MILTON CORRÊA

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)

Curso de pós-graduação lato sensu em Jornalismo Científico

PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Reportagem Especial (com enfoque científico)

A RELAÇÃO DO IGARAPÉ URUMARI E SANTARÉM

Já o economista Vilberto Sá, morador há mais de 25 anos do bairro Urumari, tem um olhar saudosista do igarapé. “Quando olhamos o igarapé Urumari, lembramos como era em outros tempos, aquele volume d’água encaixado entre as margens, se movimentando em forma de correnteza, onde o utilizávamos para o lazer nos finais de semana”. E continua, “hoje muitas entidades se manifestam em defesa do igarapé, mas tanto tempo se passou e ninguém se deu conta da exploração natural que o homem só pensava em locupletar e enriquecer da beleza que representava, nunca pensando que de onde se tira um dia se acaba”.

O carpinteiro Edivaldo de Sousa Aires, morador do bairro Área Verde, afirma que desde 1993, começou a perceber a mudança d’água, “com a retirada da mata ciliar, a terra foi caindo para dentro do igarapé e aterrando-o, em partes que eram bem mais profundas, hoje está aparecendo a terra, aquele aterro foi caindo, e hoje o igarapé está bem baixinho”, denuncia.

Airesgarante que há pessoas criando animais às margens do igarapé, que dizem estar comprometidas com a preservação ambiental, mas o que se constata é que elas estão contribuindo para que a degradação. O carpinteiro cita como exemplo a AvenidaDom Frederico Costa, que corta o igarapé Urumari, dizendo que quase todas as manhãs são vistos animais mortos jogados ali, como cachorros e galinhas. “Qualquer animal que morre é jogado lá, dentro do igarapé. Tem muita criança que convive com aquilo, com aquela sujeira. Há 20 anos a água era usada para os serviços domésticos e hoje não se usa mais. Dentro do bairro Área Verde, o igarapé está totalmente poluído, não tem sequer um trecho preservado”, constata.

Aires chama a atenção dos donos de serrarias que atuam as margensdo igarapé, para que tenham consciência da importância da preservação ambiental.Porém, tira a responsabilidade do Poder Público Municipal, que deve cobrar dos madeireiros essa consciência, em favor da preservação ambiental.

O ex-vereador Carlos Jaime, morador do bairro Uruará, informou que tem feito acompanhamento do manancial e detectado várias situações graves. Ele percorreu todo o igarapé Urumari, desde a sua nascente na serra do Saubal, bairro Vigia, até o bairro do Uruará, onde deságua. Ao longo do igarapé, ainda há alguns locais conservados, mas noutros há grande desmatamento, com criação de porcos, instalação de serrarias às margens eserragem caindo nas águas, construções e apropriação indevidas.

Crianças ainda tomam banho na água imprópria para o consumo humano. Foto: Comitê em defesa do Igarapé Urumari.
Crianças ainda tomam banho na água imprópria para o consumo humano. Foto: Comitê em defesa do Igarapé Urumari.

Algumas ações foramadotadas indevidamente, seja perspectiva legal, seja social, como no bairro Santo André, lembra Jaime, ondeuma rua foi fechada com a construção de um muro, impedindo o acesso ao igarapé Urumari. Ou seja, as pessoas se apropriam de áreas cometendo atos ilegais. “São várias situações que temos constatado”. Contou que deu ciência da situação ao Ministério Público Estadual, as secretaria Municipal de Meio Ambiente, em alguns momentos foram tomadas providências, outros, ficaram só na denúncia, sem nenhuma ação concreta contra os desmandos, “mesmo com o trabalho incessante que temos feito conscientizando as pessoas próximas para a preservação”, ressalta.

