Bruno Sadeck: “Com Trump, EUA assume um papel unilateral”
Doutor em Política Internacional analisa os novos cenários impostos por Donald Trump
Nesta semana, a equipe da TV IMPACTO, entrevistou com exclusividade, o renomado estudioso e pesquisador de Política Internacional, Professor Doutor Bruno Sadeck, filho do educador e ex-diretor da Escola Estadual Álvaro Adolfo, Ivan Sadeck. Com um currículo memorável, Bruno Sadeck possui bacharelado em Ciência Política e Relações Internacionais, Mestrado em Ciência Política e Doutor em Política Internacional. Entre diversos temas, Bruno fala sobre a novos cenários que se desenham a eleição de Trump, e seus reflexos, inclusive nas relações dos EUA com o Brasil. Acompanhe parte desta importante entrevista, e na íntegra você confere o vídeo da TV IMPACTO, acessando nosso site www.oimpacto.com.
Jornal O Impacto: Na sua visão, o que o presidente Trump traz de novidade e de malefício para o cenário internacional?
Bruno Sadeck: Na minha opinião, o Trump é um outsider, como dizemos na terminologia da Relações Internacionais, que uma forma bem clara, traz uma agenda extremamente retracionista, conservadora, tirando um pouco do brilho que foram os anos Obama e também trazendo uma nova característica de fazer Relações Internacionais, de forma extremamente antiquada, conservadora; o discurso dele de posse está quase 100 anos defasado, falando exclusivamente para o eleitor americano sem nenhum tipo de visão ou conotação ao sistema internacional, onde os EUA se insere de forma crucial para todo os países. Então isso de uma maneira geral preocupara muito à academia, ao sistema internacional, às lideranças mundiais, às organizações do sistema internacional como a ONU; isso pode trazer um prejuízo muito grande às conquistas que aconteceram nos últimos 50 anos, de certa maneira pode provocar também um desequilíbrio muito grande na arena internacional, Estados Unidos assumindo um papel muito unilateral, com uma forma não diplomática e prejudicando um sistema que de uma certa maneira ou outra estará sempre no nosso dia a dia, seja aqui em Santarém, seja em São Paulo, seja em Londres; sempre haverá reflexos nesse tema internacional, seja mais, ou seja menos. Você tem a maior potência do mundo, se retraindo, usando um discurso de priorizar somente os estadunidenses, como o discurso dele (Trump) diz “Americans First” (Americanos peim) isso traz uma preocupação, porque aquela agenda de campanha que Trump fazia na época da eleição, muita gente tinha duvida se ele iria fazer ou não, e agora que ele tomou posse, com algumas semanas de governo ele ta começando e implementar mesmo, talvez ele não tenha se dado conta da dimensão e importância dos reflexos que uma atitude muito conservadora dele pode impactar nas relações com os demais países do mundo. Isso é muito preocupante, acredito que teremos anos muito enigmáticos e extremamente complicados pro cenário internacional.
Jornal O Impacto: Como diferenciar de fato o que seria marketing de campanha e do que seria de fato uma decisão de governo?
Bruno Sadeck: A ciência política moderna e contemporânea divide o que é candidato da campanha e candidato eleito, e o que estamos vendo hoje em dia na visão do Trump é que ele está seguindo o que ele prometeu, de certa forma ele não está sendo contraditório, pois ele fez as propostas e o eleitorado americano o elegeu dentro do formato do sistema americano que é diferente do nosso e diferente da maioria dos países em geral, e agora ele está implementando e isso causa uma certa preocupação porque talvez ele não tenha a dimensão do que é gerir um País daquele tamanho e está fazendo um mandato somente para seus eleitores e esquecendo a outra parcela que é contra ele de uma certa forma, mas hoje ele é Presidente e não é só da parcela que o elegeu ele é Presidente de toda a comunidade Norte Americana, e isso traz uma dicotomia muito grande, uma relação extremamente complicada com uma série de manifestações de grupos articulados dentro do universo Norte Americano protecionista e até fora mesmo, em vários países houve protestos, na Europa, dentro dos Estados Unidos e até mesmo na Ásia. Então, isso vem criando uma ação contínua de contestar as decisões que ele vem tomando, estamos verificando que ele está sendo muito contestado principalmente com o que ele vem fazendo com os imigrantes e com a saída dos Estados Unidos do tratado de cooperação do pacífico, e isto está mexendo bastante com o cenário internacional e principalmente irá afetar os países mais frágeis nesse processo, os mais vulneráveis como os Bricks talvez, principalmente os países que vendem produtos pros EUA, países menores que o Brasil, que podem ter suas economias afetadas diretamente, e quando ele (Trump) fala assim: “Não vou mais comprar produtos que não são produzidos nos Estados Unidos” ele está quebrando um produtor de outro País que faz a venda pros EUA e está tirando a renda daquele local do produtor. Isso pode desencadear outras conseqüências que não estavam previstas e que são possíveis de acontecer.
Jornal O Impacto: Como você acha que irá ficar o balanço de governo mundial com essa aproximação de Trump com a Rússia?
Bruno Sadeck: Talvez as relações de EUA e Rússia nunca estiveram tão bem. Isso é uma questão interessante de se observar porque eles possuem uma rivalidade histórica de antes, e com as afinidades que existem entre o Trump e Putin, isso pode de uma certa forma trazer um sistema bipolar de novo como era alguns anos atrás. Claro que não no formato de guerra fria, mas com base na cooperação e alianças econômicas, estratégicas e militares. As empresa do Trump e pessoas ligadas a ele, como é o caso do secretário de estado Rex Tillerson , têm ligação comercial direta com a Rússia, inclusive o Rex Tillerson foi condecorado pelo Putin a uns dois ou três anos atrás em homenagem a amizade Norte Americana e Russa. Então, claramente você vê negócios por trás desse processo, ou seja, não é meramente só relação diplomática dos EUA. Isso pode afetar de uma certa forma assim, de as relações estarem mais próximas e aí você tem uma outra potência que não estão comentando muito, mas que pode estar mais melindrado, que é a China. O discurso americano do governo Trump é muito anti-China, e você tendo um aliado como a Rússia próximo da China, você pode manter um certo nível de padrão de conduta anti chinesa mais sereno. Por que eu falo isso? Acredito que o governo do Trump será um governo muito conflituoso em várias áreas, diplomática, comercial e bélica, talvez política. Então, num cenário estratégico a Rússia além de ser parceiro comercial também poder ser parceiro militar. Isso vai ajudar na relação Eua/Rússia a aplacar o ânimos de países que possam tentar entrar em conflito com os Estados Unidos. Agora há um ponto que merece atenção, é que o Trump pode estar dando um tiro no pé, é claro e notório, que uma versão dos estados americanos e a mídia americana têm dos russos. Eu diria que há uma rivalidade sadia, mas a imprensa pode investigar, pode descobrir e revelar certos tipos de negócios entre Trump e Putin, que pode prejudicá-lo internamente. Aí a opinião pública pode se virar contra ele e Trump não ter condições de ficar apoiando a Rússia ou até mesmo se manter dentro do governo de uma certa forma equilibrado. São cenários que podem acontecer, não sei até que ponto isso pode ser realizado, mas são possibilidades, que a meu ver não estão tão distantes de estarem dentro do nosso dia-a-dia. Veremos o que irá acontecer nos próximos meses. [Assista a entrevista na íntegra acessando www.oimpacto.com.br]:
Por: Rafael Duarte
Fonte: RG 15/O Impacto