Assessora de bloco parlamentar no Senado é sócia de empresa suspeita de lavar dinheiro

Lavagem de dinheiro
Lavagem de dinheiro

Um relatório sigiloso da Polícia Civil do Distrito Federal aponta que uma assessora parlamentar lotada no bloco liderado pelo senador Gim Argello (PTB-DF), Marfisa Adriane Gontijo Jales, é sócia de empresa suspeita de participação em esquema de lavagem de dinheiro. O documento obtido pelo GLOBO, produzido em 2009, lista 33 empresas suspeitas de atuar para uma organização criminosa investigada desde então pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF.

Uma das empresas citadas é a Corrente Diesel Ltda., que tem Marfisa como um dos sócios, conforme o relatório. Na última quinta-feira, 7, Marfisa foi conduzida coercitivamente à polícia para prestar esclarecimentos sobre o esquema de venda de alvarás a empreendimentos comerciais no DF. O marido dela, Carlos Alberto Jales, ex-administrador da região de Taguatinga, está preso temporariamente por suposta participação no esquema de corrupção.

Tanto a indicação de Carlos Alberto à administração regional – uma espécie de prefeitura no DF – quanto a indicação de Marfisa para o cargo de assessora parlamentar do bloco União e Força partiram do PTB no DF, dominado pelo senador Gim Argello. Procurado pelo GLOBO no início da noite de segunda-feira, o gabinete do bloco parlamentar informou que Marfisa foi exonerada do cargo comissionado na sexta-feira, por decisão pessoal do senador. Ela chegou ao Senado em setembro de 2012. Até está segunda, o nome da servidora aparecia na lista de funcionários da Casa divulgada no site da instituição.

– A decisão do líder foi tomada para não comprometer a imagem do Senado – disse o chefe de gabinete do bloco União e Força, Dênio Rodrigues, que falou em nome do senador.

Em 2009, um inquérito policial foi instaurado para investigar “possível atuação no Distrito Federal de uma organização criminosa que estaria se utilizando de uma rede de empresas de fachada para a prática de crime de lavagem de dinheiro”. A partir disso, a Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Deco) passou a mapear informações sobre empresas e pessoas suspeitas.

No tópico “empresas”, a Corrente Diesel é a de número 33. Conforme o relatório policial, Marfisa é uma das sócias da Corrente. O ramo da empresa seria comércio de combustíveis, como consta no registro da Receita Federal. O endereço é uma rodovia federal em Correntina (BA).

Um dos principais investigados no inquérito policial era o doleiro Fayed Traboulsi. No curso da apuração, o Ministério Público do DF constatou o vazamento da chamada Operação Tucunaré, o que acabou frustrando o trabalho sigiloso da polícia e do Ministério Público. Em 2010, os autos foram remetidos à Polícia Federal (PF).

A Operação Tucunaré precedeu as Operações Elementar e Miqueias, deflagradas em setembro deste ano e que resultaram na prisão do doleiro Fayed – que já está em liberdade. O grupo alvo das duas operações é suspeito de lavagem de dinheiro e de desvio de recursos de fundos de pensão de governos estaduais e municipais.

A Operação Átrio, por sua vez, investigou um esquema de venda de alvarás para funcionamento de empreendimentos que não seguiriam todos os trâmites legais, conforme a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do DF. Assim como Marfisa, um mandado de condução coercitiva foi expedido pela Justiça contra o ex-senador e ex-governador do DF Paulo Octávio, um dos maiores empresários do ramo imobiliário na região e suspeito de participação no esquema.

O Ministério Público chegou a pedir a prisão de Paulo Octávio, o que foi negado pela Justiça. O empresário apenas prestou depoimento à polícia. Estão presos os administradores de Taguatinga, Carlos Alberto Jales, e de Águas Claras, Carlos Sidney de Oliveira. Para fundamentar o pedido de prisão de Paulo Octávio, o Ministério Público fez a seguinte afirmação: “O administrador de Taguatinga era um verdadeiro despachante de Paulo Octávio.” Ainda segundo o Ministério Público, Carlos Alberto fornecia “informações privilegiadas” ao ex-senador sobre os empreendimentos imobiliários em Taguatinga, inclusive sobre “requisição do MP quanto às cópias dos projetos de construção”.

O GLOBO tentou localizar Marfisa, mulher do ex-administrador Carlos Alberto, mas o gabinete do bloco parlamentar União e Força informou que a servidora “está incomunicável e acompanhando o marido no hospital”. Carlos Alberto está internado desde a decretação da prisão. O bloco no Senado é formado por PTB, PR, PSC e PRB.

Fonte: O Globo

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