A devastação da Amazônia é uma indecência comemorada

Desmatamento na Amazônia

Brasília, 6 de dezembro de 2011 – O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou, segunda-feira 5, a redução de 11% no desmatamento da Amazônia Legal, que é a Amazônia Clássica mais Tocantins e um naco do Maranhão (Nordeste) e de Mato Grosso (Centro-Oeste). Entre agosto de 2010 e julho de 2011, foram desmatados 6.238 quilômetros quadrados da Amazônia Legal, o menor índice desde que o monitoramento por satélite é registrado. “A razão fundamental dessa queda foi o combate implacável ao desmatamento comandado pelo governo brasileiro” – disse o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff, “no estilo dela”, parabenizou a todos os envolvidos, mas pediu melhores resultados no futuro.

E o governo comemora! 6.238 quilômetros quadrados de floresta torados em um ano! É uma indecência. Só mesmo Dilma, “no estilo dela”, e Aloizio Mercadante (ministro de Ciência e Tecnologia!) para acreditarem em “combate implacável ao desmatamento”. O Pará, que passará por plebiscito dia 11 para decidir se continua continental ou se será dividido em três, é o campeão em desmatamento. Lá, no período mencionado, foram torados 2.870 quilômetros quadrados de floresta. O sudeste do Pará já é quase só cerrado e capoeira. Ninguém utiliza essas áreas imensas para a agricultura. Depois de desmatadas, geralmente para a produção de carvão, fica lá o monturo gigantesco.

Os políticos locais vivem batendo perna em aviões, Belém-Brasília-Belém; dão, às vezes, uma escapulida turística internacional, e vão levando a vidinha deles, alheios ao som das motosserras e da fumaça das caieiras. Agora, com o movimento de divisão do estado em três, o pessoal de Belém começou a se mexer; afinal, se o estado for mesmo dividido, vão perder muita grana.

Mato Grosso, o segundo maior desmatador nesta última medição, com 1.126 quilômetros quadrados, já quase não tem o que torar. Rondônia, terceiro lugar, com 869 quilômetros quadrados torados, registrou aumento de 100% no desmatamento em relação ao ano anterior.

Os colonos portugueses levaram uma quantidade incrível de toras de madeira nobre para a Europa durante séculos, mesmo assim até os anos da década de 1950, a Hileia estava quase intacta. A partir dos anos de 1960, grandes propriedades começaram a ser instaladas na região, com seus donos mantando pôr fogo na floresta para plantar. Logo depois, a área desmatada, além de perder rapidamente a fertilidade, virava capoeira de ervas daninhas, incontroláveis. Aí, desmatavam mais floresta. Hoje, as áreas desmatadas são visíveis a olho nu do espaço.

Entre 1991 e 2000, a área de floresta torada subiu de 415 mil para 587 mil quilômetros quadrados, a maioria disso transformada em pastagem para gado – 91% das terras desmatadas, desde 1970, são utilizados para pastagem de gado. Também a soja está avançando na Amazônia. Entre 2000 e 2005, o desmatamento médio da Hileia foi de  22.392 quilômetros quadrados por ano. Segundo o relatório Assessment of the Risk of Amazon Dieback, do Banco Mundial, cerca de 75% da floresta podem ser perdidos até 2025 e, em 2075, podem restar apenas 5% de florestas no leste da Amazônia.

A Amazônia tem vocação para produção industrial biotecnológica; produção de peixes, crustáceos e frutos do mar (Amazônia Azul); silvicultura, principalmente para a produção de biodiesel; extração mineral, inclusive minerais estratégicos, como nióbio; produção de frutas típicas da região, como açaí; agricultura de várzea; produção de pesquisa e tecnologia do Trópico Úmido.

Precisa de mais universidades, e que também funcionem, que não sejam como as universidades capengas que existem lá, e, de um modo geral, no Brasil do faz de conta; cursos de oceanografia, engenharia naval, da pesca e agronômica, e de medicina tropical; implementação de polos industriais biotecnológicos, além de investimento maciço e nunca descontinuado na educação e da contratação inicial, por concurso, de pelo menos mil guardas florestais, equipados com o que há de melhor para pegar bandido (é claro que muita gente boa, de colarinho branco, não iria querer uma coisa dessas).

Tudo está ficando cada vez mais descarado. O governo federal passou um tempão ouvindo a conversa mole do João Bafo de Onça, o Lupi do PDT, e o Zé Sarney gasta nossa grana à vontade, inclusive para ver como vai sua bela imagem pública, e incentivando os seguranças do Senado Federal que sonham em se tornarem uma Polícia Federal. Os ladrões de colarinho branco continuam soltos e sem devolver sequer um centavo do que roubaram.

Quanto à Amazônia, continuará sendo devastada aos milhares de quilômetros quadrados por ano, tudo medido pelo Inpe.

Por: Ray Cunha (Jornalista e escritor, baseado em Brasília-DF)

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