Indústria brasileira gasta com gás US$ 5 bilhões a mais que os EUA
O shale gas (ou gás de folhelho, tipo de gás encontrado em rochas no subsolo) jogou os preços do gás nos Estados Unidos para baixo, ampliando a competitividade industrial naquele país. Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que o preço médio do gás nos EUA é de US$ 4,45 por milhão de BTUs (medida usada para gás natural), enquanto no Brasil é de US$ 17,14 por milhão de BTUs. A diferença faz com que a indústria nacional tenha um gasto adicional de US$ 4,9 bilhões por ano. Para reduzir esse custo, a Firjan diz que é necessário não apenas baixar o preço do produto, como os impostos e a margem das distribuidoras.
No estudo “O preço do gás natural para a indústria no Brasil e nos Estados Unidos — comparativo de competitividade”, foi considerado o consumo pela indústria brasileira de 10,4 bilhões de metros cúbicos por ano de gás natural, o que equivale a um custo de US$ 6,6 bilhões anuais. Se o preço final do gás no Brasil fosse equivalente ao do americano, o gasto da indústria seria de US$ 1,7 bilhão. O gás natural tem participação relevante no custo de produção de setores industriais de peso na economia, como indústria química (30%) e cerâmica (25%), por exemplo.
A Firjan fez simulações para empresas de diferentes portes. No caso de uma microempresa, uma padaria de bairro, por exemplo, que tem de cinco a sete empregados e consumo de gás natural de aproximadamente 1,5 mil metros cúbicos por mês, a perda de competitividade é de R$ 29,7 mil por ano na comparação com uma padaria americana. Para uma empresa química de grande porte, com 600 empregados e consumo de gás natural de 2,7 milhões de metros cúbicos por mês, o gasto adicional em comparação com sua concorrente americana é de R$ 29,8 milhões.
‘Tarifa é cara’
O estudo mostra que a melhoria da competitividade do gás no Brasil depende de mudanças estruturais, que passam não só pela redução do preço da molécula (parcela variável do preço final do gás e que representa 43,5% da tarifa), como também de outros componentes na formação de preço. Os tributos respondem por 22,08% da tarifa ao consumidor e a margem das distribuidoras, por 19,01%. A parcela fixa no preço, que corresponde ao custo de transporte, representa 15,39%.
— O importante é mostrar justamente isso. A tarifa é cara não só pelo preço do gás em si, como também pelos outros componentes. Mesmo que o Brasil consiga ter o mesmo custo da molécula de gás natural dos EUA, a tarifa para a indústria cairia para US$ 11,78 por milhão de BTUs, ainda quase o triplo do valor praticado nos EUA — afirma o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
A queda de preço do gás natural dos EUA resulta principalmente do advento do shale gas no país, cuja produção cresceu desde meados dos anos 2000. Os grandes depósitos do chamado gás de folhelho (que vem sendo traduzido para o português de forma equivocada como gás de xisto) são conhecidos há muito tempo. No entanto, por ficarem aprisionadas dentro de rochas, tais reservas só se tornaram viáveis recentemente com o desenvolvimento de uma técnica ambientalmente polêmica chamada de fratura hidráulica.
Como o nome diz, a técnica consiste em fraturar rochas no subsolo para liberar o gás armazenado dentro delas, usando água bombeada com alta pressão e produtos químicos. Ambientalistas temem a contaminação de lençóis freáticos.
No Brasil, o gás não convencional — seja o de folhelho ou outro — é uma aposta para o próximo leilão a ser realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), em outubro.
Fonte: O Globo