O TERMINAL TURÍSTICO E A NOSSA HISTÓRIA
Passei alguns dias fora da minha cidade natal. Quando retornei, no domingo passado (16), fui, como dizem os “manos” amigos do bairro, “passar os panos”. E me dirigi para “uma volta” e passei pela Av. Tapajós em frente à Praça do Pescador e avistei ali um navio, tipo Catamarã, atracado no Trapiche Novo, (ainda não me acostumei com o novo nome de Terminal Turístico), para mim sempre será Trapiche, dos meus banhos no rio Tapajós, na minha infância, só acrescentaria, essa expressão do atual linguajar do partido de plantão no poder municipal: revitalizado.
Lembrei-me da minha infância, quando ali atracavam os navios da frota branca: Lauro Sodré, Lobo D’Almada, Leopoldo Peres, Augusto Montenegro, Pimenta Bueno, Almirante Alexandrino, pertencente à empresa estatal, após Amazon River, SNAPP, depois, chamada de ENASA, até “quebrarem” de vez, sucatearam todas as embarcações construídas nos estaleiros da Holanda. Impressionante, como a navegação na Amazônia, só não deu certo, mas é claro, aquela navegação dirigida pelo governo. A particular navega em “mar de almirante”! Cresce, a cada “marola”.
Estranhei a presença daquele navio ali, por não ser comum, já que se trata de terminal turístico e aqueles navios turísticos que vêm fazer “aguada” de graça aqui, ficam no largo e depois atracam no Porto da Doca. Quando li o indicativo da empresa, lembrei que o seu proprietário mora no outro lado da Praça do Pescador. Éééégua!, será que o trapiche novo já se tornou seu porto particular, como muitos que há em Santarém, do Mapiri ao Uruara?. Dirigi-me para lá para “abelhudar” e tomei conhecimento que a embarcação estava acomodando um grupo de estudiosos, em um Fórum Cientifico promovido pela Universidade do Oeste do Pará (que já tem outro nome) abordando temas sobre a nossa gente, formação geológica, cultural e humana, entre outros. Ah, sim! Bravo!, desculpe-me, já estava fazendo mal juízo do pobre!
Logo em frente de onde estava se realizando o Simpósio Científico, notei um crime contra o nosso patrimônio histórico que poderia ser abordado pelos estudiosos, já que levantaram a questão do abandono em que se encontram as pinturas rupestres na Serra da Lua e outras de Monte Alegre.
Ali em frente no início da Rua Lameira Bittencourt, na Praça do Pescador e Início da Adriano Pimental. A derrubada do Casarão dos Reças, do prédio da antiga Padaria, Vonfeitaria e Sorveteria Luci, com a sua frente revestida em azulejos portugueses, muito conservados em outros lugares. Pela sua beleza e pelo seu valor histórico. Indo mais adiante, notei o surgimento de um “espiguinho” três ou quatro andares, surgido após derrubarem a frente do palacete que tinha um relógio no seu frontispício. São aquelas construções de sábado e domingo, muito comum no centro comercial de Santarém, quando se vê na segunda-feira, já tem outro prédio, no local. Interessante é que alguns recebem alvará da Prefeitura para construir, outros ficam enfrentando as maiores dificuldades, por certos setores da administração municipal, prejudicando, assim, quem quer construir legalmente.
No outro quarteirão, na esquina da Francisco Corrêa, onde funcionava a Casa Martins que era de propriedade do ex-vereador e ex-vice-prefeito Joaquim Martins, também em suas paredes revestidas de azulejos portugueses. Ali Já haviam colocado um ar condicionado. Agora, resolveram aplicar uma tinta, de cor de péssimo gosto, mas o objetivo era cobrir toda a extensão dos azulejos. Conseguiram.
Está lá feito o desastre e o ato criminoso, contra a nossa cultura, nossa história e patrimônio arquitetônico. O órgão governamental, criado, mantido e que consome o dinheiro do cidadão, contribuinte santareno, para evitar esses absurdos, nada fez. Ou fez ou fizeram vista grossa, ou então, em última análise, o que é pior, autorizaram. “Vai fazendo ai, não esquenta, deixa comigo”!
A esse ou esses, como hoje é o dia do poeta, só me resta transcrever a primeira estrofe do poema EPÍLOGO do poeta Gregório de Matos Guerra (século XVI, conhecido como O Boca do Inferno): “ Que falta nesta cidade?….Verdade/Que mais por sua desonra…Honra/ Falta mais que lhe ponha…Vergonha./O demo a viver se exponha, /por mais que a fama exalta,/ numa cidade onde falta/Verdade, Honra, Vergonha”.
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Por: Eduardo Fonseca
Sou gaúcho e moro aqui a 11 anos e também acho estranho como os governantes tratam a história de Santarém.Quando aqui cheguei minha ida de toda tarde era na Luci comer um sanduíche ou sorvete, me facinava aquela balança analógica…