Fiscais do Ibama acusados de tráfico de animais silvestres

Duas onças pintadas foram retiradas do parque

O proprietário de um parque ambiental localizado no município de Capitão Poço suspeita que fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estejam envolvidos com o tráfico de animais. A suspeita surgiu depois que, no último dia 26 de fevereiro, dois funcionários do Ibama estiveram no parque acompanhados de uma equipe de pessoas de outro parque localizado no sul brasileiro e levaram nove animais, a maioria espécies raras e em extinção. Os animais retirados foram duas onças pretas, duas onças pintadas e três aves, sendo duas marianinhas e um anacá.

O Parque Ambiental Gavião Real está localizado em Capitão Poço, a cerca de 260 quilômetros de Belém e existe há mais de 20 anos. Trata-se de uma área particular, que abriga mais de 20 mil animais e costuma ser utilizada para pesquisas, visitas escolares e outras atividades.

Aldomar Arão de Oliveira é o responsável pelo espaço. Há pelo menos 30 anos, ele cuida dos animais do parque, que tem aproximadamente 2,5 mil metros quadrados. Ele relata que não entendeu quando, no último sábado, dois funcionários do Ibama chegaram ao local com a informação de que alguns animais seriam retirados porque o ambiente não era propício para abrigar os animais. “Disseram que o espaço físico não é ideal e isso representava um perigo para a população. Mas qual o perigo que três pássaros inofensivos representam? E além disso, por que não teve um trabalho de verificação do parque, uma inspeção ou algo parecido? Como foi decidido que o parque não é propício para abrigar os animais? Ou seja, não tem lógica. Os animais foram retirados daqui por seu valor comercial, não tenho dúvidas disso”, denunciou.

Segundo Aldomar, o parque recebia animais doentes, que eram tratados e, quando possível, devolvidos à natureza. Os outros permaneciam no local, onde eram cuidados e procriavam, inclusive animais em extinção.

Agora, depois do ocorrido, Aldomar resolveu fechar o Gavião Real. “Não dá pra continuar um trabalho quando esse tipo de coisa acontece. Vieram aqui e, sem maiores explicações, sem algo oficial, retiraram os animais de maneira truculenta. Fui tratado como um traficante. Nunca tive problemas com a documentação do parque ou dos animais, está tudo devidamente regulamentado, apesar de terem dito o contrário. O interesse era no valor dos animais. Os pássaros por exemplo, têm alto valor de mercado. Antes mesmo de terem vindo retirar, eu já tinha visto na Internet anúncios dos animais que estavam aqui. Ou seja, já estava sendo feita esta comercialização sem que eu sequer fosse notificado do que estava acontecendo”, denunciou.

Grupo chegou em veículo do Instituto

No ato da retirada dos animais, segundo Aldomar, estavam dois homens que se apresentaram como técnico e veterinário do Ibama. Mas não se identificaram. Eles estavam em um veículo do Instituto. O restante do grupo – que era formado por aproximadamente dez pessoas – seriam pessoas de outros locais, incluindo um parque particular do sul do Brasil. “Pra uma ação como esta, tinha que ter todo um aparato do Ibama, mas tudo foi trazido pelas outras pessoas. Nada era do Ibama, nenhum material, nada. O documento deixado é suspeito, não parece ser oficial, não tem o nome de nenhum responsável, apenas uma assinatura que não dá pra identificar. Tinha que existir um laudo, um estudo comprovado que concluísse com a necessidade de retirada destes animais. Agora, iremos entrar com uma ação no Ministério Público Federal (MPF) pra denunciar o ato. Mas o parque já está fechado”, disse, referindo-se a um documento intitulado Termo de Retirada dos Animais, que foi com ele no sábado.

Aldomar disse ainda que o parque é um criatório conservacionista particular e que nunca recebeu nenhuma ajuda para cuidar dos animais. “Sempre tive uma relação cordial como IBAMA, mas agora estão acontecendo esses problemas e, pelo que sei, não foi só aqui no Gavião Real. Outros parques também estão tendo animais raros retirados desta maneira. Os animais estão sendo oferecidos

para venda em outros parques e outros locais, e nós somos os últimos informados. Antes eu era relacionado como conservacionista, agora já me passaram para a condição de mantenedor, ou seja, o local não teria mais a permissão para que os animais reproduzissem e passaria a ser apenas uma espécie de depósito.

Superintendente esclarece e rebate acusações

O Superintende adjunto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Alex Lacerda, informou que não há tráfico de animais silvestres na instituição, mas sim a destinação adequada das espécies. Uma parte dos animais apreendidos do criatório conservacionista Gavião-Real foram destinados ao zoológico da Serra dos Carajás, sudeste do paraense. Os demais foram enviados a um mantenedor de animais silvestres do Estado de Goiás. Há ainda espécies a serem retiradas do local, assim que forem encontrados abrigos adequados.

Alex esclareceu que a ação dos técnicos da instituição foi motivada por uma visita feita ao criatório conservacionista no ano passado. Foram constatados diversos itens em desacordo com a Instrução Normativa 169/2008. Entre as principais irregularidades, destacaram-se a iluminação precária do recinto dos felinos, telas de proteção frágeis, portões sem cadeado, viveiros pequenos, não existência de ponto de fuga, tampouco de portas com cambiamento. As duas últimas condições são essenciais para o bem estar da população de Capitão Poço, em caso de tentativa de fuga dos animais. “Felinos se estressam com facilidade. O ponto de fuga seria importante para que os animais ficassem abrigados longe da vista das pessoas. É uma questão de segurança. No caso do cambiamento, o certo é o recinto ter duas portas e um corredor para evitar que eles saiam do local. No caso do Gavião-Real, só havia uma porta”, explicou.

O superintendente adjunto disse, ainda, que Aldomar já havia sido notificado, em dezembro de 2010, a apresentar o relatório anual de atividades de 2009 acerca do estado do criatório e dos animais. O prazo dado pelo Ibama é até 31 de março de cada ano. Porém, o proprietário só apresentou o documento em fevereiro deste ano e, novamente, mais irregularidades foram apontadas. “Os animais precisam ser marcados com microship, tatuagem ou brinco, e também precisam ser sexados para que a instituição faça o acompanhamento dessas espécies. O senhor Aldomar não apresentou nenhuma dessas informações no relatório, que já estava atrasado”, disse.

Aviso – O proprietário do criatório conservacionista Gavião-Real não foi pego de surpresa, conforme alegou à reportagem. Alex declarou que Aldomar foi avisado por telefone que os técnicos iriam naquele sábado ao local. “Tanto ele sabia como esperou a chegada da nossa equipe para se manifestar contra a operação. Em seguida, ele se retirou do local”, contou. O representante do Ibama esclareceu que somente mil espécies da área são registradas na instituição e que, caso existam de fato 20 mil, conforme alega Aldomar, ele ainda pode ser autuado por abrigar espécies sem regularização.

Alex também indicou que Aldomar protocolou um documento junto ao Ibama no último dia 02 deste mês alegando que não tem condições financeiras de manter as éspécies do criatório conservacionista.

No Amazônia

Um comentário em “Fiscais do Ibama acusados de tráfico de animais silvestres

  • 8 de março de 2011 em 09:14
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    O título da matéria não tem nada haver, mais coerente seria: ” agentes do IBAMA dão melhores condições de habitat a a nimais silvestres”. Chega de sensacionalismo.

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