Papa Francisco quer punição para padres pedófilos

Papa Francisco
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O Papa Francisco pediu nesta sexta-feira uma ação decisiva contra abusos sexuais de menores cometidos por membros da Igreja. Francisco disse ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Mueller, que a Igreja precisa agir com determinação para proteger os menores, ajudar aqueles que sofreram com a violência no passado e seguir os procedimentos necessários contra aqueles que são culpados. Acredita-se que essa seja a primeira vez que o argentino Jorge Mario Bergoglio se manifeste de forma direta sobre um dos temas mais polêmicos envolvendo a Igreja Católica.

 “O Papa pediu que a Congregação continue seguindo a linha estabelecida por Bento XVI, que atue com determinação no que se refere aos abusos sexuais”, disse a nota do Vaticano.

O comunicado destaca também o pedido do Pontífice para que as conferências episcopais “trabalhem na formulação de diretrizes” para o combate do abuso de menores, destacando que sua importância para a credibilidade da Igreja.

A Congregação para a Doutrina da Fé é o órgão da Santa Sé que que inclui o escritório do promotor de justiça, que investiga os casos de abusos sexuais e decide se os religiosos acusados devem ser expulsos do sacerdócio.

Em 2011, a Congregação para a Doutrina da Fé conclamou religiosos de todo o mundo a apresentarem diretrizes para ajudar as vítimas, proteger as crianças, selecionar e treinar sacerdotes e religiosos, lidar com os padres acusados e colaborar com as autoridades locais.

Quando foi eleito, Bento XVI prometeu livrar a Igreja da “sujeira” da pedofilia clerical, mas os críticos o acusaram de acobertar abusos no passado e de não ter protegido as crianças de padres pedófilos. Vítimas de abuso sexual por parte do clero pediram uma resposta forte do novo Pontífice.

Nos últimos anos, os casos de pedofilia têm atingido os mais altos cargos da Igreja. Arcebispo de Nova York, o cardeal Timothy Dolan foi interrogado durante três horas, em 20 de fevereiro, por advogados de 500 supostas vítimas de abusos que teriam sido cometidos por padres de Milwaukee – a oitava diocese que recorre ao procedimento nos Estados Unidos desde 2002, quando veio à tona um escândalo por abusos sexuais em Boston – , na época em que ele era líder daquela arquidiocese, entre 2002 e 2009.

Outros cardeais, como Roger Mahony (EUA), Norberto Rivera Carrera (México) e Sean Brady (Irlanda) também tiveram seus nomes envolvidos em escândalos. Mahony, de Los Angeles, enfrentou grande oposição de ativistas a sua participação no conclave: ele foi acusado de ter acobertado 129 casos de pedofilia nos Estados Unidos.

Já Carrera foi contestado por ativistas e ex-membros do clero, que pediram que o cardeal mexicano também não participasse do conclave, por sua relação com casos de pedofilia no México e nos Estados Unidos. Na década de 1980, quando era bispo em Tehuacán (estado de Puebla), ele teria encoberto abusos sexuais a menores cometidos pelo sacerdote Nicolás Aguilar Rivera. O crime foi evidenciado em uma troca de cartas com Mahony, publicadas em janeiro por ordem de um tribunal de Los Angeles que investiga os casos. A correspondência indica que Carrera conhecia as tendências pedófilas e a homossexualidade do sacerdote Rivera.

Na Irlanda, investigações do governo revelaram uma centena de abusos cometidos ao longo de décadas em instituições religiosas, tais como orfanatos, escolas e paróquias, que envolveram o cardeal Sean Brady.

Os casos se somam ao afastamento do ex-cardeal escocês Keith O’Brien, decidido por Bento XVI, devido a acusações de que o religioso teria cometido “atos impróprios”. Oficialmente, o arcebispo de Edimburgo pediu demissão em novembro de 2012, por motivo de idade – ele completou 75 anos mês passado. Mas sua saída acabou adiantada diante das acusações que chegaram a Bento XVI. Três padres e um ex-religioso da diocese de St.Andrews e Edimburgo denunciaram uma série de “comportamentos inapropiados” de O’Brien. O ex-cardeal admitiu sua “má conduta sexual”, não participou do conclave que elegeu o Papa Francisco, e prometeu ficar longe da vida pública da Igreja Católica.

O assunto permanece um tabu entre os religiosos. Mês passado, poucos dias após a eleição do Papa Francisco, o cardeal sul-africano Wilfrid Fox Napier, arcebispo de Durban, disse à BBC que a pedofilia é uma doença, não um crime. Na ocasião, Napier afirmou que o problema é um “distúrbio que necessita tratamento”, e contou que conhecia pelo menos dois padres que foram abusados quando crianças e que haviam se tornado pedófilos. A declaração gerou polêmica, e o cardeal foi levado a pedir desculpas publicamente.

Além do desgaste na imagem, os escândalos sexuais custam caro à Igreja: só nos Estados Unidos, US$ 3 bilhões foram pagos em indenizações em casos de pedofilia até 2012. De cofres vazios após serem obrigadas a indenizar vítimas de abusos em milhões de dólares, oito dioceses americanas faliram.

Fonte: O Globo

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