MILTON CORRÊA

Parcelamento é escolhido mesmo para compras de baixo valor, mostra pesquisa do SPC Brasil

35% dos consumidores que compram a prazo sempre o fazem independentemente do valor. Com a economia mais fraca, 47% acreditam que o acesso ao crédito está mais difícil em 2016.

Um hábito bastante comum dos brasileiros é o de parcelar suas compras, mesmo que elas não possuam um valor alto. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL): mais de um terço dos consumidores (34,7%) que pretendem realizar compras parceladas no próximo mês, afirmaram que pagarão no maior número de prestações, independentemente do valor. Outros 37,1% também têm a intenção de comprar a prazo, mas com o menor número possível de parcelas.

Para os especialistas do SPC Brasil, o parcelamento pode ser uma importante ferramenta para o uso do crédito, mas apenas se realizado de maneira organizada e responsável. “Não é o que acontece em muitos casos. O brasileiro está acostumado a pagar suas compras em várias prestações mesmo com valores que não compensam o parcelamento. Isso compromete parte da renda e, se feito de maneira descontrolada, pode até gerar um superendividamento e inadimplência”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

A pesquisa mostra que, no mês anterior ao levantamento, os entrevistados que tinham prestações a pagar, quitaram em média três parcelas e ainda têm pela frente quase seis meses para terminar de pagar os compromissos já assumidos. Quatro em cada dez consumidores não sabem ou não quiseram responder o número de prestações a pagar e três em cada dez não souberam dizer o número de parcelas pagas no último mês.

Para a economista, o desconhecimento sobre as contas é um dos culpados pelo endividamento dos brasileiros. “Cada compra, seja parcelada ou à vista, deve ser anotada e ter o seu valor analisado em conjunto com as receitas, ou seja, o consumidor deve saber se vai ter dinheiro para conseguir quitar o pagamento de suas compras”, afirma. 34,1% dos entrevistados afirmam que não sabem a diferença entre os valores dos produtos parcelados e à vista. “Esse desconhecimento prejudica uma tomada de decisão do consumidor, já que muitas vezes ele acaba pagando juros, o que encarece o produto ou serviço de maneira desnecessária.”

A pesquisa mostrou que o cartão de crédito é a modalidade de crédito preferida por 72,2% dos entrevistados que pretendem comprar algum produto ou serviço parcelado no próximo mês. Em relação aos itens que os consumidores pretendem comprar parcelado em 2016, as roupas aparecem em primeiro lugar para 23,8% dos entrevistados, seguidas pelos calçados (21,4%) e pela opção de não comprar nada dessa maneira (19,7%).

Já a principal forma de pagamento das despesas e compras no geral continua sendo o pagamento à vista, para 67,7% dos entrevistados: 42,6% escolhem dinheiro, seguido pelo cartão de débito (25,1%). Com 32,3% dos pagamentos a prazo temos principalmente o cartão de crédito, seja em uma ou em mais parcelas (28,6%). Entre os consumidores, 44,2% optam pelo pagamento à vista caso a diferença do valor a prazo seja muito significativa.

Para 47,3%, acesso ao crédito está mais difícil que em 2015

Reflexo da crise econômica pela qual o Brasil passa desde 2015, o acesso ao crédito está cada vez mais restrito. Quase cinco em cada dez entrevistados (47,3%) têm percebido o acesso ao crédito em 2016 mais difícil quando comparado ao ano passado: 62,7% têm evitado algumas formas de pagamento parcelado nos últimos três meses e 51,3% receberam oferta de descontos para pagar as compras à vista no mês anterior à pesquisa. Outros 65,9% avaliam que as taxas de juros estão maiores esse ano.

