Artigo – A Imprensa livre será o bode expiatório da “interferência eleitoral” na nova política do YouTube

Por Oswaldo Bezerra

Eleições para este ano vão sendo confirmadas em todo o mundo. O relaxamento dos confinamentos favorece isso. Devido ao fenômeno mundial das fraudes eleitorais das últimas eleições, com disparos ilegais via whatsapp, vídeos fraudulentos no youtube que disseminavam notícias falsas as plataformas reagiram.

Empresas especializadas em fraudes eleitorais criaram suas bases nas redes sociais. Isto acabou por provocar reação destas plataformas. O que muitos reclamam é que a reação destruirá mais que salvará. Confira a última jogada em nome da sinalização de virtude do YouTube.

A maior plataforma de vídeo do mundo, com 2 bilhões de usuários por mês, proibirá vídeos que contenham informações obtidas por meio de hackers, e que possam interferir em eleições ou censos. Isso incluiria materiais como e-mails de campanha hackeados com detalhes sobre um candidato.

A atualização segue o anúncio de uma regra semelhante que o Google, dono do YouTube, revelou no início deste mês, proibindo anúncios que contenham informações hackeadas. O Google começará imediatamente a aplicar essa política.

O absurdo é que sabemos que se uma notícia de algum tipo de hack é quente, tudo o que importa é que seja é verdade ou não, não muda a percepção do público. O YouTube está focado nessas “percepções” e mudou sua política para garantir que não haja mudança de percepções.

É uma ideia de pouca inteligência porque sabemos do que se trata. Os democratas perderam as últimas eleições para presidente devido aos e-mails hackeados de John Podesta e Hillary Clinton em 2016. Os democratas, amargurados com a derrota de Hillary Clinton, nunca perdoaram os russos. Por isso essa mudança no YouTube acomoda apenas uma lógica desconexa, que é apenas uma declaração política partidária.

É um movimento inútil, porque os hackers vão hackear e, se tiverem algo interessante, as pessoas receberão essas notícias de outro lugar além do YouTube. QAnon já é um exemplo de pessoas que obtêm notícias e informações longe dos filtros tradicionais.

QAnon é uma teoria que se espalha rapidamente por grupos fanáticos, que afirmam que Donald Trump é o salvador do mundo, uma espécie de Jesus Cristo. O YouTube não mudará nada desta conspiração com esta política de censura.

O que talvez seja mais áspero nisso tudo é o golpe contra a imprensa livre. Em primeiro lugar, repórteres relatam coisas o tempo todo que são hackeadas. O YouTube está dizendo que apenas os grandes jornais poderão usar informações hackeadas. Para o YouTube haverá mídia favorita.

Em segundo lugar, quantas vezes os políticos alegaram, após notícias escandalosas, que suas contas foram hackeadas? O ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro foi um deste tipo que alegou, depois da notícia que ele estava tramando com procuradores a criminalização de Lula. Ele alegou que foi um hack.

Com esta nova política do YouTube, qualquer investigação terá uma licença para encobrir tudo, é só alegar que foi um hacker. Chame isso de garantia de proteção do YouTube para políticos, e juízes corruptos .

Os políticos sempre reclamaram de vazamentos, assim como sempre reclamaram de hacks. Mas, entre esses hacks e vazamentos há também a categoria de denunciante, a pessoa que denuncia irregularidades contra um estabelecimento que faz algo contrário ao interesse público ou à sua missão.

A coisa toda foi mal pensada e claramente fruto de coordenação com os democratas dos EUA, mas que afetará o mundo todo. Para a comunidade hacker profissional é sugerindo que agora eles têm algo a esconder.

É profundamente antidemocrático o movimento para “salvar” a democracia das maquinações dos hackers. Vem à custa de perder o melhor que temo da democracia, a liberdade. Não se salva a democracia destruindo uma imprensa livre.

RG 15 / O Impacto

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