Com luta e persistência, empresário dá exemplo de como vencer nos negócios

Segundo o empreendedor, infelizmente a falta de documentos das terras impossibilita muita gente de investir na região

Francisco Leitão está atuando no ramo de venda de açaí desde 1989

O empresário Francisco Leitão, que atua no ramo de venda de açaí, recebeu nossa redação para falar de sua profissão e o ramo que escolheu. Francisco Leitão é um dos vendedores de açaí mais antigos de Santarém, é de Alenquer, veio para Santarém em 1979, mas teve de trabalhar fora; em 1989 decidiu entrar para o ramo de açaí e, hoje tem uma estrutura que oferece toda confiança aos seus consumidores, com sua venda localizada na Avenida Borges Leal.

“Comecei numa situação bem lenta e hoje, graças a Deus, melhorou muito. Tenho equipamentos considerados, onde posso fazer um produto de extrema qualidade, posso dar apoio e confiança a todos meus clientes. Essa decisão de vender açaí partiu do nada. Eu nunca imaginei o momento que ia entrar nesse ramo, até porque eu não tinha conhecimento, nunca tinha trabalhado e nunca tinha visto alguém trabalhando. De repente veio a ideia que eu deveria entrar nesse ramo. Naquele tempo as máquinas de beneficiamento de açaí eram rústicas, era uma situação muito difícil porque não tinha um equipamento que oferecesse segurança. Mesmo assim eu comecei, fui trabalhando sem conhecimento, comecei a me informar daqui e dali; passei oito dias na cidade de Breves para poder me especializar melhor, pois lá o pessoal tem um certo conhecimento. Quando eu vim para Santarém já consegui trazer uma máquina mais moderna. Naquele tempo, eu imaginei que quando chegasse aqui em Santarém, com o pouco dinheiro que eu tinha, dava pra guinchar a máquina lá das Docas do Pará, colocar em cima de um transporte e trazer até aqui. Só que destino desviou e eu não consegui o recurso, eu cheguei num ponto que não sabia o que fazer nesse trajeto vindo de Belém para Santarém. Mas Deus colocou as mãos sobre a minha cabeça e clareou meu caminho. Piorou pra uns, e melhorou para mim. Chegamos em Monte Alegre e a próxima parada seria em Santarém. Veio aquela preocupação: ´Cadê o dinheiro pra pagar o guincho?`. Foi quando caiu a ficha: ´E agora, o que é que eu vou fazer`? Vinha uma pessoa do meu lado, na embarcação Rondônia, que fazia linha de Belém a Manaus, a rede dessa pessoa rasgou logo que a embarcação saiu de Monte Alegre. De repente, ele chegou comigo e perguntou se o comércio em Santarém ficava longe do porto da CDP. Botei logo uma dificuldade, e já pensei que aquilo ia dar um negócio. Eu respondi: ´É muito longe. Se você sair para comprar uma rede, quando chegar o navio já foi embora`. Aí, veio uma ideia na minha cabeça: Vou oferecer minha rede pra ele: ´Olha, eu vou ficar aqui em Santarém, não vou mas precisar de rede. Te vendo a minha`. Ele respondeu: ´Quanto é?`. Eu falei que vendia por 4 cruzeiros, ele me deu o dinheiro e eu entreguei a rede para ele. Quando eu cheguei nas Docas foi exatamente o que eu imaginei, tive de pagar pra guinchar, peguei um caminhão, botei a máquina em cima e vim embora. Resumindo a história: eu gastei 2 cruzeiros nesse trajeto das Docas até chegar aqui. Sobrou 2 cruzeiros, eu já estava inclusive com um ponto aqui para começar a atividade e coloquei a máquina na hora que eu cheguei. No outro dia, eu saí com dois cruzeiros, naquele tempo o pau de arara trazia os colonos, encostava ali na praça Rodrigues dos Santos e eu comprei 2 cruzeiros de açaí. Naquela época era coufo de açaí, um recipiente feito de palha e que ajudava a conservar o açaí. Eu comprei 2 cruzeiros de açaí e vim para cá, trabalhar; o primeiro dia não surtiu 1 real de lucro, aí veio um certo desespero porque era o único dinheiro que tinha. Mesmo assim eu aguentei, no outro dia eu comprei mais 2 cruzeiros de açaí e também não deu lucro. Eu fiquei pensando: ´E agora, o que eu vou fazer?`. No terceiro dia começou a vingar, apareceu um lucro e foi de lá que começou. Hoje esses equipamentos que eu tenho, eu consegui com um investimento de 2 cruzeiros”, disse o empresário.

