Mais médicos só com a regionalização das vagas

Dados oficiais atinentes ao número de médicos e à forma como são distribuídos pelo território paraense mostram o quanto as autoridades governamentais, dos três níveis de poder, são incompetentes e até mesmo irresponsáveis ao lidar com a grave problemática da saúde pública no Estado do Pará.

Há, no Pará, 6.526 médicos ativos com registro no CRM/PA. Destes, 4.783 residem em Belém e 1.743 distribuem-se pelos 143 municípios do interior do Estado.  Se a distribuição desses profissionais fosse homogênea, teríamos um médico para cada grupo de 1.187 habitantes. Uma relação médico/habitante insuficiente para atender satisfatoriamente aos 7.760.000 paraenses, mas, em todo caso, menos trágico se considerarmos que os que não residem na capital, em número de 1.743, estão condenados a atender (em troca de pífios salários no setor público e de vultosos rendimentos no setor privados) mais de 6.350.000 paraenses, o que significa um médico para 3.643 habitantes ou ainda que apenas um médico tem de fazer o que a Organização Mundial da Saúde  gostaria que fosse feito por 10 desses profissionais.

Aqui, na nossa região, há pelo menos 12 municípios sem um mísero médico. Se considerarmos (critério ainda bem distante do ideal) que para cada grupo de 1.000 habitantes deveríamos ter pelo menos um médico, seriam necessários 1.280 deles para atender os 27 municípios da abrangência do Tapajós (sentido amplo).

Alenquer tem 8 médicos, deveria ter 55; Oriximiná conta com 20, deveria ter 64; Monte Alegre tem 8, deveria ser servida por 57; Óbidos tem 7, deveria ter 50; Juruti tem 9, faltam pelo menos 42; Uruará conta com 5, mas tem, pelo critério de um para mil, direito a mais 40; Prainha, Placas, Jacareacanga, trairão contam com apenas um médico e o Estado deve a cada um deles pelo menos mais uns 30 ou 25..

Problema monumental, gigantesco mesmo. Então, qual a solução?!

 Aumentar o salário dos médicos? Impossível, os que clinicam por essas bandas ganham muitíssimo bem e no tocante aos vultosos rendimentos não têm que reclamar. Não é, portanto, o salário o fator de repulsa que mantém os discípulos de Hipócrates distante da nossa região.

Importar médicos de outros países? Como medida paliativa, pode até promover uma precária trégua nas desgracências e do caos na saúde pública, que impinge uma  existência  triste e miserável ao sofrido povo da nossa região.

Obrigar os médicos recém formados a permanecer por dois ou mais anos prestando serviço nos municípios interioranos?  Depois de formados, com o canudo debaixo do braço, que força poderia impedi-los de exercer o direito de ir e vir ou obrigá-los a trabalhar onde não desejassem?  Creio que todos, sem exceção brandiriam um Mandado de Segurança para livrar-se solto dessa inócua imposição.

Dobrar ou triplicar o número de vagas nas faculdades de medicina? Como medida solitária seria ineficaz e inútil. O miolo do problema não reside no quantitativo global de médicos que habitam o território brasileiro, mas sim na sua desigual e estúpida distribuição.

Criar mais faculdades de medicina (Por exemplo, criação da Faculdade de Medicina da UFOPA com 80 vagas/ano; 40 por semestre) nos municípios pólos e adotar critério de seleção regionalizada e até mesmo subregionalizada para ingresso nessas  faculdades, disponibilizando um percentual do número de vagas para estudantes originários ou que tenham cursado o ensino médio em cada grupo de municípios ou sub regiões geográficas ( Baixo Amazonas, Tapajós e Xingu)?

 Sim, essas são medidas que objetivamente seriam eficazes para segurar um expressivo contingente de formandos na região, muitos dos quais certamente escolheriam trabalhar em seus municípios de origem, á semelhança da opção feita pela metade dos médicos residentes em Alenquer, que são alenquerenses de nascimento e que em terras ximangas decidiram viver e exercer sua nobre profissão.

Há quem se oponha a regionalização das cotas para a faculdade de medicina? Sim, muitos, entre eles, por puro e odioso egoísmo, o estudante nascido em Belém ou em outras capitais, que não conseguem ingressar na faculdade de medicina de seu Estado ou de sua cidade porque incapazes de pontuar dentro do número de vagas e não vêem outra alternativa a não ser migrar para regiões onde podem obter uma vaga com menor esforço ( Nas primeiras turmas da faculdade de medicina de Santarém/UEPA mais de 85% das vagas foram ocupadas por estudantes de Belém e outras capitais).

Então, porque o governo federal e o governo do Pará não adotam o critério de seleção regionalizada para ingresso nas faculdades de medicina de sua responsabilidade? Porque os tecnocratas que tem a dever de cuidar desses importantes assuntos talvez não tenham o menor interesse em resolver o grave problema da falta de médico nas regiões carentes e abandonadas. Se podem improvisar, remediar, refrescar pelo menos,com medidas paliativas e demagógicas por que, afinal, lançariam mão de soluções sérias e definitivas?

Fonte: RG 15/O Impacto

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