TV inglesa denuncia escândalo de manipulação de resultados no tênis

Escândalo no tênis mundial
Escândalo no tênis mundial

No mesmo dia da abertura do Aberto da Austrália, primeiro Grand Slam do ano, uma denúncia de manipulação de resultados sacudiu o mundo do tênis. Segundo uma reportagem da “BBC” e do site “BuzzFeed News”, pelo menos 16 jogadores top-50 do ranking mundial da ATP teriam protagonizado partidas arranjadas no circuito mundial nos últimos dez anos. Entre os tenistas envolvidos estariam vencedores de Grand Slam. Todos ainda estariam jogando no circuito mundial.
Logo após a divulgação da reportagem, o tenista número 1 do mundo, Novak Djokovic, fez uma revelação que mostra que o drama no esporte não é mera especulação. Ao comentar as denúncias feitas pela “BBC”, o sérvio afirmou que já lhe ofereceram US$ 200 mil (R$ 809,2 mil) para participar de um jogo arranjado há oito anos. Na ocasião, o tenista era um jovem de 20 anos, que ainda estava longe dos primeiros lugares do ranking da ATP. Foi oferecido a Djokovic que ele entregasse um jogo de primeira rodada em Petersburg, nos Estados Unidos, um torneio que ele acabou não participando.
– Eles não me abordaram diretamente. Bem… foi oferecido a mim através de pessoas que trabalhavam comigo naquela época, que estavam com a minha equipe. É claro que dissemos não imediatamente. O cara que tentou falar comigo nem sequer falou comigo diretamente. Infelizmente, houve algumas vezes, naquela época, naqueles dias, rumores, algumas conversas, pessoas circulando. Eles (a equipe de Djoko) lidavam com isso. Mas nos últimos seis, sete anos, não ouvi nada similar. Pessoalmente, nunca fui abordado diretamente, então não tenho muito a dizer sobre isso – lembrou Djokovic.
Após a sua vitória na estreia em Melbourne sobre o coreano Hyeon Chung, o sérvio fez um discurso contundente contra a corrupção no esporte.
– Aquilo (a oferta) me deixou muito mal, pois eu não quero estar ligado a nada sobre isso. Alguns podem pensar que é uma oportunidade. Para mim, é um crime no esporte. Eu não apoio isso. Não há espaço para isso no esporte, especialmente no tênis. Eu sempre fui cercado de pessoas que respeitam os valores do esporte. Foi assim que eu cresci. Felizmente, para mim, eu não tive que, vocês sabem, me envolver diretamente nestas situações particulares.
ATP PROMETE INVESTIGAR
Na reportagem da BBC, o presidente da ATP, Chris Kermode, assegurou que nenhuma evidência de resultados arranjados “foi ignorada por qualquer razão”. Mas ele prometeu “investigar qualquer nova informação” envolvendo jogos arranjados no tênis.
– As autoridades do tênis rejeitam qualquer sugestão de que a evidência de manipulação de resultados tenha sido suprimida por qualquer razão ou não está sendo cuidadosamente investigada. Embora a reportagem da “BBC” e do “Buzfeed” tenha se referido a eventos acontecidos há dez anos, vamos investigar qualquer nova informação – afirmou Kermode, acrescentando que a ATP investiu US$ 14 milhões (R$ 56,3 milhões) em medidas contra a corrupção no esporte.
A investigação dos jogos arranjados no tênis começou depois de uma denúncia envolvendo o russo Nikolay Davydenko. Ex-número 3 do mundo, o tenista teria abandonado de propósito uma partida contra o argentino Martin Vassallo Arguello em um torneio em Sopot, na Polônia, em 2007, para beneficiar apostadores. Os dois foram inocentados das acusações iniciais, mas o caso acabou levando a uma profunda investigação envolvendo os principais nomes da ATP.
A “BBC” informou que os casos envolvem apostas vindas da Rússia e da Itália e incluiriam três partidas da chave principal de Wimbledon. Mas as edições dos torneios e os jogadores envolvidos não foram reveladas.
Os jogadores envolvidos são acusados de violar a Unidade de Integridade do Tênis (TIU, na sigla em inglês), que é uma espécie de regulamento da modalidade. Em 2009, a TIU iniciou uma nova política anticorrupção, mas isso resultou em vetos a investigações de períodos anteriores a 2009. Um relatório de 2008 apontava o envolvimento de 28 atletas em casos suspeitos, mas, por causa das recomendações, as investigações não foram levadas adiante.
O diretor de integridade do TIU, Nigel Willerton, disse que não iria comentar as denúncias ou falar sobre qualquer jogador em atividade que esteja sob investigação, pois seria inapropriado.
Para Mark Phillips, um dos investigadores responsáveis por analisar a partida entre Davydenko e Arguello, há um grupo de dez atletas que são os maiores responsáveis pelo problema de corrupção no esporte.
– Há um núcleo de dez atletas que acreditamos que estão na raiz do problema. As evidências eram muito fortes. Parece haver uma boa chance de cortar o mal pela raiz e obter um forte elemento para erradicar as principais maçãs podres (do esporte) – analisou Phillips, acrescentando que as evidências foram as mais fortes que ele viu em 20 anos trabalhando como investigador.
TENISTAS SURPRESOS
Djokovic pediu que tudo seja esclarecido para que o tênis não fique com dúvidas pairando sobre os seus resultados.
– Não há espaço para qualquer partida arranjada ou corrupção no esporte. Estamos tentando mantê-lo o mais limpo possível. Nós temos, acredito, um esporte que evoluiu e atualizou os programas e autoridades para lidar com estes casos particulares. Não acredito que haja uma sombra sobre o nosso esporte. As pessoas estão falando sobre nomes, tentando adivinhar quem seriam estes jogadores. Mas ainda não há uma prova ou evidencia real da participação de qualquer jogador em atividade. Até onde se sabe, são apenas especulações.
Alguns tenistas como o croata Marin Cilic e o japonês Kei Nishikori ficaram surpresos com a denúncia e disseram que nunca ouviram falar de jogos arranjados no esporte. Assim como a tenista número 1 do mundo no feminino, a americana Serena Williams.
Após a vitória sobre a italiana Camila Giordi, Serena disse que ficou sabendo da denúncia, mas afirmou nunca ter ouvido nada sobre partidas arranjadas.
– Quando estou jogando – e eu só posso falar por mim – eu me esforço muito, e todos contra quem eu joguei parecem se esforçar muito (para vencer). Como atleta, eu faço tudo o que posso não apenas para ser grande, mas por algo histórico. Se isso está acontecendo, eu não sei de nada. Às vezes, eu fico numa espécie de bolha – afirmou.
O diretor executivo do Aberto da Austrália, Craig Tiley, disse que o torneio de Melbourne tem um robusto sistema anticorrupção.
– Todos os envolvidos no Aberto da Austrália não vão tolerar qualquer desvio dos nossos valores e regras em qualquer nível – garantiu.
Fonte: O Globo

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