Milton Corrêa

SURDOCEGOS PEDEM SENSIBILIDADE DO GOVERNO; MEC APONTA AVANÇOS NA INCLUSÃO

Agencia Câmara de Noticias

Uma em cada 26 mil pessoas nasce surda e cega. Os chamados surdocegos, estima-se, podem chegar a um milhão de pessoas no Brasil. A Comissão de Seguridade Social e Família debateu em audiência nesta quinta-feira (5) políticas públicas para esta parcela da população, que requer uma atenção diferenciada.

O surdocego pode nascer assim e, portanto, adquirir um contato com o mundo diferente de quem ficou surdocego por outros motivos. Alguns surdocegos velem-se de guias-intérpretes (pessoa que acompanha o surdocego fazendo as traduções necessárias) e outros interagem mais com leitores de tela (softwares que fazem retorno auditivo de texto e comandos).

De acordo com a coordenadora da Secretaria de Educação Continuada do Ministério da Educação (MEC), Rosana Cipriano, o Ministério tem programas de promoção de acessibilidade para pessoas com deficiência, o que inclui os surdocegos. Rosana citou dados que mostram o crescimento do acesso das pessoas com deficiência na educação. Em 1998, eram 337 mil estudantes no ensino básico e hoje são 820 mil matrículas. No ensino superior, o número de alunos com deficiência aumentou de 5 mil para 23 mil matrículas.

“A gente prioriza e prima pela atenção às demandas e necessidades que cada pessoa com deficiência apresenta. O Brasil já deu passos largos, já avançou e hoje sentimos muito otimistas, considerando os resultados, as pesquisas, as ações, os fomentos públicos que estão sendo feitos”, afirmou.

Rosana afirmou acreditar que, num curto tempo, haverá a percepção de que a acessibilidade está sendo promovida de uma forma ampla, possibilitando cada vez mais a participação de pessoas com deficiência dos processos sociais. Segundo Rosana Cipriano, de 2007 a 2013, foram ofertadas 77 mil vagas a professores de pessoas com deficiência e a meta do governo é implementar cursos de libras em todo País, conforme prevê um decreto de 2005.

Na avaliação da deputada Rosinha da Adefal (PTdoB-AL), as pessoas com surdocegueira são as mais invisíveis dentre as pessoas com deficiência. Ele entende que houve uma inércia do governo para com essas pessoas. “Tardiamente estamos acordando para efetivar políticas públicas para atender essas pessoas, apesar de avanços na área de educação. Muito pouco se fez. Precisamos de ações mais enérgicas, mais efetivas”, cobrou.

CÃES-GUIAS

Alex Garcia, que é surdocego e coordenador do núcleo gaúcho do Instituto Baresi – fórum que reúne associações de pessoas com doenças raras –, lembrou que, no caso dele e de outras pessoas com a mesma deficiência, libras não serve. Para ele, falta sensibilidade do governo para o surdocego. Ele reclamou, por exemplo, que o programa Viver Sem Limite, do governo federal, que prevê centros de treinamento de instrutores de cães-guia para cegos, não atenderia os surdocegos. O assessor da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos, Fernando Antônio Ribeiro, explicou que o treinamento de cães-guias não visa atender exclusivamente os cegos. “O projeto é basicamente para você ter centros de treinadores de cães-guia. A finalidade de atender os cegos é o reducionismo que usamos”. A coordenadora da Secretaria de Educação Continuada do MEC adiantou que vai convidar Alex Garcia, do Instituto Baresi, para fazer parte de um grupo de trabalho do MEC para desenvolver políticas públicas para surdocegos.

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