Madeireiros: “Não somos bandidos, só queremos trabalhar”

Onda Verde é uma operação permanente do Ibama nas áreas com maior índice de desmatamento

O Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), em Belém, usa imagens de satélite para seguir os caminhos das madeireiras, os veios do avanço sobre a mata. A exploração ilegal da madeira é a primeira fase da destruição. “Depois vem o desmatamento para abertura de pastos e áreas agrícolas. Ou seja, é por isso que o município de Novo Progresso é o principal alvo da Operação feita pelo governo Federal para combater o desmatamento ilegal.

As madeireiras em Novo Progresso estão bloqueadas, em sua maioria fechadas. Estima-se que mais de 1000 empregos foram perdidos.

 “Era comum a ‘falsa legalidade’ a partir de créditos virtuais, que acabou. Ajudava no esquentamento de madeira ilegal. Hoje eles reclamam da demora para obtenção de licenças. É desafio para a legalidade!”, disse um madeireiro

O IBAMA intensifica a fiscalização e a operação “Onda Verde” se tornou mais intensa. Os principais focos são o desmatamento à extração de madeira e ouro ilegal em terras públicas e nas unidades de conservação. Em Novo Progresso ainda tem os que persistem em trabalhar, e quando fiscalizados têm o bem destruído.

Nossa reportagem recebeu na manhã de sexta-feira (14), um empresário do setor madeireiro (preferiu anonimato) , indignado com os momentos difíceis que estão vivendo. Ele aproveitou para esclarecer os motivos que vivem na ilegalidade na região e pediu a publicação.

“Não somos bandidos – Queremos Trabalhar” – Para ele a extração ilegal tem várias causas, a mais reclamada é a falta de governo, em ter uma política que venha ao encontro  das terras públicas (federais e estaduais) destinadas e não destinadas (falta dos documentos). O conflito vem pela abundância de matéria-prima florestal nas UCs Flona, Parque e APA. É uma porta aberta para a extração ilegal, disse o empresário.

“A gente tenta trabalhar, mas o IBAMA vem na serraria e não prende os que estão lá na floresta extraindo a madeira ilegal. É muita madeira saindo sem documento; Não somos contra totalmente as ações deles, mas eles deveriam separar o joio do trigo, pois existem bons empresários que tentam levar certo, embora não consigam 100% porque a culpa é do próprio governo”, argumentou.

O empresário lamenta o desemprego local, e joga culpa na total ausência de estímulos públicos para quem deseja atuar de acordo com a lei, não só ambiental, mas também a fundiária, tributária e trabalhista. “Outro forte desestímulo são os longos prazos e a burocracia para licenciamento das atividades florestais”, disse.

É FÁCIL DE ENTENDER: O governo prometeu as concessões florestais, seria um ambiente favorável a uma oferta de madeira rastreada e manejada sustentavelmente. “Este projeto acontece aonde existe controle efetivo do manejo florestal, resolveria nosso problema, o controle é do governo (poder público), com possibilidade de rastreabilidade, que traz segurança fundiária, transparência, proteção contra invasões, compromissos e contratos de longo prazo. Mas infelizmente em nossa região isso ficou somente na promessa”, explicou. “O Governo prometeu a quem aqui já se encontrava, em uma audiência pública, e o Serviço Florestal disse que teríamos nossa economia estabilizada através da madeireira sustentável, que através do conhecimento técnico a região Amazônica tinha disponível milhões de hectares de terras públicas já destinadas (Florestas Nacionais e Estaduais) e ainda os milhões de hectares que ainda podem ser destinados para manejo florestal – disse que a região tem cerca de 40 espécies de madeiras para extração. As melhores são o ipê, a mais valorizada; seguida pela angelim, maçaranduba, jatobá. São várias espécies, a vegetação daqui é muito boa mesmo. Mas, o que vivemos todo este tempo foi o aumento da ilegalidade e nada de concessões florestais, desestimulou quem queria atuar corretamente”, argumentou.

O empresário finalizou explicando que o setor madeireiro é contra a destruição da floresta. “Nós temos madeira aqui para trabalhar por 200, 300 anos, para nossos filhos e netos, porque a madeira não acaba. Quem acaba com a madeira é a motoserra que vai lá e derruba tudo. Derrubou e passou um fogo, acabou. O setor madeireiro não quer isso aí. Para nós, é importante manter a mata em pé”, mas a ilegalidade predomina na região, não podemos pagar este custo sozinhos”, concluiu o empresário.

NOVO PROGRESSO: Localizado a 1085 km de Cuiabá, distante 400 km do porto de Miritituba (Itaituba),  700 km de Santarém, Novo Progresso vem  sendo alvo de operações do IBAMA, um dos motivos que segundo o órgão é que a cidade lidera o ranking dos municípios que mais desmatam na Amazônia.

