Tragédia – Embarcação com destino a Santarém naufraga e deixa vários mortos

“Até quando os passageiros e trabalhadores de embarcações da região amazônica estarão correndo risco de vida, largados à própria sorte, sem qualquer tipo de fiscalização por parte das autoridades competentes”, diz indignado João Rodrigues, sobre o trágico naufrágio, que ceifou vida de um familiar.

No último boletim divulgado pelo Governo do Amapá, após o sexto dia de buscas por desaparecidos, consta a informação de 32 corpos encontrados e 49 sobreviventes. Como não há uma lista oficial de passageiros, o Governo do Amapá decidiu não divulgar o números de possíveis de desaparecidos.

A embarcação Anna Karoline III, saiu por volta das 18h de sexta-feira (28/02) de Santana (AP), com destino a Santarém. São 36 horas de viagem entre as duas cidades. A previsão de chegada em Santarém era às 6h de domingo (1º).

Porém, a viagem foi interrompida na madrugada de sábado, por volta de 5h, próximo à Ilha de Aruãs e à Reserva Extrativista Rio Cajari, no Rio Jari. A região fica cerca de 130 km de Macapá, em um local de difícil acesso e comunicação.

De acordo com relatos de sobreviventes, chovia e ventava forte na hora do naufrágio. A empresa não tem autorização para operar na rota Santana-Santarém, informou a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

A Polícia Civil do Amapá instaurou inquérito com objetivo de apurar criminalmente o caso e buscar identificar se a embarcação estava com excesso de carga. A prefeitura de Macapá decretou situação de emergência para ajudar familiares de vítimas e sobreviventes, com envio de água mineral, medicamentos, alimentação, roupas, material de higiene pessoal, combustível, e ainda disponibilizando auxílio-funeral. Na quarta-feira, o Congresso Nacional criou comissão externa para apurar as responsabilidades do naufrágio.

Até a publicação desta matéria, o trabalho de resgate das vítimas tinha recebido auxílio de 4 mergulhadores especializados em águas profundas, vindo do Amazonas. Ao todo, 27 mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amapá, Pará e Amazonas, além de embarcações da Marinha e voluntários da comunidade auxiliavam no trabalho.

IÇAMENTO DA EMBARCAÇÃO: Apesar de se estipular um número de desaparecidos, com base em informações de familiares, não se sabe ao certo, realmente o número de passageiros que viajavam, pois não havia uma lista por parte do comandante e do empresário responsável pela embarcação. Como o navio possuía um compartimento com janelas de vidro, corpos estariam no local.

Na quarta-feira, familiares dos desaparecidos cobraram das autoridades, para que seja realizado com urgência o içamento da embarcação. No mesmo dia, o governo do Amapá lançou um aviso de cotação eletrônica emergencial, por meio da Central de Licitações e Contratos (CLC) da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), para contratar uma empresa para retirar do fundo do rio o navio Anna Karoline III. A contratação é feita pelo governo a partir da situação de emergência decretada no Amapá na terça-feira (3). Assinado pelo governador Waldez Góes, o decreto permite o uso emergencial de recursos para realizar ações relacionadas ao naufrágio. O processo será encaminhado ao Corpo de Bombeiros, responsável técnico do procedimento. Para participar do certame, as empresas interessadas precisam fazer um cadastro no portal de compras do Estado.

POLÍCIA FLUVIAL DO PARÁ PRENDE HOMEM QUE VENDIA COMBUSTÍVEL PARA NAVIO NAUFRAGADO

Na tarde de terça-feira (3), o Grupamento Fluvial (GFLu), vinculado à Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), que presta apoio às ações de resgate no naufrágio do navio Anna Karoline III, prendeu um homem – Manoel do Carmo dos Reis -, que confessou ter comercializado combustível clandestino para a embarcação em ocasiões anteriores ao acidente. Policiais civis do Gflu e da Delegacia Fluvial chegaram ao acusado após ouvirem depoimentos de vítimas, relatando terem visto uma embarcação denominada “Albatroz” atracada ao navio Ana Karoline III fazendo transbordo ilegal de combustível. A atividade, aliada ao mau tempo, teria ocasionado o naufrágio.