Metade dos entrevistados afirma ainda que tem sentido certa dificuldade por parte das lojas em aceitar determinadas formas de pagamento, principalmente cheque pré-datado e crediário. Nestes casos, os entrevistados pagam à vista (32,5%) ou desistem da compra (27,1%). Outros 21,9% tiveram o crédito negado em alguma loja que geralmente compram, sendo os principais motivos o nome sujo, limite excedido e falta de comprovação de renda. Quando passam por esta situação, o constrangimento foi o sentimento mais vivenciado nesta situação (34,5%).

Facilidade de crédito pode causar compras desnecessárias

Além do parcelamento, o acesso ao crédito também é uma ferramenta capaz de causar sérios problemas no orçamento, caso não seja administrado corretamente. No mês anterior à pesquisa, 39,1% dos entrevistados fizeram compras de produtos que não precisavam, devido à facilidade do crédito – principalmente roupas (20,7%). Segundo os consumidores, as lojas virtuais (26,5%) e as de departamento (21,8%) são as que mais facilitam o crédito estimulando a compra. Parte dos consumidores ainda afirma pretender comprar parceladas roupas, calçados, móveis, eletrodomésticos e celulares no próximo mês.

“Um dos principais cortes na hora de rever o orçamento são os gastos supérfluos, e muitas vezes os valores desses produtos ajudam a ter uma forte economia no orçamento”, indica Kawauti. “O momento econômico pede cautela e vale se prevenir contra imprevistos, como o desemprego, economizando para comprar à vista e iniciando uma reserva financeira. O acesso ao crédito pode facilitar esse consumo e dificultar a economia nesse momento”.

Segundo o levantamento, o crédito tem uma forte representação para os brasileiros, relacionado justamente a uma ajuda em momentos difíceis (35,0%), uma forma de viabilizar o consumo de produtos rapidamente sem a necessidade de juntar o dinheiro antes da compra (31,3%) e alegria para poder comprar sem ter o dinheiro disponível (22,5%).

Demanda por investimento da micro e pequena empresa cai para 19,96 pontos, o menor patamar em doze meses, mostra SPC Brasil

Apenas 13% dos micro e pequenos empresários têm a intenção de fazer investimentos em seus negócios. Indicador de Demanda por crédito cai para 11,68 pontos, o mais baixo desde setembro do ano passado

A atividade econômica enfraquecida e o cenário de juros e inflação elevados têm se refletido na baixa disposição dos micro e pequenos empresários dos segmentos do comércio e serviços (MPEs) em realizar investimentos em seus negócios. Dados do indicador do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram que a intenção de investimentos caiu de 28,45 pontos em março para 19,96 pontos em abril, sendo que quanto mais próximo de 100, maior é a propensão ao investimento. Trata-se do menor patamar observado desde maio do ano passado, início da série histórica.

Em números percentuais, o indicador revela que apenas 13,0% desses micro e pequenos empresários estão interessados em promover investimentos em seus empreendimentos.  Na avaliação do presidente da CNDL, Honório Pinheiro, o baixo apetite ao investimento é justificado, em parte, pelas dificuldades econômicas que o país atravessa somadas às incertezas no campo político. “Sem boas perspectivas com os rumos da economia, os empresários estão reticentes para assumir compromissos financeiros de longo prazo, já que os juros estão elevados e a demanda do consumidor segue diminuindo por conta da renda mais baixa e aumento do desemprego”, explica o presidente.

Dentre o reduzido universo de empresários que pretendem investir, o capital próprio aparece como o principal recurso. Sete em cada dez empresários (74,0%) usarão o dinheiro do próprio bolso e somente 21,2% irão recorrer a empréstimos em bancos e financeiras. Para os empresários que pretendem fazer investimentos, a medida tem como principal objetivo aumentar as vendas (66,3%), adaptar a empresa a uma nova tecnologia (8,7%) ou conseguir atender a demanda que aumentou (8,7%). Os investimentos mais citados por esses empresários são a reforma da empresa (34,68%), a compra de equipamentos e maquinário (33,7%) e o investimento em propaganda e comunicação (31,7%).

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