O ex-vereador relatou que mesmo com todos os problemas apresentados pelo igarapé, a partir da ação do homem, há pessoas que ainda usam o manancial para tomar banho, lavar roupas. Algumas pessoas têm construído suas casas à margem do igarapé, com a alegação de que não há uma política de moradia, olha a gravidade dessa atitude, aponta Jaime, “imagina uma fossa próxima ao igarapé, com certeza vai comprometer o lençol freático, até porque é um local inundado e isso dificulta o bem estar das pessoas”.

Naquela área, recorda Jaime, há pessoas que desenvolvem a cultura da subsistência, com plantação de açaí e o buriti. “São vários tipos de plantas nativas que proporcionam os moradores sobreviverem”, avalia.

A produtora de rádio e moradora no bairro UrumariGeisa de Oliveira, testemunha que tem pessoas jogando além de lixo doméstico, entulhos de construção civil. Para Oliveira, o que falta mesmo é respeito, fiscalização das autoridades ambientais e aplicação de multa aos que poluem. Ela sugere uma ação conjunta Poder Público e comunidade objetivando revitalizar o igarapé.

Outros depoimentos ouvidos dão conta das inúmeras barbaridades cometidas contra o igarapé. A doméstica Delfina da Conceição, moradora do bairro Jutai,já testemunhou caminhões descarregando lixo no igarapé. Ela pede que a população tenha consciência e não jogue lixo no local

O comerciante Paulo César Farias, morador do bairro Área Verde, afirma que falta empenho do Poder Público, em desenvolver ações que possam junto com a população, promover a limpeza do igarapé. Relata que grande quantidade de areia desce com as enxurradas para dentro do igarapé, contribuindo com o assoreamento. Ele observa que ninguém está tomando providência. Farias acredita que daqui a algum tempo o igarapé vai deixar de existir, revela que há fossas sanitárias próximas ao manancial hídrico, piorando ainda mais a situação de poluição.

Para o comerciante Márcio Costa Silva, residente do bairro Área Verde, conta que a poluição do igarapé, ocorre desde a sua nascente, principalmente porfalta é rede de desgosto e saneamento básico. “Como sabemos a cidade de Santarém por inteira, não tem infraestrutura, a solução seria rede de esgoto, saneamento básico e a população não jogar lixo no igarapé”, são recomendações que o comerciante faz.

A doméstica Jean Mota, moradora do bairro Urumari, fez um apelo: “Não podemos deixar um bem natural morrer, referindo-se ao igarapé e acrescenta muitas vezes se quer tomar um banho e não pode, não tem condições à água é imunda, é impossível o seu uso para a alimentação”.

O médico Júlio César Imbiriba de Castro, clínicogeral com atuação em hospitais públicos e privados, avalia que independente do aspecto físico da situação, como é a destruição da mata ciliar, provavelmente vai propiciar o aparecimento de doenças endêmicas.

Castro descreve que à medida que o igarapé vai minguando no seu fluxo de água, vai criando poças, transformando-se em criadouros de todo de todo tipo de mosquito, inclusive do transmissor da dengue.

O médico lembra que a poluição do igarapé Urumari, vem se arrastando há muito tempo, sem que ações concretas sejam realizadas, para a solução do problema. Ele considera um acinte a educação e aos bem naturais, físicos e geográficos.

Para salvar o igarapé, o médico indica como primeira medida, um estudo de impacto ambiental e em cima dessa perspectiva o Poder Públicodeve exercer um trabalho cuidadoso. “Justificativas, demonstrações de que a situação está acontecendo, já existe demais”, argumenta, acrescentando, “o que falta agora é ação”.

O músico João Rabelo, morador do bairro Área Verde, diz que a ação causada ao igarapé Urumari é fruto da falta de consciência das pessoas que moram às proximidades e até mesmo daquelas que fazem com que o manancialfiquesem condições de se auto renovar e assim a poluição cada dia aumenta mais, trazendo doenças para as pessoas que ainda fazem uso dessa fonte hídrica. “A preservação da natureza depende da consciência de cada cidadão”, observa.

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