Os agentes do sistema de segurança do Pará foram à casa de Manoel do Carmo dos Reis, conhecido por “Tá Legal”, onde encontraram o barco pertencente ao acusado atracado em frente à residência, localizada na localidade Santa Maria, no município de Gurupá, na margem oposta do rio onde ocorreu o naufrágio.

“Nós chegamos até a casa do indivíduo, que confessou vender combustível e mostrou aos policiais o porão do barco, onde foram encontrados três tambores de 200 litros, totalizando 600 litros de diesel, além de uma motobomba usada para abastecimento. Verificou-se, também, que o barco estava com resíduos de óleo diesel derramado pelo porão. No local, Manoel disse que vende combustível em seu barco adquirido das embarcações que passam pela região, e que já teria vendido combustível, várias vezes, para o navio Ana Karoline III. Porém, ele afirmou que no último sábado não estava vendendo combustível ao referido navio, e que teria ido buscar mercadoria. Ainda segundo ele, como o mesmo afundou na hora da atracação, nem chegou a pegar a mercadoria que foi buscar porque o navio foi a pique”, informou o diretor do Grupamento Fluvial, delegado Arthur Braga, integrante da força-tarefa que trabalha no local do acidente.

Em depoimento, acrescentou o delegado, Manoel disse ainda que prestou socorro às vítimas, pois estava ao lado no momento do acidente, e que o combustível comercializado não tem nota fiscal porque foi desviado de embarcações que navegam pela região.

A atuação integrada dos órgãos de segurança do Pará, por meio do Grupamento Fluvial (GFlu), Grupamento Aéreo de Segurança Pública do Pará (Graesp), Delegacia Fluvial, Companhia Fluvial e Grupamento Marítimo Fluvial, além do apoio de policiais militares do município de Afuá (no Arquipélago do Marajó) e de bombeiros militares de Santarém, totalizando 35 agentes, começou logo no dia seguinte ao naufrágio.

A equipe está ouvindo relatos das vítimas, apoiando mergulhadores e a comunidade, e participando de buscas e investigações.

MPF ABRE PROCEDIMENTO CRIMINAL PARA APURAR CIRCUNSTÂNCIAS DE NAUFRÁGIO NO SUL DO AMAPÁ

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou procedimento de investigação criminal para apurar as circunstâncias do naufrágio do navio Anna Karoline III. O órgão visa a identificar possível prática de infrações penais, em razão de eventual descumprimento de normas básicas de segurança aquaviária, como sobrecarga e irregularidades quanto ao número e à alocação de coletes salva-vidas na embarcação. Informações sobre a documentação do navio e de seus responsáveis foram requisitadas à Capitania dos Portos, à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e à empresa de navegação proprietária da embarcação. Compete ao MPF investigar o evento, uma vez que ocorreu em rio de domínio da União, entre os estados do Amapá e Pará. Além de apurar as circunstâncias do naufrágio, que podem indicar a ocorrência de infrações penais, o órgão vai investigar provável atentado contra a segurança do transporte fluvial.

O órgão ministerial também requisitou à Capitania dos Portos e ao Corpo de Bombeiros do Amapá informações sobre os protocolos mínimos necessários para o içamento do navio Anna Karoline III do fundo do Rio Amazonas. O órgão também quer detalhes sobre a responsabilidade pela providência, a infraestrutura necessária e o prazo para que ocorra. O documento, que integra o procedimento investigatório criminal, instaurado na última segunda-feira (2), foi encaminhado às autoridades na quarta-feira (4). Foi fixado prazo de 48 horas para respostas.

A atuação decorre de reunião realizada com familiares das vítimas que ainda estão desaparecidas. No encontro com membros do MPF, na manhã de quarta-feira, eles relataram que ainda há corpos no interior da embarcação e indicaram dificuldades de diversas naturezas para o resgate. Enfatizaram que o içamento do navio possibilitaria a retirada dos corpos e a identificação das vítimas.

Matéria atualizada às 8h20 de sábado(7), para atualização do número de corpos encontrados e acréscimo de informações.

RG 15 / O Impacto

 

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