Novo Progresso é base (centro)  para toda uma região (Moraes Almeida, Castelo de Sonhos, Cachoeira da Serra). Tudo tem lá, Fórum, bancos, Delegacia, Prefeitura, e com isto os problemas se amontoam nesta cidade, que é carente de recursos básicos como saúde, educação e segurança.

A principal atividade econômica da cidade já foi a madeireira, hoje se divide na pecuária, comércio, ouro e agricultura. A madeira hoje não significa o que já foi. No Município estão todas fechadas. Nossa reportagem andou pelo setor industrial onde estão localizadas a maioria das empresas do setor florestal, encontramos todas com as portas fechadas.

“Nos distritos de Moraes Almeida (Itaituba), Castelo de Sonhos, Cachoeira da Serra (Altamira) quanto mais se entra na mata, menos se tem a presença do Estado e menos consciência ambiental. Quando as pessoas estão preocupadas em sobreviver, em trazer o próprio sustento para casa, não sobra muita preocupação com coisas mais elevadas (legislação). Assim, o que eles querem e pensam, é no trabalho”, declarou.

ECONOMIA: Em um breve estudo enumeramos diversos problemas sérios na região que facilitam os crimes ambientais, como a falta de regularização fundiária, a demora para obtenção de licenças ambientais e a falta de alternativas econômicas para quem vive na região. Nesta extensão da rodovia BR-163 no Pará não existe uma indústria sequer – um frigorífico está abandonado às margens da rodovia em Castelo de Sonhos, outro na comunidade de Santa  Júlia em Novo Progresso. “Ou esses problemas o Governo encara ou o desmatamento não vai acabar. Só a repressão não funciona e não tem como funcionar, porque a vida das pessoas e o socioeconômico estão ligados nisto aí”, declarou.

REPRESSÃO: O IBAMA não consegue separar os dois tipos de infratores. Existem na região as pessoas que enfrentam “a falta de tudo e que estão em um pedaço de terra tentando sobreviver”, que é muito diferente  dos grandes desmatadores e das quadrilhas. A exemplo dos assentamentos e das pessoas que aqui estão desde o início, estas pessoas não têm sequer a titulação das áreas sobre as quais estão. Têm uma posse precária, não têm certeza de que são donas da terra”, informou

A legislação Ambiental diz que essas pessoas que não têm título não podem receber autorizações e licenças para queimadas e desmate legal. “Consequentemente fazem tudo de forma ilegal, aí vem o IBAMA e autua de forma bruta. Se tivéssemos a presença do governo para fazer o lado preventivo, mais importante que é de orientar, ensinar e resolver a titulação, a vida aqui com certeza seria outra”, analisou.

REVOLTA: No início do mês de julho, na comunidade de “Cachoeira da Serra” no município de Altamira, oito viaturas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram destruídas por um incêndio. A carreta (cegonha) com as caminhonetes estava estacionada no pátio de uma posto de combustíveis na comunidade de Cachoeira da Serra, aguardando um manifesto que bloqueou a rodovia para poder seguir viagem até Santarém.

REAÇÃO: A presidente do IBAMA nacional, Suely Araújo, reagiu, assim que soube da notícia das oito viaturas destruídas, determinando o bloqueio preventivo de todas as serrarias da região de Novo Progresso, no sistema do Documento de Origem Florestal (DOF). No mesmo dia o IBAMA encaminhou à PF áudios e mensagens em que criminosos incitam a destruição de veículos e helicópteros do instituto. Os veículos destruídos com a cegonha foram levados para Mato Grosso pela PF, que apura e investiga o caso. Até hoje ninguém foi preso ou indiciado pelo crime.

OPERAÇÃO “ONDA VERDE” DESTRÓI: Muitos ainda persistem em trabalhar ilegalmente, mesmo sabendo das retaliações [alegam sustendo da família], como foi o caso de um motorista que postou um vídeo no grupo de WhatsApp do Jornal Folha do Progresso (disponível para quem tem o aplicativo), logo após ele ter o caminhão carregado com toras destruído por fiscais do Ibama. Ele seguia na vicinal Mutuacá e  transportava ilegalmente uma carga de madeira extraída da floresta, quando foi surpreendido pelos fiscais ambientais que não perdoaram e queimaram tudo.

O Clima na região é tenso, uma equipe composta por fiscais ambientais do Ibama com PRF (Policia Rodoviária Federal) monitoram a região. A população está horrorizada e temem (confronto) que o pior possa vir acontecer.

Fonte: RG 15/O Impacto, com informações e foto de Adécio Piran.

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