gerenciamento de conhecimentos na hora de redigir uma notícia.
O COMENTÁRIO DO MESTRE
Nosso mestre maior em jornalismo, professor e doutor Manuel Dutra, faz o seguinte comentário sobre o tema:
“Provocante e discutível. A notícia só existe mediante a noção de contexto, seja em que posição esteja a tal pirâmide. Sem contexto, há o quê? É aí que se realiza o fato/discurso, que não existe num espaço imaginário, mas na concretude do mundo. Há “novas teorias” que elimine detonam o que havia dantes no quartel de Abrantes. Com algum cuidado será interessante uma leitura da velha Arqueologia, de Foucault, para termos uma noção de formação discursiva. E veja lá que nunca fui fã incondicional da pirâmide, basta dar uma olhada nalgumas coisas que já escrevi. Seja qual for o contexto tecnológico, a não ser que a natureza humana sofra sérias mutações, o desejo e mesmo a ânsia humana é saber, de saída, o que mais importa, em algumas situações até por uma questão de sobrevivência. Os modismos costumam esquecer certas coisas”.