CONHECIMENTO ATRAVÉS DE CURSOS: Francisco Leitão falou do crescimento de clientes e investimentos feitos na empresa: “Ao longo do tempo eu fui adquirindo conhecimento e, depois de um tempo de trabalho a gente conseguiu ver que havia pessoas que poderia dar uma força com conhecimento bem maior, na questão do preparo do açaí. Hoje eu agradeço primeiramente a Deus e à Vigilância Sanitária, pelo apoio que me deram, com esclarecimentos, de como preparar o produto. Isso me despertou, comecei a ver que realmente fazia sentido tudo aquilo que eles estavam falando. Eu considero o pessoal da Vigilância Sanitária meus parceiros, como outros também. Acatei todas as opiniões da Vigilância Sanitária, fiz cursos; também passei pelo Sebrae com outros cursos, tudo em função do açaí. Hoje eu estou com um equipamento 100% inox. Quando eu queria uma máquina tinha que ir em Belém; agora, com a oportunidade e conhecimento que adquiri, eu não preciso mais ir em Belém, eu ligo daqui e o empresário de lá prepara a máquina, tudo dentro do critério, e manda para mim”.

INVESTIMENTO QUE DEU CERTO: O empresário falou sobre a questão da manipulação para produção do precioso líquido, açaí, que é muito consumido: “Isso é uma das coisas que também agradeço ao pessoal da Vigilância Sanitária e Anvisa. Quando os funcionário da Anvisa de Belém vieram, já sabiam meu nome e o local onde funciona meu empreendimento, com fotos. Eu nem sabia. Fizeram uma simulação e, eu conversando com os técnicos, naquele tempo eu tinha um poço semi-artesiano com 48 metros de profundidade, eles questionaram a questão da água. Eu falei pra eles que eu iniciei utilizando água da Cosanpa, mas devido à situação da água ser muito precária naquele tempo, eu passei a utilizar o poço. Eu acho que até hoje a água da Cosanpa é ruim, teve dias que eu precisei trocar 3 velas do filtro, e tinham um preço muito alto. Aí veio a questão do poço, melhorou muito, com água muito boa, as velas do filtro não entupiram mais. Mesmo assim a equipe da Anvisa achou que 48 metros estava pequena. Eles falaram o local onde está meu empreendimento iria crescer, vão construir muitos prédios que terão grandes fossas, que a profundidade do meu poço seria insuficiente. Eles orientaram para que eu mandasse fazer um outro poço mais profundo. Eu fiquei com aquilo na cabeça, fiquei pensando, e naquele tempo a situação econômica já estava melhor, contratei uma empresa que fez outro poço com uma de 106 metros, pegando praticamente o último lençol lá embaixo. Hoje estou aqui, com esse poço montado, servindo não só aos nossos equipamentos, como também algumas pessoas que moram por perto, que necessitam de água e nós servimos de bom coração”.

GOVERNO DEVE FACILITAR DOCUMENTAÇÃO DE TERRAS: Ao ser questionado de onde adquire a matéria prima para fazer sua produção, Francisco Leitão informou o seguinte: “A questão da matéria-prima é um problema para nós. A gente sabe que o açaí floresce como todas outras frutas, no período chuvoso e vai amadurecer no verão. Justamente uma época muito boa, porque a fruta absorve uma concentração de açúcar muito boa, a fruta fica doce, o suco fica saboroso. Quando você pega um período chuvoso, a concentração de açúcar na fruta cai muito. Consequentemente vai chegando para o final de fevereiro e a produção vai diminuindo, como é assim em outros lugares, como Belém. Nós temos outras cidades vizinhas aqui na região, que o período é diferente, quando aqui está terminando, em Monte Alegre e Alenquer está começando. Hoje nós temos também algumas pessoas que vêm de fora e trazem suas produções. Com relação ao sabor, é uma dificuldade, porque nosso cliente fica seis meses comprando açaí de boa qualidade, com um gosto saboroso, devido à obra da natureza; depois com uns cinco meses, o cliente começa a perceber que alguma coisa está faltando, pois o gosto muda. É exatamente isso, quando você pega o açaí mesmo que seja enricado, o gosto, a cor e o rendimento é muito diferente, cai pela metade. Isso não dá para entender, porque é nativo, não precisa de adubo, não precisa mais nada. Mas, é aquilo que eu digo, são coisas que Deus preparou. Hoje, eu tenho uma produção própria que atende nossas necessidades em torno de 20 a 25%%, infelizmente nós ainda esbarramos numa situação difícil, que é a falta de condições financeiras. As terras aqui, o problema é a falta de título, documentação. Eu teria como expandir minha produção, mas esbarra no limite, que não posso ultrapassar uma certa parte da terra. Eu espero que daqui a algum tempo o governo se sensibilize e facilite a documentação das terras, que é necessário para que possamos fazer alguns investimento, adquirir empréstimos em bancos. Mas eu tenho investido na minha produção e, nós temos uma venda boa dentro de Santarém, também tem aquelas pessoas que estão em trânsito, do Nordeste, do Amazonas, Minas Gerais, até de fora do País”.

Francisco Leitão diz que sua empresa é familiar: “Eu trabalho com minha família. Iniciei o empreendimento com minha mulher e dois filhos. Hoje eu tenho um funcionário registrado, porque a condição permitiu que eu abrisse uma microempresa, que me dá o direito de ter um funcionário, aqui na Casa do Açaí, na Borges Leal com a Clementino de Assis. Nós estamos aqui nessa esquina desde 1989 e hoje eu já me considero um santareno, pelas grandes amizades que temos, pessoas maravilhosas, o povo de Santarém, nós somos uma família”, finalizou.

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

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